Por Hugo Leite
Com 74 anos completados em setembro deste ano, a Refinaria de Mataripe, localizada no município de São Francisco do Conde, na Região Metropolitana de Salvador, na Bahia, desde 2021 é gerida pela empresa Acelen. O grupo tem implementado mudanças significativas na produção energética da planta industrial, como relata Celso Ferreira, diretor de operações da companhia, em entrevista concedida ao Bahia Notícias.
O dirigente revela a responsabilidade da companhia, que pertence ao fundo Mubadala Capital, dos Emirados Árabes Unidos, de administrar a Refinaria baiana e como o desafio foi encarado. “Recebemos o ativo da maior empresa do Brasil e desde que assumimos a gestão já tínhamos um plano traçado, que envolvia uma refinaria mais segura, mais sustentável e mais competitiva. Para isso, foi investido mais de R$ 2 bilhões com troca de equipamentos, automações e versões mais atualizadas no sistema de controle. Enfim, uma série de melhorias que precisavam ser feitas no período pré-aquisição e a partir deste ponto nos estruturamos e implementamos as medidas necessárias.”
Celso pontua o que realmente é perseguido pela Refinaria. “Aumentamos em 4% a capacidade de processamento de petróleo desde o começo da gestão e em 13% a produção de óleo diesel S10, que é uma substância ambientalmente mais correta. Hoje, somos a segunda maior refinaria do país. Temos 302 barris de capacidade de processamento de petróleo. Entretanto, nosso objetivo não é ser a maior, e sim a melhor da América Latina. Um reflexo disso é que pelo terceiro ano seguido a Acelen foi indicada entre as três melhores refinarias localizadas em países latinos”, disse.
Para o diretor, temas como sustentabilidade, segurança e meio ambiente correspondem aos valores da empresa e estão no eixo estratégico da companhia. “Em busca de otimizar nosso consumo energético começamos a reaproveitar correntes que antes eram enviadas ao flaring [queima de gás natural, que sai dos poços junto com o petróleo], conseguimos reduzir em 50% essas perdas; diminuímos em 87% as emissões de enxofre; consertamos o vazamento de vapor; e recuperamos o isolamento energético. Esses processos resultavam em perda de energia”, explica.
Ele acrescenta que inovações tecnológicas foram postas em prática pela nova gestão. “Também recolocamos em operação mais de 200 trocadores de calor, que são aparelhos que melhoram a eficiência energética. Aliado a estas práticas, implementamos um processo de transformação digital com um simulador que mede o consumo de energia em tempo real, a cada minuto. Então, reduzimos o consumo energético em 13%, além do consumo de água, que foi diminuído em 26%.”
Como forma de redirecionamento para matrizes renováveis, a Acelen vai diversificar a sua produção de energia, segundo o executivo. “Estamos investindo R$ 530 milhões, oriundos do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC), do Governo Federal, em uma usina de energia solar no semiárido baiano, em parceria com a Perfin Infra e Illian Energias Renováveis, que vai gerar 161 MW e fornecer metade do consumo de energia da refinaria. Esperamos começar a operar em 2026”, afirma o diretor.
De acordo com Ferreira, a empresa quer ser protagonista na transição energética no país, e para isso vai instalar uma biorrefinaria em 2027, integrada com a Refinaria de Mataripe. “Com esse novo empreendimento produziremos um bilhão de litros de combustíveis renováveis por ano: diesel renovável (HVO) e combustível de aviação renovável (SAF), através da macaúba, planta que consegue ser de sete a dez vezes mais eficiente que a soja, além de ser cultivada com menor uso de água e insumos, bem como gerar menos poluentes e resíduos, uma vez que é possível aproveitar integralmente o seu fruto. É um projeto de 3 bilhões de dólares que está em andamento e prevê a utilização de 180 mil m² de áreas degradadas, com o aproveitamento da agricultura familiar e um centro de tecnologia, que está em construção, em Montes Claros, no norte de Minas Gerais.”
“A biorrefinaria vai gerar muitas oportunidades. Estimamos um impacto de 16 bilhões de dólares na economia baiana. Segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas, o empreendimento vai gerar mais de 90 mil empregos diretos e indiretos, sendo que parte desses empregos serão na Bahia. Os pequenos produtores terão acesso a financiamentos, capacitação para o cultivo consorciado de macaúba e outras culturas complementares”, ressalta o dirigente.
E acrescentou sobre a nova empreitada da Acelen. “Esse projeto [da biorrefiaria] vai alterar positivamente toda uma cadeia econômica: pessoas que irão arrendar as terras onde será plantado; os fornecedores de fertilizantes poderão escoar a produção, bem como todos os produtores de insumos para a agricultura; haverá demanda de serviços na construção industrial, exemplo é o segmento de materiais ferrosos e montagem”, revelou o diretor.
Ele também destacou a importância dada aos moradores da região, que foi traduzida em iniciativas. “Somos um player relevante da economia baiana. Trouxemos uma dinâmica de crescimento e fortalecimento. E não é só em questão de produção, mas envolve o relacionamento com a comunidade ao redor da Refinaria. Investimos R$ 25 milhões em ações sociais desde o começo da Acelen, em Mataripe.”
Celso explicou o significado do investimento feito no Terminal Aquaviário de Madre de Deus (Temadre), responsável por 95% do petróleo que chega a refinaria, além de ser responsável pelo escoamento das exportações, bem como a cabotagem de gasolina, querosene para aviação e óleo diesel.
“Investimos recentemente R$ 70 milhões no aprofundamento do calado do Terminal de Temadre. Ao aumentar o calado, conseguiremos trazer navios maiores de petróleo, eliminando uma operação que era feita em alto mar: transferência do petróleo do navio principal para um navio aliviador, que são responsáveis pelo transporte de combustível das plataformas para as refinarias. Assim, a operação fica mais segura e há ganhos em competitividade por eliminar uma etapa do processo”, salientou o executivo.
Fonte: BN / Foto: Divulgação/Acelen