Por Welber Santos ( Portal Ipirá City) – Terça, 26 de abril de 2022
Ipirá completou 167 anos no último dia 20 de abril. A cidade fez uma festa muito bonita. É sempre gratificante ver o povão nas ruas em momentos de alegria e diversão. Mas sempre podemos avançar mais. Destaco aqui dois aspectos importantes a serem levados em conta pelo poder público municipal:
O primeiro diz respeito ao processo de valorização dos artistas da cidade.
Em Santo Amaro da Purificação, todos os anos no aniversário da cidade, se tem a participação de um dos seus filhos ilustres, Caetano Veloso, numa simbologia de manutenção dos vínculos da cidade com o artista da terra.
Em Ipirá, o artista de maior projeção nacional e internacional é Raimundo Sodré. Era de se esperar que um artista desta magnitude tivesse cadeira cativa ao menos no aniversário da cidade. Seria um grande presente não só para os que já conhecem seu trabalho, mas também para as novas gerações terem acesso a este artista e valorizar o que nossa cultura local é capaz de produzir.
Muito importante, claro, abrir espaço para as bandas da cidade – e assim tem de ser feito –, mas mais importante ainda que se tenha cadeira cativa para um artista como Sodré, com uma carreira extremamente consolidada. Inclusive para não ficar no discurso hipócrita de que valoriza o artista da terra. Vai esperar morrer para fazer uma estátua ou colocar o nome de uma rua e chamar isso de valorização?
O segundo aspecto é sobre a incapacidade criativa de quem produz estes eventos públicos. Utiliza-se o critério de “ a galera gosta” para não falar de outros interesses monetários para a definição de uma grade de shows.
Somente o poder público é capaz de produzir eventos que crie condições concretas para a formação de público, para que o povão tenha acesso a outros artistas e estilos musicais diversos criando um ambiente sim de diversidade musical.
Chega a ser preconceituoso dizer que o povão só gosta do estilo A ou B. Este público precisa ser estimulado e esta é uma responsabilidade primeira do poder público. Se não se estimula não haverá novos olhares, novos gostos, novos prazeres. Não haverá mesmo diversidade.
O que se vê anos após anos são os mesmos estilos musicais que se sucedem e, embora a festa sempre deixe seu tom de beleza e alegria, é também uma forma perversa de se manter o povão limitado ouvindo as mesmas coisas.
E o que proponho? Que a festa de aniversário da cidade seja o espaço para que todos os anos se traga artistas que nunca tiveram em nossa cidade, dos mais variados estilos musicais imagináveis: pagode, samba, rock, reggae, erudita, romântica, jazz, samba-reggae, salsa, merengue, pop, forró, rumbia, brega…
A existência de um setor de cultura na cidade sem recursos próprios, estrutura mínima, sensibilidade e uma política cultural vai constar apenas como uma mobília na estrutura do poder público municipal.
Vamos pensar um pouco?