Os conflitos entre Israel e Palestina são travados desde a década de 1940 e têm como principal causa o controle da Palestina.
Segunda, 9 de outubro de 2023
“Os conflitos entre Israel e Palestina remontam à primeira metade do século XX e foram iniciados pela disputa em torno do território palestino. Essa rivalidade se iniciou com o crescimento da população judia na Palestina e resultou em uma série de conflitos a partir de 1948. Israel afirma que suas ações são em defesa de sua própria população, e os palestinos acusam Israel de sustentar um regime de perseguição.”
“Causas do conflito entre Israel e Palestina
O confronto travado entre Israel e Palestina é um dos conflitos de mais longa duração da história da humanidade. Estende-se oficialmente desde a década de 1940, embora a década de 1930 tenha presenciado uma crescente tensão e violência entre judeus e árabes. Passado todo esse período, de tempos em tempos, hostilidades acontecem entre os dois lados, aumentando a tensão.
Historicamente falando, o conflito entre israelenses e palestinos se explica pelo controle da Palestina. Embora exista a questão da religião, que importa muito mais quando o assunto é Jerusalém, a rivalidade entre israelenses e palestinos tem motivos políticos, principalmente, e que envolvem o controle daquele território.
Mais recentemente falando, muitos analistas apontam que o confronto atualmente envolve novos aspectos, os quais estão em torno da maneira violenta pela qual Israel trata a população palestina que reside seja em Israel, seja nos territórios palestinos da Cisjordânia e da Faixa de Gaza.
Assim, a população palestina luta para conseguir a sua autodeterminação — uma vez que o Estado da Palestina não existe, oficialmente falando —, mas também para conquistar melhores condições de vida, pois alegam que Israel os mantém em condições degradantes, limitando o acesso da população a recursos básicos, como água, e sufocando a população de Gaza com um bloqueio econômico que se estende desde 2007, entre outros fatores.
Israel, por sua vez, defende suas ações afirmando que elas se justificam no contexto de combate ao Hamas, organização considerada terrorista pelos israelenses e que comanda a Faixa de Gaza desde 2006. Sendo assim, Israel afirma que seus ataques e todas as outras ações que são tomadas visam exclusivamente a prejudicar o Hamas. Israel ainda acusa o Hamas de usar a população civil da Palestina como escudo humano.”
“Raízes históricas do conflito entre Israel e Palestina
O conflito entre Israel e Palestina tem como ponto de partida o final do século XIX, no momento em que foi criado o movimento sionista. Na década de 1890, o sionismo surgiu a partir de um livro escrito por Theodor Herzl, um jornalista judeu húngaro que passou a defender a criação de um Estado para os judeus na Palestina.
A escolha do local se deu pelo fato de que a Palestina era o local onde os judeus residiam na Antiguidade, antes da diáspora. A migração de judeus para lá se iniciou na década de 1880, mas começou a acontecer de maneira organizada a partir de 1897, logo depois do Primeiro Congresso Sionista.
Depois disso, a Organização Sionista Mundial começou a organizar a compra de terras na Palestina para que elas pudessem ser habitadas por judeus. O motivo desse desejo dos judeus de migrarem para a Palestina está diretamente ligado ao crescimento do antissemitismo em todo o continente europeu nesse mesmo período.”
“Tensão na Palestina
Os sionistas começaram a defender sua causa politicamente a nível internacional, e o primeiro grande passo para isso aconteceu em 1917, quando os judeus receberam uma garantia dos britânicos de que o Reino Unido os apoiaria na criação de um Estado judeu na Palestina. O vazamento dessa promessa espalhou tensão em toda a Palestina.
Na década de 1930, a tensão deu origem a um movimento nacionalista palestino contra a criação de um Estado judeu na Palestina. Um dos grandes líderes desse nacionalismo palestino foi Hajj Amin al-Husaini, o mufti de Jerusalém. A historiadora Karen Armstrong define Husaini como um “nacionalista radical”|1|.
As tensões aumentaram consideravelmente na década de 1930 e cada vez mais à medida que a população judaica na Palestina aumentava. Esse aumento populacional foi documentado pelos historiadores, e Karen Armstrong, por exemplo, aponta que a população judaica na Palestina aumentou de 18,9%, em 1933, para 27,7%, em 1936|2|. Daí a violência começou a se manifestar dos dois lados.
Guerrilhas de palestinos começaram a ser formadas e ataques e atentados passaram a ser organizados. A insatisfação muçulmana contra a crescente presença de judeus na Palestina também se deu por meio de greves e atos de desobediência civil. Do lado judeu, milícias, como o Irgun, passaram a realizar atentados contra a população árabe.
Criação de Israel
O aumento da tensão e a escalada na violência dos dois lados levaram os ingleses, que governavam a região desde o fim da Primeira Guerra Mundial, a propor a divisão da Palestina para criar um Estado para os judeus e outro para os árabes. Esse plano não avançou, mas a violência dos dois lados seguiu crescendo e a Inglaterra decidiu retirar-se da região.
Depois da Segunda Guerra Mundial, o Reino Unido entregou o controle da Palestina e a resolução do problema entre judeus e árabes para as mãos da Organização das Nações Unidas (ONU). No começo de 1947, a ONU criou um plano para realizar a divisão da terra, bem aos moldes do que foi proposto pelos ingleses.
Essa proposta foi levada para a Assembleia Geral do ONU, no dia 29 de novembro de 1947, e foi aprovada. Os judeus sionistas automaticamente concordaram com a proposta, aceitando, inclusive, o fato de Jerusalém ficar sob controle internacional. Os árabes, por sua vez, rejeitaram o plano de divisão da Palestina.
Os ingleses anunciaram que suas tropas seriam retiradas da Palestina em outubro de 1948, mas essa saída foi antecipada para abril do mesmo ano. Logo após a saída das tropas britânicas, as autoridades sionistas na Palestina proclamaram a fundação do Estado de Israel, em 14 de maio de 1948. O Estado judeu contou com reconhecimento internacional, com exceção dos países árabes.
Resumo dos principais conflitos entre Israel e Palestina
A fundação de Israel resultou no primeiro grande conflito na Palestina. Essa foi a Primeira Guerra Árabe-Israelense, que se estendeu de 1948 a 1949 e contou com episódios de grande violência. Essa guerra se iniciou quando diferentes países árabes declararam guerra a Israel e isso se deu logo depois da fundação do Estado judeu.
Durante esse conflito, Israel foi atacado por tropas do Egito, Síria, Iraque, Líbano e Transjordânia (atual Jordânia), mas as preparadas forças armadas israelenses conseguiram se impor no conflito, enfrentando grandes dificuldades apenas no combate contra a Transjordânia. A violência se manifestou dos dois lados, e a expansão israelense e os ataques contra civis palestinos forçaram a fuga de milhares.
Antes mesmo de a guerra começar, as hostilidades já aconteciam, e um caso se tornou bastante conhecido, sendo destacado por Karen Armstrong. Em 10 de abril, o Irgun, grupo terrorista, atacou a vila árabe de Deir Yassin, matando 250 pessoas, entre homens, mulheres e crianças, e mutilando seus corpos|3|.
O exército israelense conseguiu ampliar consideravelmente os territórios de Israel, forçando cerca de 700 mil palestinos a se refugiarem. A maioria dessas pessoas foi para a Transjordânia, e Israel jamais permitiu o retorno dessas pessoas e seus descendentes. Até hoje esse conflito é conhecido como nakba (tragédia) pelos árabes, e o retorno dos descendentes dos refugiados é uma das grandes exigências de grupos palestinos, como o Hamas.
Ao longo do século XX, uma série de outros conflitos aconteceu, destacando-se os seguintes:
Crise de Suez;
Guerra dos Seis Dias;
Guerra de Yom Kippur;
Primeira Intifada;
Segunda Intifada.
A Crise de Suez, ou Guerra de Suez, remonta ao ano de 1956, quando França e Reino Unido tiveram uma crise diplomática com o Egito pelo controle do Canal de Suez. Essa crise resultou em uma ação militar contra o Egito na qual Israel tomou parte. Israel aproveitou-se da circunstância para invadir e ocupar a Península do Sinai, mas foi forçado a abandonar essa região tempos depois.
Em 1967, foi a vez de ser iniciada a Guerra dos Seis Dias, como consequência de ataques de Israel contra a Síria. Esses ataques aconteceram sob a alegação de que a Síria abrigava guerrilheiros palestinos que faziam parte do Fatah, grupo vinculado à Organização pela Libertação da Palestina (OLP).
Nesse conflito, as forças de Israel demonstraram ser muito superiores às das nações árabes e, em seis dias de conflito, Israel conquistou uma série de novos territórios: Faixa de Gaza, Península do Sinai, Jerusalém Oriental, Cisjordânia e Colinas de Golã. Uma resolução da ONU emitida depois do conflito ordenou que Israel abandonasse esses territórios, o que só aconteceu, parcialmente, tempos depois.
Anos depois, em 1973, um novo conflito se iniciou. Conhecido como Guerra de Yom Kippur, teve início quando as nações árabes deram início a um ataque surpresa contra Israel, visando recuperar os territórios tomados pelos israelenses no conflito de 1967. Essa guerra se encerrou de maneira indefinida, uma vez que nenhuma das forças conseguiu se sobrepor à outra.
Por fim, as Intifadas foram rebeliões populares realizadas pelos palestinos. A Primeira Intifada aconteceu em 1987, e a segunda, no ano de 2000. Nesses levantes, a população se armou de paus e pedras e partiu para o confronto contra as tropas israelenses. Estima-se que cerca de 1200 palestinos morreram na Primeira Intifada, e cerca de 3300, na segunda|4|.
Acordos de paz foram negociados entre as duas partes, com destaque para os Acordos de Oslo, em que Yitzhak Rabin, primeiro-ministro israelense, e Yasser Arafat, líder da OLP, reuniram-se com Bill Clinton, presidente americano na época, para acordar a paz. Esse acordo fracassou porque, no final da década de 1990, o novo governo israelense (de extrema-direita) se recusou a cumprir o que havia sido acordado.”
“Hamas
Os conflitos entre Israel e Palestina seguiram ao longo do século XXI e, sempre que há um atrito, Israel promove ataques na Faixa de Gaza ou Cisjordânia, e um grupo de resistência palestino responde com mísseis ou convocando a população para resistir. Esse grupo é o Hamas, que é um ator importante nesse conflito.
O Hamas é uma organização fundamentalista que se coloca como resistência a Israel. O governo israelense considera o Hamas uma organização terrorista.[1]
O Hamas é uma organização que é classificada como fundamentalista, em razão de seu viés religioso. Surgiu em 1987 e se transformou em um dos principais nomes da resistência palestina, ao lado do Fatah (de tendências seculares e moderadas). O Hamas possui diferentes áreas de atuação, possuindo um braço militar, outro político e um voltado para ações sociais.
O braço militar do Hamas é considerado um grupo terrorista por Israel e outros países, como os Estados Unidos e as nações da União Europeia. Quando o Hamas surgiu, o estatuto desse grupo defendia a erradicação completa de Israel, mas analistas internacionais afirmam que a posição da organização se tornou um pouco mais moderada nos últimos anos.
Atualmente, entende-se que o Hamas aceita que o Estado da Palestina seja criado nos territórios da Faixa de Gaza e da Cisjordânia. Desde 2006, o Hamas entrou na política e passou a governar a Faixa de Gaza, aumentando a rivalidade com o Fatah. A ascensão política do Hamas fez Israel impor um bloqueio econômico à Faixa de Gaza.
Nesse bloqueio, Israel proibiu a entrada em Gaza de tudo que poderia ser utilizado na produção de armas, permitindo a entrada apenas de itens básicos. Entretanto, denúncias frequentes acontecem de que mercadorias normais, como itens de limpeza e alimentos, são barradas pelas autoridades israelenses. Observadores internacionais apontam que o bloqueio contribui para aumentar a insegurança alimentar da população palestina.
Todas as vezes que a frágil paz da região é quebrada, o Hamas responde lançando centenas, às vezes milhares, de mísseis contra Israel. Entretanto, a maioria desses mísseis é interceptada pelo sistema antimíssel desenvolvido por Israel e conhecido como Iron Dome.
O jornalista Mohammed Omer aponta que parte da população palestina não aprova os métodos do Hamas, mas ele afirma que, a cada ataque israelense contra a Faixa de Gaza, o apoio ao Hamas aumenta, uma vez que os ataques israelenses resultam na morte de centenas, às vezes milhares, de civis, sendo muitos deles crianças|5|.
Por fim, o Hamas sofre críticas internacionais pela forma como governa a Faixa de Gaza. Esse grupo é conservador e autoritário, e denúncias de grupos dos Direitos Humanos apontam que o Hamas persegue críticos e opositores políticos, prendendo-os arbitrariamente e utilizando práticas de tortura.
Questão Palestina
Atualmente o Estado de Israel é uma nação consolidada, com boa infraestrutura e um dos melhores índices de qualidade de vida do Oriente Médio. Os palestinos, em contrapartida, não possuem um Estado nacional e as condições de vida de sua população, seja na Faixa de Gaza, seja na Cisjordânia, têm piorado cada dia mais.
Incêndio em Cidade de Gaza depois de um bombardeio israelense.[2]
Um dos grandes problemas enfrentados pela população palestina são os assentamentos israelenses que têm sido construídos em território palestino. Esses assentamentos são vistos como uma estratégia de ocupação gradativa do território, uma vez que seu número tem aumentado com o passar dos anos.
Outros grupos têm denunciado algumas práticas impostas à população palestina. A Humans Rights Watch, entidade que observa a defesa dos Direitos Humanos no mundo, aponta, em relatório de 2021, que Israel beneficia a população israelense, enquanto discrimina abertamente a população palestina.
O relatório ainda aponta que o governo israelense atua sistematicamente para perpetuar o controle demográfico, político e territorial da região por meio das leis e do poder policial. Por fim, o relatório aponta que as condições de vida degradantes que são impostas aos palestinos em algumas regiões de Israel são tão severas que constituem crimes contra a humanidade por imposição de um regime de apartheid, isto é, um regime de segregação|6|.
Mohammed Omer afirma que um dos locais que mais sofrem é a Faixa de Gaza, um estreito pedaço de terra no sul da Palestina habitado por cerca de dois milhões de pessoas, fazendo desse local um dos mais densamente habitados do mundo. Ele aponta que a situação na Faixa de Gaza é tão degradante que, no ano de 2015|7|:
55% da população de Gaza sofria de depressão;
43% estavam desempregados;
40% viviam abaixo da linha da pobreza;
60% estavam em condições de insegurança alimentar.
Passados mais de sete décadas de conflito, muitos ainda defendem que a saída para essa guerra entre israelenses e palestinos é a criação de dois Estados, um israelense e outro palestino, na região.
Notas
|1| ARMSTRONG, Karen. Jerusalém: uma cidade, três religiões. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 431.
|2| Idem, p. 438.
|3| Idem, p. 442.
|4| O que são as intifadas? Para acessar, clique aqui.
|5| OMER, Mohammed. Em estado de choque: sobrevivendo em Gaza sob ataque israelense. São Paulo: Autonomia Literária, 2017, p. 49.
|6| A Threshold Crossed: Israeli authorities and the Crimes of Apartheid and Persecution. Para acessar, clique aqui [em inglês].
|7| OMER, Mohammed. Em estado de choque: sobrevivendo em Gaza sob ataque israelense. São Paulo: Autonomia Literária, 2017, p. 19.
Crédito das imagens
[1] Abed Rahim Khatib e Shutterstock
[2] Nick_ John_07 e Shutterstock”
Fonte: https://brasilescola.uol.com