Devir quilomba: sobre lutar sem perder a ternura

cultura

Obra da Editora Elefante lança novo olhar para história da resistência quilombola, destacando o protagonismo feminino na luta por terra e cultura. E evidencia mulheres protagonistas na defesa de seus territórios. Sorteamos um exemplar

Quais imagens vêm à mente quando se pensa na resistência quilombola? Essa pergunta pode ter diversas respostas, mas é importante refletir que, ao longo da história, figuras como a do guerreiro Zumbi dos Palmares dominaram as representações públicas sobre os quilombos. Longe de negar sua importância e legado, o objetivo aqui é destacar como uma narrativa parece prevalecer.

De acordo com a pesquisadora Mariléa de Almeida, quilombos costumam estar associados à resistência masculina – frequentemente representada pela virilidade, pela luta armada e pela força física dos homens que, ao longo dos séculos, se tornaram símbolos dessa resistência.

No entanto, nos últimos anos, uma mudança significativa tem ocorrido. À medida que a história das mulheres quilombolas ganha visibilidade e reconhecimento, seus papéis na luta por seus territórios e direitos começam a ganhar novos contornos.

É nesse contexto de transformação das narrativas que surge a obra Devir quilomba: antirracismo, afeto e política nas práticas de mulheres quilombolas, um estudo da historiadora Mariléa de Almeida sobre as práticas femininas e antirracistas nos quilombos contemporâneos do Rio de Janeiro.

Outras Palavras e Editora Elefante irão sortear um exemplar de Devir quilomba: antirracismo, afeto e política nas práticas de mulheres quilombolas, de Mariléa de Almeida, entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a segunda-feira do dia 25/11, às 14h. Os membros da rede Outros Quinhentos receberão o formulário de participação via e-mail no boletim enviado para quem contribui. Cadastre-se em nosso Apoia.se para ter acesso!

Com base em uma rica diversidade de fontes, a pesquisa de Mariléa revela como as políticas públicas, muitas vezes controversas, interferem diretamente na luta pela terra, ao passo que expõe como as mulheres quilombolas continuam a ser as principais defensoras da manutenção de seus espaços de vida e de sua cultura.

A investigação abrange um período que começa no final da década de 1980, com a conquista do direito territorial para as comunidades remanescentes de quilombo, e se estende até a primeira década dos anos 2000.

Tal período é marcado, de forma contraditória, pela expansão de políticas públicas voltadas para os territórios quilombolas, acompanhada de um processo crescente de burocratização no acesso a esses direitos.

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O escrito também analisa o cenário de desmantelamento desses programas entre 2016 e 2017, em meio ao golpe parlamentar que afetou o país. No desenrolar da pesquisa, foram realizadas 48 entrevistas, com destaque para as falas de mulheres quilombolas.

Além das entrevistas, foram consultados diversos materiais, como relatórios de identificação antropológica, documentos cartoriais, legislações sobre a questão territorial, projetos de lei, matérias jornalísticas, registros fílmicos e o acervo de história oral do Laboratório de História Oral da Universidade Federal Fluminense (Labhoi/UFF).

Indo além da simples documentação histórica, Mariléa propõe que o afeto não só compõe as relações intercomunitárias, mas também serve como um método de pesquisa, conectando o trabalho acadêmico ao processo de construção de um conhecimento genuinamente afetivo.

Ao abordar o cotidiano dessas regiões, Mariléa testemunha que esse tipo de vínculo não pode ser ignorado, pois ele é central para compreender as relações de pertencimento e resistência que moldam os quilombos.

O olhar atento à complexidade das narrativas femininas coloca em evidência como essas mulheres, ao lado de suas lutas, também exercem uma forma de cuidado que se entrelaça com a resistência.

Através dessas histórias, a pesquisadora revela como a construção e manutenção dos territórios quilombolas não se restringem a disputas de terra, mas envolvem a criação de espaços seguros, onde é possível o reencontro com histórias e saberes que foram violentados. 

Além disso, suas trajetórias demonstram como a luta por direitos territoriais, a resistência à violência e a construção de espaços seguros para a preservação da cultura quilombola se entrelaçam com práticas de cuidado e com uma ética de solidariedade em um ambiente coletivo.

O conceito de devir quilomba, surgido dessa pesquisa, é uma chave para compreendermos como as mulheres quilombolas não apenas vivem, mas também transformam seus espaços de vivência, fazendo da luta um ato de cuidado, da resistência uma forma de ternura e da defesa de seus espaços um gesto contínuo de reconciliação com as histórias e saberes que foram silenciados ao longo do tempo.

A presença crescente dessas líderes na cena pública é um reflexo de um movimento mais amplo, no qual as narrativas de resistência também ganham uma perspectiva de gênero. A publicação é apenas um exemplo desse movimento, no qual as mulheres assumem a autoria de suas trajetórias de resistência.

Por fim, como afirma a autora: “Até a década de 1990, as experiências das mulheres quilombolas foram invisibilizadas ou narradas de forma tímida pela historiografia brasileira. Ademais, até aquele momento, os quilombos eram pensados como espaços isolados de negros fugidos”; essa mudança na narrativa é também uma luta contra essa invisibilidade histórica.

Desde o fim dos anos 1980, tais mulheres têm se afirmado como figuras centrais na resistência e na defesa de seus territórios.

Além de reescrever a história da resistência quilombola, a obra coloca as mulheres como protagonistas dessa construção, revelando o potencial transformador de suas práticas e vivências.


SOBRE A AUTORA

Mariléa de Almeida nasceu em 1973, na cidade de Vassouras (RJ). Doutora em História pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), sua tese recebeu, em 2020, menção honrosa no Prêmio de Teses Ecléa Bosi, promovido pela Associação Brasileira de História Oral. Em 2015, realizou doutorado sanduíche na Universidade Columbia, em Nova York, sobre os feminismos negros estadunidenses (1980-1990). Escritora das encruzilhadas, seus textos mesclam história, literatura, filosofia e psicanálise.


Em parceria com a Editora ElefanteOutras Palavras irá sortear um exemplar de Devir quilomba: antirracismo, afeto e política nas práticas de mulheres quilombolas, de Mariléa de Almeida, entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a segunda-feira do dia 25/11, às 14h. Os membros da rede Outros Quinhentos receberão o formulário de participação via e-mail no boletim enviado para quem contribui. Cadastre-se em nosso Apoia.se para ter acesso!


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Fonte: Outras Palavras / Divulgação Quilombo da Fazenda, uma das três comunidades quilombolas de Ubatuba.



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