Primeira redução da taxa Selic em três anos é vista como consenso, mas intensidade do corte gera divergência no mercado financeiro
Estacionada desde agosto de 2022 no maior patamar em seis anos, a taxa básica de juros da economia brasileira deve iniciar uma trajetória de queda a partir desta quarta-feira (2). De acordo com expectativas do mercado financeiro, o segundo dia de encontro dos diretores do BC (Banco Central) vai resultar no primeiro corte da taxa Selic em três anos.
Ainda que o Boletim Focus, responsável por compilar a mediana da previsão dos principais agentes financeiros do Brasil, aponte para a redução de 0,25 ponto percentual dos juros básicos, a aposta não é uma unanimidade. Projeções de que a Selic pode cair 0,5 ponto percentual viraram mais frequentes à medida que a inflação perde força.
Antes de anunciar o veredito, após as 18h, o Copom (Comitê de Política Monetária) projeta as possibilidades futuras da economia. O movimento ocorre após o grupo formado pelo presidente do BC, Roberto Oliveira Campos, e pelos oito diretores da autoridade monetária avaliar a evolução e as perspectivas da economia e o comportamento do mercado financeiro.
No último encontro, quando decidiu manter a Selic em 13,75% ao ano pela sétima vez consecutiva, o Copom admitiu, pela primeira vez, a possibilidade de reduzir a taxa básica de juros. “A continuação do processo deflacionário em curso, com consequente impacto sobre as expectativas, pode permitir acumular a confiança necessária para iniciar um processo parcimonioso de inflexão na próxima reunião”, destaca o documento.
Após a primeira baixa ser confirmada, os analistas preveem novos três novos recuos de 0,5 ponto percentual dos juros básicos nos meses de setembro, novembro e dezembro, movimento que, se confirmado, levará a Selic a 12% ao ano na entrada de 2024. Conforme as projeções, a trajetória de baixas deve persistir em 2024 (9,25% ao ano), 2025 (8,75% ao ano) e 2026 (8,5% ao ano).
A trajetória que levou a taxa básica de juros ao maior patamar dos últimos seis anos para segurar o avanço da inflação começou em março de 2021, quando a Selic figurava em 2% ao ano, o menor nível da história. Desde então, a taxa disparou 11,75 pontos percentuais e figura nos atuais 13,75% ao ano desde agosto do ano passado.
A manutenção da taxa básica no maior nível desde 2017 se tornou alvo de críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, da equipe econômica e de membros do setor produtivo. Eles avaliam o atual nível dos juros como um entrave para o desenvolvimento econômico. Agora, eles cobram um corte da taxa Selic mais efetivo, de pelo menos 0,5 ponto percentual, nesta quarta-feira.
Juros básicos
A taxa Selic é a mais baixa da economia e funciona como forma de piso para os demais juros cobrados no mercado. Ela é usada nos empréstimos entre bancos e nas aplicações que as instituições financeiras fazem em títulos públicos federais.
Em linhas gerais, é a taxa Selic que os bancos pagam para pegar dinheiro no mercado e repassá-lo a empresas ou consumidores em forma de empréstimo ou financiamento. Por esse motivo, os juros que os bancos cobram dos consumidores são sempre superiores à Selic.
A taxa básica também serve como o principal instrumento do BC para manter a inflação sob controle, perto da meta estabelecida pelo governo. Isso acontece porque os juros mais altos encarecem o crédito, reduzem a disposição para consumir e estimulam alternativas de investimento.
Quando o Copom aumenta a Selic, o objetivo é conter a demanda aquecida, e isso causa reflexos nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Já quando o Copom reduz os juros básicos, a tendência é que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo.
Fonte: R7