Presidente do BC, Campos Neto, ainda disse que Argentina errou ao mudar o sistema de metas de inflação e em não fazer o ajuste fiscal
O presidente do Banco Central (BC) do Brasil, Roberto Campos Neto, disse nesta terça-feira (15/8) que o primeiro erro da Argentina que levou o país vizinho à situação econômica atual foi desrespeitar a autonomia de sua instituição monetária. Campos Neto disse que é possível aprender “várias coisas” com a experiência argentina.
“A gente consegue ver claramente a sequência de erros que a Argentina cometeu. O primeiro erro foi desrespeitar a autonomia do Banco Central. Então, o Banco Central foi perdendo autonomia”, iniciou Campos Neto. Ele falou em almoço promovido pela Frente Parlamentar Mista do Empreendedorismo (FPE) e representantes do Instituto Unidos Brasil (IUB), em Brasília.
“O segundo erro foi desrespeitar o sistema de metas”, continuou ele, citando mudança no sistema de metas de inflação. Em seguida, o presidente do BC brasileiro citou a lentidão do processo de ajuste fiscal no país vizinho.
A inflação na Argentina está rodando em torno de 140% a 150% e a taxa básica de juros foi elevada para 118% ao ano na segunda-feira (14/8), após as primárias.
Campos Neto resumiu:
“Acho que a gente aprende sobre autonomia do Banco Central, a gente aprende sobre a importância do sistema de metas. E um outro tema que a gente pode aprender com a Argentina foi o ajuste fiscal, que foi muito lento. Eles prometeram ajuste fiscal e no final não teve ajuste fiscal. Você ficou com uma situação fiscal que acabou, junto com uma percepção de falta de autonomia do Banco Central e percepção de falta de regramento monetário, gerou uma inflação em espiral”.
No Brasil, a lei de autonomia do Banco Central entrou em vigor em 2021. Nomeado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Campos Neto é o primeiro presidente da instituição não indicado pelo presidente da República de turno e tem sido alvo de críticas do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e outras autoridades, pela atuação no BC.
Eleições na Argentina
O presidente da autoridade monetária brasileira ainda teceu comentários sobre o processo eleitoral em curso na Argentina e comentou algumas das propostas para a economia apresentadas.
O candidato da extrema direita Javier Milei, de 52 anos, lidera as pesquisas das Primárias Abertas Simultâneas e Obrigatórias (Paso) da Argentina, que foram realizadas no último domingo (13/8) e indicam os representantes que vão concorrer no primeiro turno da eleição presidencial, no dia 22 de outubro.
“Acho que o candidato que acabou se saindo melhor ele realmente atendeu esse apelo das pessoas de: ‘Olha, vamos cuidar da inflação’. Uma das razões pelas quais o candidato foi melhor é porque foi o único candidato que batia muito na mensagem da inflação”, analisou Campos Neto. Ele adicionou que o povo argentino “não aguenta mais” o tema da inflação, que está muito descontrolada.
Sobre a proposta de dolarização da moeda argentina (isto é, tornar o dólar a moeda oficial, abolindo o peso argentino), ele ponderou: “Eu vejo as promessas e eu acho que obviamente pode ser uma saída viável, mas ela é de difícil implementação na situação atual”.
Fonte: Metrópoles