Filmes lançados no ano passado marcaram a história do cinema brasileiro com produções que alcançaram repercussão internacional. Algumas dessas produções – como Baby, Motel Destino e Malu – serão apresentadas pelo Cinema da USP Paulo Emílio (Cinusp), a partir desta segunda-feira, dia 7, na 13ª edição da mostra Novíssimo Cinema Brasileiro. Gratuita, a mostra vai até o dia 27 deste mês, com sessões que acontecem nas salas do Cinusp no Centro Cultural Camargo Guarnieri, na Cidade Universitária, e no Centro MariAntonia da USP, na região central de São Paulo (confira aqui a programação completa do evento).
Serão exibidos 14 filmes. Até o fechamento desta edição do Jornal da USP, os curadores do Cinusp ainda negociavam a exibição de Ainda Estou Aqui, produção de Walter Salles que ganhou o Oscar de Melhor Filme Internacional neste ano. Inicialmente, o filme estava previsto para ser apresentado no dia 23, às 19 horas, no Centro Cultural Camargo Guarnieri, seguido de debate com a presença do historiador e professor da USP Marcos Napolitano, mas agora isso depende de confirmação.
Se a exibição de Ainda Estou Aqui é dúvida, está confirmada a apresentação do recém-lançado A Batalha da Rua Maria Antônia, longa de Vera Egito – cineasta formada pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP – que reconstitui o conflito entre estudantes da USP e da Universidade Mackenzie, em 1968. Vencedor do prêmio de Melhor Filme no Festival do Rio, em 2023, o filme terá uma sessão com a presença de Vera Egito, no dia 22, às 19 horas, no Camargo Guarnieri. No dia 27, último dia da mostra, às 16 horas, ele será exibido no Centro MariAntonia – o palco da Batalha da Rua Maria Antônia.
No dia 25, às 19 horas, no Centro Cultural Camargo Guarnieri, haverá o lançamento do livro No Rastro dos Encontros Perdidos – A Mostra Novíssimo Cinema Brasileiro, que conta a história desse tradicional evento promovido pelo Cinusp. Nessa obra, cada edição da mostra é analisada por críticos de cinema, que se aprofundam em filmes que marcaram o evento. Entre esses críticos estão Rodrigo de Abreu Pinto, idealizador da mostra Novíssimo Cinema Brasileiro, Luiz Carlos Oliveira Jr., editor da revista Cinética, Lorenna Rocha, pesquisadora do coletivo Elviras – Mulheres Críticas de Cinema, e Egberto Santana, fundador do Coletivo Crítica Negra.
Desafio do ano
André Quevedo, um dos curadores da mostra, define Novíssimo Cinema Brasileiro como o maior desafio do ano, já que todas as equipes do Cinusp atuam nessa seleção. Neste ano, a programação reúne produções de diferentes estados, como Minas Gerais, Ceará, Rio de Janeiro, São Paulo, Tocantins, Pará e Rio Grande do Sul, reforçando a diversidade da produção nacional. “Buscamos dar destaque para diferentes tipos de filme, dos mais experimentais aos mais ficcionais, passando por ação, humor, fantástico, banal, melodrama e outros gêneros”, explica.
Quevedo destaca que o cinema nacional vive um momento otimista, marcado pela repercussão de Ainda Estou Aqui. Nesse cenário – acrescenta -, as salas de cinema registraram maior busca por filmes nacionais, o que foi aproveitado pelos produtores brasileiros.
É o caso do filme Baby, de Marcelo Caetano, que estreou no Festival de Cannes de 2024. “Baby não teve grandíssimo orçamento ou destaque, mas conseguiu fazer um bom público em São Paulo. Isso pode ser atribuído, em parte, ao sucesso de Ainda Estou Aqui, que aumentou o interesse do público pelo cinema brasileiro”, diz Quevedo. No dia 24, às 19 horas, no Camargo Guarnieri, a exibição do filme será seguida por um debate, com a presença de Marcelo Caetano.
De acordo com Quevedo, a mostra Novíssimo Cinema Brasileiro busca aproximar o público dos realizadores, promovendo um diálogo direto com quem está por trás das câmeras no cinema atual e estimulando novos produtores a levarem seus projetos adiante. “Queremos criar um quadro possível do que é o cinema nacional hoje e estimular essa troca direta entre quem faz e quem assiste.” Isso se concretiza, em especial, na exibição de filmes feitos por cineastas em formação pela USP.
Um deles é Kickflip, gravado inteiramente em videotape por estudantes que atualmente cursam Audiovisual na ECA. O filme acompanha dois adolescentes em uma cidade do interior, enquanto andam de skate, passeiam no shopping e comem hambúrgueres. Após receber destaque na 13ª Mostra Tiradentes, realizada em março passado, em São Paulo, o filme esteve entre os 12 exibidos na Mostra de Cinema Tiradentes na França, em Paris, no início deste mês.
Pedro Cunha, estudante da ECA, acompanhou uma versão não finalizada da obra nas aulas de Cinema e Pintura do curso de Audiovisual, e agora vê o trabalho alcançando projeção internacional. “É muito legal ver o Kickflip, um trabalho tão recente e feito por um veterano só dois anos na minha frente, ganhando esse destaque, principalmente por ser um filme que foge das estruturas convencionais do cinema narrativo. Adoro ver o que pessoas como eu, estudantes de cinema, têm produzido”, afirma.
Mostra “Novíssimo Cinema Brasileiro” busca revelar a amplitude e a força do audiovisual brasileiro atual – Imagens: Divulgação/Cinusp
Também se destaca na mostra o filme Sofia Foi, dirigido pelo estudante Pedro Geraldo, que foi premiado como Melhor Filme de Diretor Estreante no Festival de Marseille, na França. A produção independente acompanha a jovem Sofia caminhando pelo campus da Universidade de São Paulo após ser despejada de seu apartamento. Ele foi filmado em espaços conhecidos da USP, com cenas no Conjunto Residencial da USP (Crusp), na festa Quinta I Breja (QIB) e na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e de Design (FAU).
Gravado antes da pandemia de covid-19, o filme traz questões sobre permanência e vivência estudantil que seguem atuais, tornando sua exibição um reflexo do cotidiano universitário. A atriz Sofia Tomic, que interpreta Sofia no filme, estará no Cinusp para um debate nesta quinta-feira, dia 10, às 19 horas, também no Centro Cultural Camargo Guarnieri.
O cinema uspiano também marca presença com o filme Cidade; Campo, de Juliana Rojas, cineasta formada na ECA e premiada como melhor diretora no Festival de Berlim deste ano. O longa explora os contrastes entre os êxodos urbanos e rurais, focalizando a migração do campo para a cidade e vice-versa. O filme, com a atriz Bruna Linzmeyer, estreou mundialmente na seção Encounters da Berlinale, reforçando a presença do cinema brasileiro no circuito internacional.
Outros eventos na programação
Outras sessões da mostra serão acompanhadas por debate com a presença dos autores das obras exibidas. Manas, da diretora Mariana Brennand Fortes, aborda a realidade da prostituição infantil na ilha de Marajó (PA) e terá um debate nesta sexta-feira, dia 11. A Transformação de Canuto, do cineasta indígena Ariel Ortega, terá sua pré-estreia na segunda-feira, dia 14, apresentando ao público uma nova perspectiva sobre identidades e rituais.
Outro destaque é Ulisses, uma reimaginação do romance de James Joyce, que será seguido de debate com o diretor Cristiano Burlan, no dia 15. A mostra Novíssimo Cinema Brasileiro também conta com os filmes O Dia Que Te Conheci, Salão de Baile, e A Flor do Buriti.
A mostra Novíssimo Cinema Brasileiro, do Cinema da USP Paulo Emílio (Cinusp), ocorre de 7 até 27 de abril, na Sala Paulo Emílio (Rua do Anfiteatro, 109, Cidade Universitária, em São Paulo, de segunda a sexta-feira, às 16h e às 19h) e na sala MariAntonia (Rua Maria Antônia, 294, Vila Buarque, em São Paulo, próximo às estações Santa Cecília e Higienópolis-Mackenzie do metrô, aos sábados e domingos, às 16h e às 18h). Entrada grátis. A programação completa da mostra e mais informações estão disponíveis no site do Cinusp.
*Estagiária sob supervisão de Roberto C. G. Castro / Fonte: Jornal da USP / Imagem: Divulgação/Cinusp
