Diferentemente do que se possa imaginar, filmes como “xXx: Reativado” tem prazo de validade. Na terceira produção da franquia Triplo X, D.J. Caruso abusa de malabarismos narrativos a fim de manter o público interessado na história de Xander Cage, mistura de espião, mercenário, coroa pegador e, claro, candidato a salvador de um mundo sempre à beira da ruína.
Decerto a melhor coisa em “xXx: Reativado” é o elenco, afinado e afiado, por causa e apesar de Vin Diesel, cômodo e acomodado num personagem de que já tirou até a última gota e que não lhe acrescenta mais nada, situação bastante parecida com a de alguns outros colegas, malgrado, frise-se, haja gratas surpresas. Caruso molda o roteiro de F. Scott Frazier a seu talante, chegando a um todo irregular de momentos de ação que de fato cativam e de lacunas em que o tédio e inescapável, ou por já se saber onde vão dar os esforços dos personagens, ou por um mais do mesmo repisado de muitos outros longas do gênero.
O diretor sintetiza muito do que acontece em “xXx: Reativado” a partir do plano-sequência de abertura, que registra em computação gráfica um satélite incendiando-se e caindo sobre a Terra. Depois, cozinheiros preparam uma refeição num restaurante chinês de luxo, e ligando os dois ambientes, por óbvio, está o fogo. Augustus Gibbons, à primeira vista um homem irritantemente comum para aqueles que nunca assistiram a nenhum dos filmes Triplo X, aos poucos revela-se um tipo admirável. Uma imensa cicatriz na face esquerda sugere acertadamente um passado de luta, sem figura de linguagem. Gibbons foi capaz de, sozinho, impedir a Terceira Guerra Mundial, mas agora parece mais interessado mesmo é em acertar os versos de “What a Wonderful World” (1967), sucesso na voz de Louis Armstrong (1901-1971) no caraoquê. Mesmo assim, é colhido pela tragédia que acende o mote central do enredo, com Jane Marke, uma alta funcionária da CIA comandando uma reunião com agentes de todo o mundo. Visivelmente constrangida, engessada num papel que não lhe assenta nem sob um excelente cachê, Toni Collette deixa-os à par da existência de uma tal Caixa de Pandora, arma com potencial para, mediante sofisticadas invasões cibernéticas, transformar satélites em mísseis de combate.
No meio do segundo ato, entra em cena o núcleo jovem da história, com Nina Dobrev na pele de Becky Clearidge, a nerd que passa boa parte dos 110 minutos de projeção empenhada em desabilitar o software genocida que faz a tecnologia virar-se contra todo o gênero humano. Na linha de frente, Nicky “Nicks” Zhou, também conhecido como Encapuzado, um espirituoso DJ que, reza a lenda, já seduziu Taylor Swift e Lady Gaga numa mesma noite, dá um tempo das carrapetas a fim de ajudar a equipe de Marke com os trabalhos menos cerebrais. Kris Wu quiçá seja quem mais responda pela graça de “xXx: Reativado” — embora Ainsley, a típica mocinha de Hermione Corfield, renda lances de um inesperado romantismo inocente nessa versão de “007” sem requinte.
Filme: xXx: Reativado
Direção: D.J. Caruso
Ano: 2017
Gêneros: Ação/Aventura
Nota: 7/10
Fonte: Revista bula