Pedro Luiz Côrtes analisa fatores do aumento do preço e as manobras do governo para conter os reajustes em época de eleições
Domingo, 3 de julho de 2022
Os preços mais elevados da energia elétrica vêm desde o ano passado, quando a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) criou a bandeira tarifária de escassez hídrica para custear o uso intensivo das usinas termelétricas diante da forte seca que afetou diversos reservatórios. Agora, está em vigor a bandeira verde, sem cobranças adicionais para o consumidor. A Aneel também informou que seria feita uma compensação de impostos cobrados a mais, reduzindo o valor das contas de energia.
“As compensações estão sendo aplicadas e os aumentos indicados segundo a Aneel já levam em consideração essa compensação de impostos que foram cobrados indevidamente em períodos anteriores”, explica Pedro Luiz Côrtes, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição. Ainda assim, há movimentações das distribuidoras de energia para reajustar as tarifas, inclusive acima da inflação. Alguns Estados brasileiros tiveram aumentos na casa dos 20%.
A ideia do governo é manter a bandeira verde até o fim do ano, mas Côrtes chama a atenção para alguns impedimentos: o fenômeno climático La Niña, que “volta no segundo semestre e, sempre que isso acontece, traz irregularidade e redução de chuvas na região Sul do Brasil, podendo atingir o Estado de São Paulo”.
Custos represados
As distribuidoras também tiveram a autorização do governo para contratar empréstimos junto aos bancos públicos ou privados para compensar os custos da geração de energia nas termelétricas, que usam combustíveis fósseis e são mais onerosas. Os custos alegados são de manutenção e ampliação de infraestrutura, impactados pela cotação internacional do dólar e das commodities, como o petróleo e o cobre.
“Quem é que vai pagar esse empréstimo? Nós, a partir de 2023, com sobrepreço na tarifa”, afirma o professor. Ele também teme aumentos logo depois das eleições. “Muitas vezes os governos ficam represando algumas situações negativas até o momento da eleição. E aí vem o ‘Day After’, o dia após a eleição, ou seja, a eleição já está consumada, aí vêm os possíveis aumentos de tarifa.”
Fonte: Jornal USP