Especialistas da USP nas áreas de física e química usaram técnicas que permitem devolver o aspecto original da obra Independência ou Morte; veja em resumo como foi o processo
Publicado: 11/09/2021
Infografia: Beatriz Abdalla
No imaginário de muitos brasileiros, a independência do país está associada à pintura Independência ou Morte, de Pedro Américo. Com seus personagens e ambientação idealizados, a obra conferiu tom épico a um acontecimento que, segundo testemunhas da época e pesquisas históricas posteriores, teria sido bem menos glorioso. Pintada em Florença, na Itália, em 1888, embarcou para o Brasil e foi apresentada pela primeira vez ao público brasileiro já no período republicano, em 7 de setembro de 1895, durante a inauguração do Museu do Ipiranga.
Peça mais importante do acervo e reproduzida em livros didáticos, tornando-se uma espécie de retrato oficial da nacionalidade, passou desde o início de 2019 por um processo de restauração que tem a ciência como aliada na busca por manter o aspecto original da obra e agora aguarda uma aplicação final de verniz que ficou para 2022, quando o Museu será reinaugurado.
Para atingir esse objetivo, contou com assessoria especial de dois pesquisadores do Instituto de Física (IF) da USP, a professora Marcia Rizzutto e o pós-doutorando Pedro de Campos; além de duas pesquisadoras do Instituto de Química (IQ) da USP, a professora Dalva de Faria e a pós-doutoranda Isabela dos Santos.
Confira abaixo um resumo de como foi esse processo.
A obra
O quadro ‘Independência ou Morte’ (1888) de Pedro Américo é considerado a representação mais consagrada e difundida do momento da independência do Brasil.
Artista: Pedro Américo
Técnica: Óleo sobre tela
Acervo: Museu do Ipiranga
Período: 1888
“Independência ou morte” foi uma obra encomendada pela Família Imperial, com a ideia de ressaltar o poder monárquico do recém-instaurado império. No Brasil, a tela foi exposta pela primeira vez em 7 de setembro de 1895, na inauguração do Museu do Ipiranga.
Panorama do Salão Nobre do Edifício-Monumento, construído para abrigar a tela “Independência ou Morte”, de Pedro Américo – Foto: Divulgação/MP
Você sabia?
Medindo 415 x 760 cm, a pintura é bem maior que as portas e janelas do Museu do Ipiranga: a tela foi montada originalmente onde está até hoje e nunca foi retirada de lá.
Pedro Américo
Pedro Américo de Figueiredo e Melo foi um romancista, poeta, cientista, teórico de arte, ensaísta, filósofo, político e professor brasileiro, mas é mais lembrado como um dos mais importantes pintores acadêmicos do Brasil, deixando obras de impacto nacional.
Sua obra esteve inserida na arte neoclássica, privilegiando temas históricos e personificações, como é o caso de “Independência ou Morte”, uma de suas obras cívicas.
O Museu do Ipiranga
O edifício histórico localizado no Parque da Independência, conhecido pelo nome de Museu do Ipiranga, tem como nome oficial Museu Paulista da Universidade de São Paulo. É uma instituição científica, cultural e educacional com atuação no campo da História e cujas atividades têm, como referência permanente, seu acervo histórico.
O edifício está fechado para visitação do público desde 2013, quando foi detectado risco iminente de queda do forro. A expectativa é que seja reaberto em setembro de 2022, completamente renovado e ampliado, para a celebração do bicentenário da Independência do Brasil.
A restauração do quadro
Devido à ação do tempo, “O Grito do Ipiranga” começou a apresentar sinais de desgaste. Assim, foi recrutada uma equipe de nove profissionais, sob o comando da especialista em restauro do Museu do Ipiranga Yara Petrella, para iniciar o processo de restauro da tela.
Além de reparar danos causados pela ação do tempo, os restauradores buscaram devolver à pintura suas cores originais – retirando a sujidade acumulada com o tempo, recompondo pontos de perda na camada pictórica original e retirando vestígios de restauros antigos, como um amarelado indevido em certa região do céu.
Pesquisa de
documentação
Reflectografia em infravermelho
Espectroscopia por fluorescência de raios X
Microscopia Raman
Restauração
Envernizamento
Fonte: Jornal da USP