“Cada frame é um quadro”: Brasileiro Adolpho Veloso e a corrida ao Oscar com filme ‘Sonhos de Trem’

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O brasileiro Adolpho Veloso, diretor de fotografia de “Sonhos de Trem” (Netflix), está entre os favoritos à categoria de Melhor Fotografia no Oscar. O filme, dirigido por Clint Bentley e inspirado na novela de Denis Johnson, recebeu atenção da crítica internacional, incluindo a shortlist do Critics’ Choice Awards, promovida pela principal associação de críticos dos Estados Unidos. Veloso, nascido em São Paulo e residente em Portugal, participou do lançamento do longa em Hollywood e das campanhas de premiação.

O profissional destacou, em entrevista à RFI, o impacto inesperado do reconhecimento.

“É muito louco. Você nunca imagina, quando está filmando, que isso vai acontecer. Não é uma coisa que faz muito sentido, ao mesmo tempo, é tão surreal que eu prefiro nem pensar tanto. É um ano extremamente difícil, com muito filme bom”, afirmou.

Veloso relatou também as dificuldades do processo criativo:

“A primeira vez que assisti esse filme no cinema, pensei: ‘Meu Deus, isso está horrível, nunca mais vou conseguir trabalho’. E ver essa reação agora, que é o completo oposto, dá forças para seguir”.

Memórias e naturalismo em “Sonhos de Trem”

O longa acompanha Robert Grainier (Joel Edgerton), um lenhador do início do século XX, que passa longos períodos longe da família. A narrativa prioriza recordações, sensações e silêncios, construídas de forma consciente entre diretor e diretor de fotografia. Veloso explica: “Queríamos que parecesse que você estivesse vendo as memórias de alguém, quase como se encontrasse uma caixa com fotos antigas e tentasse entender a vida daquela pessoa”.

Filmado inteiramente no estado de Washington em 29 dias, o projeto exigiu gravações em florestas, vales e cenários naturais extremos, tornando a natureza quase uma personagem. A produção utilizou apenas luz natural e câmeras orgânicas, reforçando a sensação de realismo e conexão com o espectador.

Veloso identificou-se com a história de Grainier:

“Essa vida é basicamente a minha. Esse cara que fica meses longe de casa… é assim para quem faz cinema. Voltar para casa sempre é estranho. Tem questões de perda, imigração, de ser estrangeiro numa terra diferente, e isso tem consequências”.

A trajetória brasileira em Hollywood

O caminho de Veloso até Hollywood ocorreu de forma gradual. Ele iniciou sua carreira no Brasil, trabalhando com Heitor Dhalia, e assinou filmes e documentários, incluindo “On Yoga”, que chamou a atenção de Clint Bentley. Ao buscar alguém que transitasse entre ficção e documentário para “Jockey” (2021), Bentley encontrou Veloso por e-mail. Anos depois, a dupla produziu “Sonhos de Trem”, disponível na Netflix e com possíveis indicações a Melhor Filme, Melhor Ator e Melhor Roteiro Adaptado.

Veloso ressalta que leva elementos do Brasil para seu trabalho, especialmente criatividade diante de obstáculos e flexibilidade em sets de filmagem americanos.

Ele explica: “Aqui tudo é muito engessado. Às vezes você tem uma ideia e já ouve um não. No Brasil, a gente encontra soluções criativas e funciona”.

Reconhecimento internacional e perspectivas

A fotografia de Veloso chamou atenção espontânea da crítica internacional, mesmo sem saber que era brasileiro. O reconhecimento posiciona o profissional como um dos nomes relevantes na corrida por prêmios cinematográficos internacionais e reforça a presença do talento brasileiro em produções de grande visibilidade.

*Com informações da RFI.

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