Nara Lacerda
Em mais de 100 anos, prêmio só foi entregue a mulheres em 18 ocasiões; Han Kang é a primeira coreana a ganhar
O Prêmio Nobel de Literatura de 2024 foi concedido à escritora coreana Han Kang, de 53 anos. A autora iniciou a carreira na década de 1990, quando publicou seu primeiro livro de contos. De lá para cá, ficou reconhecida mundialmente e recebeu diversos prêmios.
Na justificativa para a escolha de Han, o comitê da premiação destacou a “prosa poética intensa que confronta traumas históricos e expõe a fragilidade da vida humana”, no trabalho da escritora.
A premiação expõe uma contradição histórica do Nobel. Embora exista desde 1901, o reconhecimento na literatura só foi concedido a mulheres 18 vezes na história. Entre as 120 pessoas já laureadas, 103 eram homens.
Han Kang alcançou reconhecimento internacional com o livro A Vegetariana, lançado em 2007. A obra foi vencedora do prêmio Man Booker International em 2016, após ser traduzida para o inglês. No mesmo ano, entrou para a lista de melhores livros da revista Time.
A obra conta a história de uma mulher que decide parar de consumir carne após uma série de pesadelos sobre o processo de abate animal. A mudança radical leva a consequências sociais e mentais profundas para a personagem e para o entorno dela.
“Este romance trata da violência humana e da (im)possibilidade de recusá-la. Yeong-hye recusa desesperadamente carne para rejeitar a brutalidade humana de si mesma”, afirmou a autora em uma entrevista no ano de 2016 para o site internacional Literary Hub.
Trajetória
Han Kang nasceu em Gwangju, cidade milenar da península coreana, que se tornou uma importante zona industrial a partir da década de 1960. Palco de protestos populares históricos, Gwangju foi o centro de manifestações contra a ditadura militar na década de 1980, alvos de repressão violenta.
Os ataques do exército e da polícia contra a população que se manifestava fazem parte do imaginário coreano até hoje. Dezenas de pessoas morreram e centenas ficaram feridas no que ficou conhecido como o Massacre de Gwangju.
Além de ser originária de uma região muito significativa politicamente para a história do país, Hang Kang cresceu em uma família conectada às letras e à arte. Filha do também premiado escritor Han Seung-won, ela iniciou a carreira por volta dos vinte anos com a publicação de poemas e contos.
Em 1994, ela ganhou o Concurso Literário da Primavera de Seoul Shinmun, com a obra A âncora escarlate. No ano seguinte, lançou seu primeiro livro, o compilado de contos Yeosu.
Atualmente, a autora leciona escrita criativa na Universidade de Seul, segue com os trabalhos literários e atua nas artes visuais. Ela é a primeira escritora coreana a ser reconhecida pelo Nobel.
Fonte: Brasil de Fato / Hang Kang também atua na área de artes visuais e leciona em uma das maiores universidades coreanas – © Divulgação da autora