Brasil e México têm futuro no setor automotivo? Especialistas respondem

Bahia Brasil economia

Sexta, 11 de outubro de 2024

O México é o principal fabricante de automóveis da América Latina, mas destina cerca de 80% de sua produção a um único mercado: os Estados Unidos. Os especialistas concordam que o México deveria diversificar o seu mercado e o Brasil parece ser uma opção lógica.

No início de outubro, a pretexto da posse da presidente mexicana Claudia Sheinbaum, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e empresários visitaram o México e um dos principais temas abordados pelos empresários sul-americanos foi uma possível aliança com o setor automotivo mexicano.

Ao participarem do Fórum Empresarial México-Brasil, realizado no dia 1º de outubro na Cidade do México, representantes das indústrias automotivas e de autopeças do México e do Brasil concordaram que ambas as nações, que são os principais representantes desses setores na região, poderiam alcançar maior intercâmbio que poderia beneficiar ambos os países.

“O setor automobilístico representa um componente significativo da relação econômica entre o México e o Brasil, duas das maiores economias da América Latina. Ambos os países têm indústrias automotivas bem estabelecidas e o intercâmbio entre eles tem sido moldado por uma combinação de acordos comerciais, economia políticas e demandas do mercado“, disse Marcelo Frateschi, o atual líder do setor automotivo na Ernst & Young, Brasil, em entrevista à Sputnik.

Atualmente, o intercâmbio entre os setores automotivos do México e do Brasil é influenciado pelo Acordo de Complementação Econômica nº 55 (ACE 55), que foi assinado em 2002. Este acordo permite a redução recíproca de tarifas/impostos sobre automóveis e autopeças, para promover o comércio e a integração econômica entre os dois países.

EUA: os maiores parceiros do México

Atualmente o comércio em matéria automotiva entre as duas potências latino-americanas não é tão substancial, já que, segundo dados do Ministério da Economia, as vendas internacionais de veículos do México estão concentradas nos Estados Unidos, com US$ 129,68 bilhões (cerca de R$ 725,7 bilhões) em 2023; enquanto no caso do Brasil o valor chega a US$ 1,7 bilhão (aproximadamente R$ 9,5 bilhões), o que representou apenas 1,09% das exportações de automóveis fabricados em território mexicano.

Por outro lado, segundo números do ministério, no ano passado, o México investiu US$ 2,4 bilhões (mais de R$ 13,4 bilhões) na compra de veículos fabricados pelo Brasil, o que representou 4% das suas importações, onde os Estados Unidos também dominam com compras de US$ 24,5 bilhões (cerca de R$ 137,2 bilhões), o que significa 40,7%; ou seja, tanto as exportações como as importações mexicanas de veículos são dominadas pelo seu vizinho do norte.

“A produção de veículos fabricados no México já é praticamente vendida em mais de 80% para um único cliente, com esse número você pode dizer ‘que maravilha’ e seria melhor se sentar e ‘coçar a barriga’, mas é justamente o que o México não deveria fazer, pelo contrário, deve diversificar seu mercado para outros países e fortalecer sua presença na América Latina“, disse César Roy Ocotla Gutiérrez, jornalista e analista do setor automotivo nacional há mais de 40 anos, em entrevista à Sputnik.

Mercado fechado e concorrência

No entanto, embora os empresários dos dois países estivessem entusiasmados com um maior intercâmbio comercial entre o Brasil e o México, os especialistas concordam que uma maior integração entre as indústrias automotivas das duas potências latino-americanas tem seus desafios.

Um dos principais é que o setor automotivo brasileiro está muito focado no mercado interno e nos mercados regionais. “A indústria automobilística brasileira está mais voltada para o mercado nacional e para o Mercosul e exporta uma parcela menor de sua produção”, explica Frateschi.

Mas o analista mexicano Roy vai mais longe e considera que o Brasil é na verdade protecionista nesse mercado e ainda sustenta que o país sul-americano teria intenções de exportar para os Estados Unidos tanto quanto o México faz atualmente.

Áreas de oportunidade

Apesar das dificuldades acima mencionadas, o México e o Brasil continuam tendo um potencial significativo para aumentar o seu intercâmbio comercial em veículos e autopeças para fortalecer esta relevante indústria na região latino-americana.

“Há potencial para aumentar o comércio entre o México e o Brasil no setor automotivo, tornando a América Latina uma região mais representativa mundial no setor automotivo”, afirma Marcelo Frateschi.

O especialista brasileiro explica que para conseguir uma maior integração em matéria automotiva, os dois países poderiam explorar diversos caminhos, como trabalhar na diversificação da gama de veículos e peças que comercializam, focando nos pontos fortes de cada indústria; investimentos colaborativos em pesquisa e desenvolvimento que possam levar à criação de novas tecnologias automotivas que atendam às necessidades de ambos os mercados.

Da mesma forma, acrescenta o especialista, poderiam apostar na integração da cadeia de abastecimento através de joint ventures ou associações entre empresas automotivas dos dois países; da mesma forma, a implementação de medidas para simplificar os procedimentos aduaneiros e reduzir as barreiras logísticas poderia melhorar o fluxo de produtos automotivos entre os dois países, acrescenta Frateschi.

O analista mexicano, por sua vez, considera que as indústrias automotivas do México e do Brasil poderiam se tornar mais integradas graças aos diferentes veículos que cada uma produz. Roy explica que o Brasil é especialista em carros baratos, enquanto o México se especializou na fabricação de veículos muito mais equipados, que poderiam ser enviados ao mercado brasileiro.

“O Brasil é especialista em carros baratos e de baixo custo […] e o México fabrica veículos com maior valor agregado, podemos oferecer isso ao Brasil“, finaliza César Roy.

© Foto / José Paulo Lacerda


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