Segundo Alexander Turra, a dificuldade em medir o nível do mar é justamente porque muda de ponto a ponto, mas, ao longo dos anos, esses milímetros de elevação acabam afetando diversas cidades costeiras como um todo
Por Sandra Capomaccio – Segunda, 22 de janeiro de 2024
O fenômeno da elevação do nível do mar é complexo e fortemente ligado ao aquecimento do planeta e do oceano. Também está associado ao derretimento das calotas polares, dos glaciares e do gelo acumulado em áreas elevadas do planeta. Apesar desses serem alguns dos motivos, existem outros, segundo o biólogo Alexander Turra, professor do Instituto Oceanográfico (IO) da Universidade de São Paulo e coordenador da cátedra Unesco para a sustentabilidade do oceano, especialista em gerenciamento costeiro. Existe dificuldade em medir a elevação do nível do mar, justamente porque muda de ponto a ponto, mas, ao longo dos anos, esses milímetros de elevação acabam afetando diversas cidades costeiras como um todo.
A salinização dos estuários acaba levando a migração dos manguezais para o interior das encostas, justamente onde não existem construções. São problemas de grande magnitude que afetam o meio ambiente e pouco visíveis para a maioria das pessoas. Existe maneiras de reduzir esse quadro, porém é preciso diminuir as emissões de gases e retirada do excesso de gás carbônico da atmosfera de forma drástica. O racismo ambiental é gerado nas camadas mais vulneráveis da sociedade.
A migração de algumas comunidades e populações em áreas arenosas das encostas já vem ocorrendo em diversas localidades no mundo. Aqui no Brasil, o fato já ocorre em cidades como o Rio de Janeiro.
Mobilidade sustentável
A urbanista e professora Raquel Rolnik, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, reforça o tema de que uma mobilidade mais sustentável contribuiria de forma importante para a eliminação de parte do uso de veículos movidos por combustíveis fósseis.
Apesar da colocação de obras de contenção como muros, diques, quebra-mar e pedras, nada deve mudar o quadro, justamente por causa de dois fatores: solo arenoso e de baixa elevação, fazendo com que cidades e até países desapareçam do mapa, como está ocorrendo no Oceano Pacífico, avalia Raquel.
“É preciso entender o meio ambiente e a natureza de cada um deles, um bom exemplo disso são as palafitas na Amazônia, que foi uma solução adequada para viver em locais onde as águas sobem de acordo com o nível do rio”, explica a urbanista.
Outro tipo de solução são as “áreas esponjas” como os mangues, onde a água é absorvida como uma espécie de barreira, uma espécie de colchão entre o mar e a terra. Isso sem falar das cidades flutuantes. A Universidade tem papel fundamental para a obtenção de resultados importantes, na medida em que prepara alunos, docentes e profissionais para o futuro desafio das cidades.
Efeito estufa
O efeito estufa e a elevação da temperatura do planeta têm um efeito direto sobre o oceano, que presta um grande serviço à atmosfera, eliminando o gás carbônico. Na medida que a temperatura da atmosfera aumenta, a do oceano acompanha, trazendo diversos problemas às espécies marinhas e à biodiversidade. Exemplo disso é o branqueamento dos corais.
A Organização Meteorológica Mundial (OMM) confirmou a elevação recorde em 2022 e alertou que a tendência continuará por milênios. O derretimento acelerado de geleiras deve continuar ameaçando cidades costeiras e países insulares. Não menos grave é o fato de que o aquecimento dos oceanos afeta também os peixes que vivem em determinadas regiões, porque acabam migrando para outras localidades menos quentes, afetando a vida de pescadores e, consequentemente, a economia local. A matriz energética, dizem os especialistas, precisaria ser alterada, isso sem falar da necessidade de trabalhar para uma economia de baixo carbono em países como os EUA e a China, onde a tecnologia impera. Valores precisam ser revistos, já que ambos prejudicam todo o mundo.
Fonte: Jornal USP