A maioria dos eleitores disse que não deseja alterar a Constituição do Estado para incluir proibição ao aborto.
Esse foi o primeiro teste nas urnas sobre a questão do aborto desde que a Suprema Corte dos EUA revogou, em junho, uma decisão de 1973 que legalizava a prática em todo o país.
O referendo no Kansas poderia permitir que o Legislativo local restringisse ou proibisse o aborto no Estado.
Projeções sugerem que mais de 60% dos eleitores no referendo do Kansas votaram em favor do direito constitucional no Estado para que as mulheres tenham acesso ao aborto.
O resultado terá impacto nacional, já que os EUA se preparam para a realização de eleições parlamentares em 8 de novembro, em que o Partido Democrata — que é majoritariamente em favor do aborto — luta para manter o controle do Congresso.
O presidente dos EUA, Joe Biden, disse que o resultado mostrou que “a maioria dos americanos concorda que as mulheres devem ter acesso ao aborto”.
Uma eleitora, Taylor Hirth, chorou ao comemorar o resultado com sua filha de nove anos em uma festa na cidade de Overland Park.
“Sou uma sobrevivente de estupro, e só de imaginar que minha filha possa engravidar e não possa fazer nada sobre isso me irrita”, disse ela à BBC.
“Nunca pensei que isso aconteceria aqui, mas trabalhamos muito aqui para conseguir o voto. Os republicanos nos subestimaram.”
Um sinal de eleitores descontentes
Nomia Iqbal, repórter da BBC News no Kansas
Quando a decisão Roe v Wade foi derrubada, o presidente Biden disse que o direito ao aborto seria um problema para os eleitores. O que aconteceu no Kansas mostra que essa preocupação é real.
Este é um Estado vencido pelo ex-presidente republicano Donald Trump por 15 pontos percentuais de diferença há apenas dois anos, nas eleições de 2020. Mas agora o mesmo eleitorado votou para proteger o acesso ao aborto por uma vitória considerada esmagadora.
Os números atuais ainda são apenas uma projeção. O resultado oficial será confirmado dentro de uma semana. Mas para democratas e grupos pró-escolha, isso é um sinal de que os americanos estão profundamente insatisfeitos com a derrubada do direito ao aborto — e veem a decisão da Suprema Corte como fora de sintonia com a opinião pública.
Autoridades do Kansas disseram que a participação dos eleitores em todo o Estado foi significativamente maior do que o esperado em um dia de votação de primárias (as prévias dos partidos na eleição americana), quando os republicanos geralmente superam os democratas na proporção de dois para um.
O mês anterior à votação no referendo foi de tensão. Uma igreja católica e uma estátua da Virgem Maria foram vandalizadas com tinta vermelha e um slogan pró-escolha.
Na véspera da votação, alguns eleitores receberam notícias falsas afirmando que para proteger o direito ao aborto seria necessário votar no “sim” — mas na verdade o oposto é verdadeiro. A empresa de tecnologia Twilio disse que suspendeu o remetente anônimo de sua plataforma.
Embora o Kansas seja amplamente conservador, seus regulamentos de aborto são menos rigorosos do que muitos outros Estados liderados por republicanos.
A lei estadual permite que a gravidez seja interrompida em até 22 semanas com outras restrições, incluindo um período de espera obrigatório de 24 horas e consentimento obrigatório dos pais para crianças.
A legislatura do Kansas é controlada por republicanos anti-aborto, mas sua governadora, Laura Kelly, é democrata. Ela havia alertado que mudar a constituição do Estado colocaria o Kansas “de volta à idade das trevas”.
Mais de uma dúzia de Estados liderados por republicanos decidiram proibir ou restringir ainda mais o aborto desde a decisão da Suprema Corte em 24 de junho.
Mas 10 Estados dos EUA, incluindo Kansas, têm o direito ao aborto consagrado em suas constituições estaduais. Essas regras só podem ser derrubadas por meio de referendos.
Outros Estados, como Califórnia e Vermont, vão realizar votações em novembro, buscando aumentar as proteções ao direito ao aborto em suas constituições estaduais.
Fonte: BBC