Dupla infecção está associada a cerca de duas vezes mais chances de doença respiratória grave, de acordo com a pesquisa
Quando pacientes com Covid-19 com menos de 5 anos também testam positivo para outro vírus respiratório, eles tendem a ficar mais doentes e desenvolver quadros mais graves da doença, sugere um novo estudo.
Entre crianças hospitalizadas com menos de 5 anos, testar positivo para Covid-19 e outro vírus respiratório ao mesmo tempo está associado a cerca de duas vezes mais chances de doença respiratória grave do que aquelas com teste negativo para outros vírus, de acordo com o estudo publicado nesta quarta-feira (18) na revista Pediatrics.
O estudo ocorre em meio a uma temporada difícil de vírus respiratórios nos Estados Unidos, onde a circulação do vírus sincicial respiratório (VSR), coronavírus, influenza e outros vírus sobrecarregam os hospitais infantis.
As descobertas demonstram o impacto que os vírus respiratórios têm nos hospitais pediátricos e como a “vigilância contínua” da circulação da Covid-19 e de outras doenças pode ajudar a prever futuros aumentos nas hospitalizações, escreveram os pesquisadores dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos EUA, e de várias universidades e departamentos de saúde norte-americanos.
Cuidar de crianças pequenas com doenças respiratórias sobrepostas foi algo que Jenevieve Silva vivenciou em primeira mão durante a pandemia de Covid-19.
“O auge das doenças foi de setembro a meados de novembro, quando nossa casa simplesmente não conseguia descansar”, disse ela.
A mãe de oito filhos, que mora em San Jose, na Califórnia, disse que seus filhos gêmeos “foram atacados por vírus” desde que começaram a pré-escola em maio de 2021.
Em outubro passado, os gêmeos testaram positivo para Covid-19 e desenvolveram o que seu pediatra suspeitava ser outra infecção viral respiratória, possivelmente vírus sincicial respiratório, na mesma época.
“Com base no que a pediatra nos disse, ela disse ‘Acredito muito que eles tenham esses vírus sobrepostos’”, afirmou Silva, acrescentando que os sintomas dos meninos incluíam falta de ar, tosse, fadiga e febre, sendo que um gêmeo teve febre de 40 graus por quatro dias seguidos.
Banhos quentes e massagens com Vick VapoRub nas costas e no peito ajudaram a aliviar a dor, mas observar seus meninos lutando contra essas doenças respiratórias foi “brutal”, disse Silva.
“Eles pareciam tão frágeis – pareciam doentes, como algo mais profundo do que apenas vírus ao mesmo tempo”, disse ela. “Foi um inferno. Quer dizer, foi muito ruim”.
‘Não posso ser a única mãe lidando com vírus após vírus’
Os meninos se recuperaram, estão “muito bem” e ganharam peso saudável, disse Silva, mas ela teme que eles tenham desenvolvido asma após as doenças.
Desde outubro, quando eles tiveram a codetecção, “o médico disse que parece que isso pode ter desencadeado asma neles. E agora, desde então, quando eles ficam resfriados, eles têm sintomas de asma – episódios violentos de tosse, às vezes vomitando”, disse Silva.
“Não posso ser a única mãe lidando com vírus após vírus”, disse ela, acrescentando que, para outros pais, ela tem uma mensagem de esperança: “Seja paciente. Ouça seu médico”.
O novo estudo incluiu dados de 4.372 crianças hospitalizadas com Covid-19. Entre aqueles que foram testados para outros vírus respiratórios, 21% tiveram codetecção, o que significa que outro vírus respiratório também foi detectado nos resultados dos testes. Os dados vieram da rede de vigilância de hospitalização Covid-19 dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, chamada Covid-Net, com dados de 14 estados.
Os pesquisadores ponderam que se concentraram na codetecção, não na coinfecção, uma vez que o teste não mostra necessariamente que uma criança foi infectada ativamente com os dois vírus apenas porque o teste deu positivo.
No geral, “este estudo descobriu que as codetecções de vírus respiratórios foram raras no primeiro ano da pandemia, as codetecções de RSV e rinovírus ou enterovírus aumentaram durante o período predominantemente Delta e as codetecções de influenza foram raras durante os primeiros 2 anos da pandemia”, escreveram os pesquisadores no estudo.
Os dados também mostraram que as crianças com codetecções eram mais propensas a ter menos de 5 anos, receber maior suporte de oxigênio e ser internadas na unidade de terapia intensiva (UTI). Nenhuma associação significativa foi observada entre crianças de 5 anos ou mais.
Especificamente para crianças menores de 2 anos, testar positivo para vírus sincicial respiratório durante a Covid-19 foi significativamente associado a doenças graves.
Mais pesquisas são necessárias sobre o impacto preciso que dois vírus respiratórios podem ter simultaneamente no corpo, disse o pesquisador William Schaffner, professor da Divisão de Doenças Infecciosas do Vanderbilt University Medical Center e diretor médico da Fundação Nacional para Doenças Infecciosas, que não estava envolvido no novo estudo.
“Mas achamos que ser atacado por dois vírus, especialmente se você tem menos de cinco anos de idade, foi claramente demonstrado por este estudo, tende a tornar sua doença mais grave, com maior probabilidade de ser prolongada no hospital, mais propensos a estar na unidade de terapia intensiva pediátrica”, disse Schaffner. “E claramente, ter seus pulmões, sua garganta e seu corpo – geralmente seu sistema imunológico – atacados por dois vírus simultaneamente, compreensivelmente, pode deixar algumas crianças mais gravemente doentes”.
‘A pandemia nos ensinou como esses vírus são contagiosos’
A pesquisadora Asuncion Mejias, professora associada de doenças infecciosas pediátricas no Nationwide Children’s Hospital, disse que as crianças hospitalizadas que ela tratou para Covid-19 e codetecções de outros vírus respiratórios geralmente requerem maior suporte de oxigênio e tratamento na UTI.
“Coronavírus é um vírus muito pró-inflamatório, então realmente enfraquece sua resposta imunológica”, disse Mejias. “E quando você ainda não se recuperou e recebe um segundo golpe, neste caso, VSR ou rinovírus, desenvolve uma doença mais grave”.
No geral, Schaffner disse que essas novas descobertas do estudo são mais uma razão pela qual continua sendo importante garantir que as crianças estejam atualizadas com suas vacinas contra a Covid-19, bem como vacinadas contra a gripe.
Mejias concordou, enfatizando a importância de práticas seguras para prevenir a propagação do vírus para crianças pequenas demais para serem vacinadas.
“A pandemia nos ensinou como esses vírus são contagiosos”, disse Mejias sobre patógenos respiratórios.
“Se alguém estiver doente, tente evitar o contato”, disse ela. “Esses vírus não são transmitidos apenas pela saliva e secreções, mas também pelas mãos. Portanto, lavar as mãos e todas essas medidas são muito importantes”.
Fonte: CNN Brasil