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Conheça seis fatos para entender a investigação do caso do cônsul alemão

Brasil

A Polícia Civil do Rio de Janeiro continua ouvindo testemunhas que possam ajudar a esclarecer dúvidas dos investigadores sobre a dinâmica do relacionamento entre o cônsul alemão Uwe Herbert Hahn e o seu marido, o belga Walter Henry Maximillen Biot.

Os bombeiros encontraram Walter morto no apartamento em que o casal vivia, no Rio de Janeiro. O homem morreu por espancamento, com diversas lesões pelo corpo, e o diplomata está preso preventivamente como principal suspeito.

Veja abaixo seis fatos que ajudam a compreender o caso:

Versão do cônsul

Quando os bombeiros foram chamados a uma cobertura em Ipanema, na capital fluminense, na última sexta-feira (5), a informação era de que a vítima a ser atendida havia sofrido um mal súbito.

Segundo informações prestadas posteriormente por Uwe Hahn à polícia, no dia em morreu, seu marido teve um surto repentino enquanto os dois estavam sentados no sofá. Walter teria, segundo o cônsul, corrido à varanda, onde caiu no chão.

O diplomata afirmou não saber o motivo de tal reação, mas disse que o belga havia começado a apresentar mudanças em seu comportamento há cerca de um mês, aumentando o consumo de bebidas alcoólicas e medicamentos, conforme se aproximava a mudança que fariam de país — Hahn teria de se mudar a trabalho para o Haiti.

Perícia no corpo da vítima

Contradizendo a versão do cônsul, a perícia indicou que a causa da morte foi espancamento.

O laudo de necropsia da vítima constatou diversas lesões no corpo decorrentes de ação contundente, sendo uma delas compatível com pisadura e a outra com o emprego de instrumento cilíndrico (supostamente um bastão de madeira).

Além de lesões recentes, também foram identificadas marcas antigas, de ao menos dois dias anteriores à morte.

Cena do crime

O apartamento do casal estava sujo, com sangue e fezes espalhados, segundo relatou a delegada Camila Lourenço. Uma poça de sangue no local chegou, inclusive, a ser limpa pela secretária do cônsul no dia seguinte à morte.

“Havia um sofá com a lateral com uma mancha úmida sugerindo como se alguém tivesse apressadamente limpado a região na tentativa de ocultar algo. Em um segundo momento foi feita uma pesquisa com o reagente luminol. Os peritos identificaram sangue na fronha, no chão, em diversos pontos do imóvel, e no banheiro”, detalhou.

À polícia, a secretária do cônsul disse que lavou uma mancha de sangue no apartamento. De acordo com o depoimento, ao qual a CNN teve acesso, a brasileira de 50 anos, contou que Hahn mandou uma mensagem de texto para ela na madrugada de sábado, dizendo “Walter está morto. Teve um infarto”.

A funcionária teria ido até o local na manhã de sábado, quando Hahn lhe relatou que a vítima começou a passar mal, correu em direção à varanda e caiu. A mulher disse que, nesse momento, percebeu que o cachorro lambia uma mancha de sangue. Ela, então, pegou um balde e detergente e fez a limpeza superficial da área.

Prisão preventiva

Após perceber as contradições entre o relato de Hahn e as evidências de um provável crime, a polícia abordou o cônsul. O diplomata foi preso em flagrante no Instituto Médico-Legal, onde faria a liberação do corpo de Walter, no sábado (6).

No domingo (7), após audiência de custódia, as autoridades converteram a prisão em flagrante em preventiva. A justificativa do juiz Rafael de Almeida Rezende, da Central de Audiência de Custódia em Benfica, é de que a detenção busca evitar que a colheita de provas seja colocada em risco e assegurar que não haverá fuga.

A defesa do diplomata pediu o relaxamento da prisão, alegando que ele possui imunidade consular, mas a Justiça entendeu que o benefício não se aplica ao caso, por se tratar de um episódio fora do ambiente consular e sem qualquer relação com as funções exercidas por Uwe Hahn.

Relatos de agressão

Diante dos indícios, a delegada responsável pelo caso afirmou que não tem dúvidas de que o cônsul atuou na morte do marido. No entanto, as investigações continuam e as autoridades querem entender a dinâmica do relacionamento entre o casal, que estava junto há 23 anos.

Ontem (9), um amigo de Walter afirmou, em depoimento à polícia, que o casal brigava constantemente e que o belga havia cogitado denunciar seu companheiro por agressão no mês passado.

Segundo ele, a situação piorou depois que a vítima recebeu a herança de um amigo e deixou de depender financeiramente do cônsul.

Também depôs a diarista que limpava o apartamento. Ela afirmou que já havia visto manchas de sangue no travesseiro de Walter e um corte em sua testa em uma ocasião, mas a vítima alegava ter sido arranhada por um gato.

Uso de drogas

Tanto no testemunho do amigo quanto da diarista há menção do uso de drogas. No caso da funcionária, ela relatou ter encontrado pinos de cocaína pelo imóvel. Já o homem afirmou que Walter lhe contava que Uwe é viciado na droga há anos.

Segundo o depoente, o alemão também faz uso de outro entorpecente e seu marido usava drogas ocasionalmente.

A polícia analisará ainda se a vítima estava dopada no dia da morte, devido a ausência de sinais de defesa e as condições de higiene do apartamento.

*Com informações de Bruna Carvalho, Fernanda Soares, Isabelle Saleme, Pauline Almeida, Rafaela Cascardo e Rayane Rocha, da CNN, no Rio de Janeiro

Fonte: CNN