por Ana Livia Esteves – Sexta, 16 de junho de 2023
A presença de empresários e autoridades brasileiras no Fórum de São Petersburgo ficou aquém da de países como China, Índia e África do Sul. Para uma membra da delegação jovem do Brasil, o país pode ficar para trás se não prestar atenção à importância do BRICS, da formação do mundo multipolar e da desdolarização.
Nesta semana, a Rússia realiza um dos principais acontecimentos de seu calendário anual de eventos: o Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo (SPIEF, na sigla em inglês).
Entre os dias 14 e 17 de junho, a capital do norte russo recebe cerca de 130 autoridades, 1.700 empresários e representantes da sociedade civil de cerca de 33 países, como China, Índia, EUA, Reino Unido, Turquia, Cazaquistão e Egito.
A Sputnik Brasil conversou com membros da delegação brasileira do projeto Friends For Leadership, que reúne jovens de todo o mundo de forma permanente para promover projetos econômicos, culturais e humanitários de forma multilateral.
“Estamos com a maior delegação brasileira da história do Friends For Leadership, com seis delegados”, relatou o cofundador e vice-presidente da Organização Russo-Brasileira de Jovens Compatriotas e doutorando em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Boris Zabolotsky, à Sputnik Brasil.
Além do Brasil, países como África do Sul, Chile, China, Filipinas, Índia, Nepal, Quênia, Zimbábue, entre outros, estão representados no projeto Friends for Leadership.
Segundo Zabolotsky, a delegação brasileira teve agenda intensa de seminários e reuniões com autoridades russas, como o chefe da Agência Federal de Assuntos da Comunidade dos Estados Independentes, de Compatriotas no Exterior e Cooperação Internacional Humanitária da Rússia (Rossotrudnichestvo), Yevgeny Primakov, e a porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Maria Zakharova.
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“Ao mesmo tempo que o Friends For Leadership visa apresentar a posição russa sobre os acontecimentos atuais e suas relações com a América Latina, nós [membros da delegação] queremos chamar atenção dos russos para o Brasil, que ainda é visto como um país distante“, notou Zabolotsky.
Durante sua participação no fórum, Zabolotsky apresentou o projeto Jornada pela Língua Russa, que coordena em parceria com o Rossotrudnichestvo e a Organização dos Jovens Compatriotas no Brasil. O projeto fornece curso de língua russa gratuito com professores nativos para jovens brasileiros durante três meses.
© Foto / Boris Zabolotsky
“A cada ano que realizamos a Jornada, vemos um aumento no número de inscritos: se, no começo, tínhamos somente 626 alunos, agora já estamos com 1.860. Além disso, mantemos 50% das vagas destinadas para alunos de baixa renda, que não teriam como financiar um curso de russo tradicional”, comemorou Zabolotsky. “O curso empodera jovens de baixa renda, garantindo acesso a um idioma que dá um bom diferencial no currículo.”
Outro projeto apesentado pela delegação foi o do Clube de Negócios Brasil-Rússia, encabeçado pela brasileira Vera Gers Dmitrov, presidente do Conselho de Compatriotas Russos no Brasil.
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“O Clube de Negócios é uma iniciativa voltada para que a juventude, startups e pequenas empresas que não têm como pagar o acesso às Câmaras de Comércio possam acessar espaços de negócios gratuitamente”, disse Dmitrov. “O Clube cria um espaço seguro para prospectar parceiros comerciais e selar novos negócios.”
O clube está em operação há três anos e conta com o apoio do Ministério da Agricultura e do Ministério da Indústria e Comércio da Rússia.
“Queremos expandir a iniciativa para transformar o Clube de Negócios em um hub para iniciativas ligadas aos países do BRICS”, disse Dmitrov.
© Foto / Boris Zabolotsky
Dmitrov, que também é sócia do escritório de advocacia Sapucaia & Gers, relata um aumento significativo de empresas russas procurando oportunidades de negócios no Brasil.
“O interesse russo no Brasil aumentou drasticamente em função das sanções”, revelou Dmitrov. “O Clube de Negócios está crescendo muito, e fornecendo palestras formativas para empresas russas que querem acessar o nosso mercado.”
Apesar do aumento do interesse russo, Dmitrov lamentou a baixa participação de empresários brasileiros no fórum em São Petersburgo. Segundo ela, países como a África do Sul, Índia, China, Emirados Árabes Unidos e Egito estão melhor representados no fórum, acessando inclusive serviços de bancos de investimentos presentes no evento.
“O Brasil precisa olhar com mais atenção para os mercados do BRICS, que tem uma magnitude e volume de negócios que não é de se jogar fora. Em um contexto de transição para o mundo multipolar e de desdolarização, o Brasil corre o risco de ficar para trás”, concluiu Dmitrov.
Fonte: Sputniknews