São 200 metros de bandeirolas nas cores branca, azul, verde e amarelo, formando desenhos da bandeira
Contra a tendência nacional, uma entrada apertada à direita da Avenida Anita Garibaldi, na Federação, conduz os moradores de Salvador, na Bahia, a uma comunidade onde o verde e o amarelo da bandeira brasileira não representam polarização política. No início da Rua Souza Uzel, conhecida como Rua 13, um motorista de caminhão usa uma blusa com a bandeira do Brasil, mas a mensagem é de “Rumo ao Hexa”.
Seguindo na rua, os visitantes são recepcionados com uma frase de “Paz para o mundo” em português, espanhol, inglês e até árabe. A faixa fica suspensa entre o primeiro e o segundo andar das casas de um lado a outro da rua, assim como as bandeirolas. São 200 metros de bandeirolas nas cores branca, azul, verde e amarelo, formando desenhos da bandeira.
“A gente quer mostrar para a juventude como é o Brasil onde a gente brincava quando era novo. A gente quer mostrar como é a Copa do Mundo”, diz Ronaldo Prado, 50 anos, conhecido como Naldinho, um dos principais organizadores da ornamentação. Morador da Rua 13 há 49 anos, é dele a “arte aérea” que tem encantado os visitantes.
O reconhecimento pela decoração, segundo Naldinho, mudou o olhar que os soteropolitanos têm da comunidade. Se antes a Rua 13 era conhecida pela violência e pela criminalidade, agora é a “Rua da Copa”. “Hoje a gente se sente bem, dentro de casa”, conta. A frase mais repetida pelos moradores é de que a comunidade é “uma família”.
De quatro em quatro anos desde 2006, todos os moradores da rua se juntam dois meses antes da copa, organizam uma vaquinha e contribuem com o que podem para a ornamentação. Naldinho idealiza o desenho que será feito com as bandeirolas e os demais moradores se dividem em funções. Os mais jovens ajudam a colar as bandeirolas e grafiteiros de outros bairros são chamados para ajudar a desenhar e colorir o asfalto.
“Não dá pra passar de carro lá embaixo não, eles estão pintando a rua”, diz uma moradora para a reportagem. No chão, com tinta fresca, um desenho dá boas vindas aos visitantes e anuncia: “Rua 13 na Copa”.
Ainda no início de novembro, outro desenho no asfalto foi feito a convite de uma promoção da cervejaria Brahma junto à Lukscolor chamada “Ruas da Torcida”, que escolheria a rua com a pintura de chão mais bonita. A Rua 13 foi convidada para representar a Bahia, mas não ganhou. “Fiquei tão triste que minha rua perdeu, tava tão linda”, diz uma moradora. A conversa pelo bairro é de que ganhou uma rua com um desenho muito mais simples, que ninguém conhece. “Foi roubado isso aí”, diz outro morador.
A promoção, por outro lado, trouxe um resultado inesperado. Para participar, os moradores precisaram criar um perfil no Instagram para a rua, e rapidamente viram o conteúdo viralizar. Em pouco mais de um mês, já são 6,2 mil seguidores — o que levou até o prefeito Bruno Reis enviar mensagem para o morador Milton Muniz, o Miltinho Dourado, parabenizando pela ornamentação. Já os moradores de outros bairros conheceram um novo ponto turístico.
Entre a barbearia, os pintores na rua, a comunidade família, o samba no bar do Ivo e o dia-a-dia dos moradores da Souza Uzel, visitantes com a camisa do Brasil e bola do futebol chegam para conhecer o local, tirar fotos e tomar uma cerveja.
“A sensação da gente é de alegria. Queremos mostrar o que a gente tem de valor, a união e o carinho que a gente tem para dar a todos que vêm de fora”, conta Miltinho, que está confiante de que assistirá o Brasil ganhar o hexacampeonato na Rua 13.
Fonte: Metro 1