Defesa e acusação vêem o resultado como reforço de suas teses. Promotoria vai pedir a prisão de empresário
BUENOS AIRES — O estudo toxicológico divulgado na noite de 3ª feira (9.mai) aponta que a esteticista brasileira Emmily Rodrigues Santos Gomes, de 26 anos, consumiu diversas drogas antes de cair do 6º andar do apartamento do empresário argentino Francisco Sáenz Valiente, 52 anos, em 30 de março.
O estudo do Laboratório de Toxicologia e Química Legal do Corpo Médico Forense da Argentina confirma que Emmily consumiu diversos tipos de drogas como álcool, maconha, cocaína, MDMA (metilenodioximetanfetamina, um dos componentes do ecstasy e da cocaína rosa) e o anestésico geral quetamina. O resultado vai de encontro as declarações das testemunhas, de que a vítima foi drogada, como acreditam os pais e as amigas da brasileira.
“O resultado toxicológico confirma a nossa versão, a de que Emmily consumiu muita cocaína e cocaína rosa. Era uma moça que gostava de drogas”, indica ao SBT News Rafael Cúneo Libarona, advogado do empresário argentino Sáenz Valiente.
Do outro lado da interpretação, em entrevista ao SBT News, o advogado da família de Emmily, Ignacio Trimarco, entende que o exame compromete o acusado como fornecedor de drogas. Na Argentina, o consumo pessoal de drogas não é delito, mas o fornecimento a terceiros, sim.
“Esse resultado confirma a acusação da Promotoria quanto ao fornecimento de drogas. Todas as testemunhas dizem que ninguém levou drogas ao apartamento, que Emmily só havia levado meio cigarro de maconha e que quem forneceu as drogas foi o indiciado Francisco Sáenz Valiente. Portanto, acusação de fornecimento ilegal de drogas fica comprovado”, acusa Ignacio Trimarco.
Por sua vez, os exames realizados no empresário revelaram que o acusado só consumiu cocaína. Para Ignacio Trimarco, essa diferença indica que o empresário era consciente dos efeitos das drogas que oferecia às quatro meninas presentes no apartamento: a cubana Dafne Santana, quem se retirou do apartamento às 6 da manhã; a argentina Lía Alves, quem se retirou às 8 da manhã; e a médica brasileira Juliana Magalhães Mourão, única testemunha da morte de Emmily às 9 horas e 18 minutos, do dia 30 de março.
“Francisco Sáenz Valiente fornecia uma droga (cocaína rosa) que ele não consumia. Ele conhecia os efeitos das drogas e fornecia para as meninas que foram à casa dele. Por isso, não a consumiu”, suspeita Trimarco.
O advogado do empresário rebate a versão da acusação.
“No exame dele não aparece cocaína rosa, porque ele não gosta de cocaína rosa. Isso não confirma nada, porque as testemunhas disseram que cada uma tinha a sua droga e que Francisco Sáenz Valiente tinha a droga dele para consumo pessoal. As testemunhas dizem que Emmily consumia de tudo o tempo todo”, ressalta Rafael Cúneo Libarona.
Emmily se drogou ou foi drogada?
O acusado e as testemunhas disseram que as drogas estavam numa mesa de centro na sala, que ninguém ofereceu nada, e que cada um se servia à vontade.
“Esse argumento da defesa não tem nenhuma validez. Ao expor as drogas, ele já está oferecendo. Eu te recebo na minha casa com um prato de doces. O que isso significa? Um convidado pode até recusar, mas isso exime quem oferece de culpa”, afirma Ignacio Trimarco.
De acordo com o exame de sangue, Emmily Gomes tinha “um grama de álcool no sangue e rastros de metilecgonidina (cocaína)”. O exame de bilis apontou cocaína e quetamina. O exame de urina, maconha, cocaína, MDMA e quetamina. Nas fossas nasais, foram encontrados rastros de cocaína.
Pela versão da defesa, a brasileira Emmily Gomes cometeu suicídio após de um surto psicótico provocado pela mistura de drogas, especialmente de cocaína rosa, uma droga que pode provocar efeitos psicodélicos.
Já para a acusação, o empresário argentino cometeu um feminicídio para encobrir uma tentativa de abuso sexual, frustrada quando Emmily ficou consciente da cilada.
“Sob nenhum conceito, os resultados dos exames comprovam que Emmily tenha sofrido um surto psicótico. Só comprovam que Emmily consumiu drogas, quer seja por vontade própria, quer seja de forma enganosa. Podem ter posto droga num copo para que ela consumisse ao beber sem saber do conteúdo”, questiona o advogado da família de Emmily, Ignacio Trimarco, sublinhando que “essas drogas, por si sós, não provocam nenhum surto”.
Os exames nos copos usados serão divulgados nas próximas semanas, assim como a perícia numa seringa encontrada no apartamento com um conteúdo líquido não identificado.
Surto suicida ou feminicídio?
O advogado da defesa garante que o surto psicótico está comprovado com os testemunhos. Já o advogado da acusação recorda também os testemunhos de vizinhos que viram uma jovem a gritar pedidos de socorro sem demonstrar palavras incoerentes.
O exame no corpo de Emmily deu negativo quanto à presença de líquido seminal, em sintonia com as testemunhas que negaram qualquer tipo de insinuação sexual naquele dia. Embora no apartamento tenham sido apreendidos uma maca de massagem, lingerie, preservativos usados (antigos, sem vestígios de sêmen nem de sangue) e brinquedos sexuais.
O médico legista responsável pela autópsia, Héctor Di Salvo, declarou que todas as feridas e politraumatismos eram compatíveis com a queda e que não havia lesões compatíveis com abuso sexual.
Numa das gravações ao número de emergências, a voz de Emmily ao fundo grita “fui furada”, em referência a alguma injeção. A autópsia, no entanto, não encontrou nenhum vestígio compatível com uma agulha.
No próximo dia 16, haverá uma audiência na Câmara de Apelações durante a qual a Promotoria e o advogado Ignácio Trimarco vão pedir que o empresário, libertado no dia 18 de abril, volte à prisão preventiva, regime no qual passou os primeiros 20 dias.
“Acho que a segunda instância vai confirmar a falta de provas”, acredita o advogado Rafael Cúneo Libarona.
Fonte: SBT News