Crato celebra 50 anos do Salão de Outubro de forma colaborativa

cultura

30 de outubro a 02 de novembro, o Crato, no Ceará, será palco do hibridismo cultural e artístico, a mistura do erudito e do popular estará presente da vanguarda do Salão de Outubro.

Salão de Outubro comemora 50 anos e artistas do Cariri cearense promovem grande exposição de celebração

Artistas da região do Cariri cearense promovem, a partir do dia 30 de outubro até o dia 2 de novembro, uma edição especial do Salão de Outubro, mostra que tem o objetivo de expor e divulgar diferentes expressões artísticas da região do Cariri e além-fronteiras. Esta edição, que será realizada no Crato Tênis Clube, tem como homenageado o artista plástico Luis Karimai, falecido em 2010, que tanto contribuiu para as artes na região. Outros artistas, de diferentes linguagens, também serão homenageados.

A ideia é promover um encontro de múltiplas linguagens, reunindo artes plásticas e visuais, cinema, teatro, performances, música e literatura. O grande diferencial é unir artistas já reconhecidos com iniciantes, artistas contemporâneos e conceituais com artistas da tradição, artistas do Cariri com os de outras regiões. Como afirma o cineasta e idealizador inicial do projeto (1974), Rosemberg Cariry, sobre o evento: “A proposta era misturar gêneros e classes sociais, no que se convencionou na época chamar-se de ‘cultura insubmissa’, ainda com ressonância dos movimentos de ‘contracultura’ e experimentais daquele período de resistência. Esse era o ‘espírito transmoderno’ do Salão de Outubro, que deve permanecer na inquietação e na melhor expressão da arte. As várias edições do Salão de Outubro, nas décadas de 70, 80, 90, chegando mesmo ao século XXI, deixaram um saldo muito positivo para a cultura cearense, sobretudo no trabalho coletivo e solidário de grupos de artistas”.

Este “espírito insubmisso” deve se manter na contemporaneidade, quando acontecerá, em outubro, uma nova edição do Salão — numa festa-celebração dos seus 50 anos (1974-2024).

História do Salão

Na década de 1970, em meio às turbulências que marcaram os anos de opressão política e estética no país, nas diversas regiões brasileiras, alguns artistas conseguiram resistir com novas possibilidades de realização artística. Em 1973, algo de novo surge na cena artística da cidade do Crato e do Cariri cearense: o Grupo de Artes Por Exemplo — artistas que se uniram no propósito de formar um núcleo de produtores e divulgadores das expressões da arte local.

A principal marca do Grupo de Artes Por Exemplo foi a diversidade das tendências, que se identificavam no objetivo de projetar a cultura do Cariri cearense) para o Nordeste e para o país. Contando inicialmente apenas com autores residentes na cidade do Crato, depois incluindo artistas de Juazeiro do Norte e de outras cidades do Ceará e do nordeste, o núcleo destacou-se por realizações importantes, montagens de peças teatrais, filmagem dos primeiros curtas-metragens da região e a realização da mostra de multilinguagens artísticas que ficou conhecida como “Salão de Outubro” — evento inspirado no “Festival de Inverno” que acontecia na cidade de Ouro Preto, em Minas Gerais, com grande repercussão.

O Salão de Outubro teve sua primeira edição entre os dias 26/10 e 03/11 de 1974 e transformou-se, ao longo dos anos, em um dos eventos culturais e artísticos mais importantes da cidade do Crato e do Cariri cearense, já que congregou pintores, escritores, poetas, atores, dançarinos, músicos populares, compositores e cantores jovens, cineastas e fotógrafos, em torno da ideia de promover mostras de seus trabalhos e espetáculos, bem como possibilitar o intercâmbio com outros centros artísticos do Nordeste e demais regiões brasileiras.

Uma característica marcante do Salão de Outubro era a opção de reunir culturas e artes de diversas linguagens, de diversas procedências étnicas, sociais e estéticas, naquilo que se enxergava como sendo o “Grande Cariri” — a vasta região que abrange quase todos os estados nordestinos, onde se fizeram fortes as influências afro-ibero-tapuia-cariri, tendo Juazeiro como a Grande Meca — onde acontece uma experiência civilizacional de grande importância para a cultura brasileira. Havia uma concepção bem aberta do conceito de “nação”, como um espírito de luta e de resistência, inspirado na Confederação dos Cariri (a chamada “Guerra dos Bárbaros” — 1650/1720).

Nos diversos salões que aconteceram, organizados por diversos grupos (entre eles, Grupo de Artes Por Exemplo, Nação Cariri, Folha de Piqui e Turma do Parque), sempre houve, por parte dos artistas, a necessidade de unir as chamadas “artes alternativas” — mais ligadas à juventude nordestina daquela época — hibridando-se com a tradição-raiz da cultura popular. O evento pretendia unir e promover a união de símbolos universais com os elementos da cultura local (que também traziam as marcas de muitos povos e culturas do mundo), buscando o surgimento do novo que expressasse a sua época, através da mistura da tradição regional com as inovações artísticas mais amplas, sintonizando com o que acontecia em cidades como Ouro Preto, Belo Horizonte, Recife, Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro.

Fonte: Portal Vermelho / Foto: Divulgação

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