Com Orlando Brito, a imagem valia muito mais do que mil palavras

Brasil cultura

O fotojornalista mineiro, considerado um “ícone”, morreu no dia 11, aos 72 anos

Sábado, 12 de março de 2022

Aquela velha máxima, quase um clichê, que afirma que uma imagem vale mais do que mil palavras nunca foi tão verdadeira pelas lentes de Orlando Brito. Mineiro de Janaúba, desde os anos 1960 Brito soube traduzir em fotografias momentos essenciais do Brasil e mesmo do mundo, fotos que se tornaram referência em qualquer latitude. Tanto que, após ganhar onze vezes o Prêmio Abril de Fotografia, ele passou a ser considerado hors concours. Ele também foi o primeiro brasileiro a ser premiado, em 1979, quando atuava no jornal O Globo, no World Press Photo Prize do Museu Van Gogh, de Amsterdã, na Holanda, o mais prestigiado prêmio de fotojornalismo do mundo. 

Seus trabalhos em publicações como O Globo, Jornal do Brasil e Veja – e mais recentemente na sua agência de notícias Obrito News – são o grande legado que Brito, que morreu nesta sexta-feira, dia 11, aos 72 anos, deixa não só para o jornalismo brasileiro, mas para a sociedade como um todo.

Considerado por muitos como um “ícone do fotojornalismo”, Orlando Brito via o mundo pelas lentes de uma câmera. Não sabia fazer diferente. “A fotografia é tudo para mim, é o que me trouxe até aqui. Eu não consigo enxergar nada sem ser pelo ângulo fotográfico, visual, estético. Então, eu não consigo fazer nada que não passe, que não toque, no tema fotografia”, declarou Brito em entrevista à Rádio Câmara, da Câmara dos Deputados. Nessa entrevista, o fotojornalista confessou que a fotografia foi “a primeira e talvez uma das únicas paixões” de sua vida.

O deputado Ulisses Guimarães, em foto de Orlando Brito que reúne arte, política e jornalismo num mesmo instantâneo – Foto: Orlando Brito/Flickr

A entrevista à Rádio Câmara faz todo o sentido. Afinal, se Brito viajou por mais de 60 países, cobriu Copas do Mundo, Jogos Olímpicos e fotografou desde astros do esporte a pessoas comuns – e que ele registrou em seis livros –, foi com o fotojornalismo político e baseado em Brasília que ele soube pavimentar sua carreira. Cobriu todas as posses presidenciais desde Costa e Silva, em 1967, a Bolsonaro, em 2019, e registrou momentos limítrofes da história política nacional, como o fechamento do Congresso em 1977, depois do chamado “Pacote de Abril” do então general-presidente Ernesto Geisel. É dele também umas das últimas – senão a última – foto do então deputado Ulysses Guimarães. Dia 8 de outubro de 1992, Brito clicou o “Senhor Diretas” na rampa do Congresso. Quatro dias depois, o parlamentar, presidente da Assembleia Nacional Constituinte, morreu em um acidente de helicóptero na baía de Angra dos Reis. Ulysses também serviu de modelo para uma das fotos clássicas de Brito, aquela em que o deputado aparece apenas em silhueta – arte, política e jornalismo em um mesmo instantâneo. Não à toa, a tribuna de imprensa do Plenário do Senado Federal vai passar a se chamar “Repórter Fotográfico Orlando Brito”.

Assista no link abaixo ao vídeo Testemunha da História: Orlando Brito, produzido em 2018 pela TV Senado. 

Mesmo passando praticamente toda sua vida profissional muito próximo aos círculos do poder e tendo acesso privilegiado a ele, Orlando Brito sempre fez questão de ressaltar seu compromisso “com as pessoas ausentes”, aquelas que não sobem rampas e muitas vezes não têm voz. 

Orlando Brito foi o grande fotógrafo do período nebuloso da ditadura e da esperança da redemocratização – e de tudo o que de bom e ruim veio a partir daí. O Jornal da USP o homenageia neste texto como reconhecimento por sua importante atuação na sociedade brasileira.

Fonte: Jornal USP

Parceiros

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *