Grande homagem de um fã à carreira de Maria Bethânia, o documentário “Maria — Ninguém Sabe Quem Sou Eu” chegou nesta quinta-feira (1) ao circuito nacional de cinema. O filme, em que a cantora abre o coração, marca a estreia do jornalista Carlos Jardim, fã declarado da artista baiana, como diretor.
A história do fã com a ídola já dura 42 anos e Jardim já perdeu a conta de quantos shows já assistiu. Esse encantamento com a história da filha de Dona Canô rendeu, inclusive, não só o doc, mas um ebook lançado pela Editora Máquina de Livros, batizado de “Ninguém Sabe Quem Sou Eu (A Bethânia Agora Sabe!)”. Em relatos na primeira pessoa, Jardim conta as loucuras que já fez para se aproximar e ser notado por Bethânia.
O possível desapontamento com a aproximação desejada, ao constatar que o ídolo idealizado não é nada do que se esperava, nunca foi um medo do diretor. “Nunca tive receio, pois escolhi meu ídolo muito bem. Ela é de uma integridade absoluta, inteligência rara, embora tenha fama de difícil, mas só porque faz o que quer e gosta. Isso é o que faz dela uma pessoa legítima”, afirmou Carlos ao Correio Braziliense.
No filme, o diretor traz a cantora como protagonista, falando de si e de sua trajetória, numa entrevista concedida em 24 de novembro de 2021, no teatro do Copacabana Palace. No livro, o protagonista é o autor, que afirmou ter sido um grande desafio assumir o projeto.
“Há filmes muito bons sobre Bethânia, como ‘Fevereiros’, de Márcio Debellian, de 2017, e ‘Maria Bethânia — Música é Perfume’, de Georges Gachot, de 2005. Queria fazer diferente, um filme sem pessoas falando sobre ela, em que só ela falasse. Seria Bethânia por Bethânia”, disse.
Chefe de redação da Globonews, Jardim, no entanto, teve a proximidade com a musa facilitada, já que alguns especiais sobre ela estavam sendo realizados pelo canal. A grande pesquisa de imagens, que “colorem” as falas da cantora na atualidade, foram cedidas pelos acervos da Globo e da TV Bahia, afiliada da emissora no estado. “Como conheço bem o acervo, orientei os pesquisadores. Priorizei imagens de ensaios, pois são menos conhecidas”, revela.
Para mostrar a dimensão que Bethânia tem para os outros, e não somente para ele, o diretor reuniu cinco textos, de Caio Fernando Abreu, Ferreira Gullar, Nelson Motta, Reinaldo Jardim e Fauzi Arap, que foram lidos por Fernanda Montenegro.
Durante duas horas, Bethânia fala de pessoas importantes para ela, como os pais, dona Canô e seu Zeca Veloso, o irmão Caetano, Chico Buarque, Nara Leão, Fauzi Arap, Fernando Pessoa, e sua cidade natal, Santo Amaro da Purificação, na Bahia. A graça, segundo Jardim, é a falta de “preparação” da entrevistada, durante a conversa. “Ela não chegou preparada. Elaborou as respostas, estava ali por inteiro”, relembra.
Imagens raras, como as dos ensaios do show que ela e Chico Buarque fizeram em 1975 e do encontro com Caetano em um show em 1978, chamam atenção, além de imagens mais atuais, de bastidores, como as que o próprio Jardim registrou em dezembro de 2021, no Teatro Castro Alves, em Salvador.
No livro, o diretor revela que, mesmo já conhecendo Bethânia, ficou muito nervoso na entrevista. “Estava tudo ligado, estávamos prontos para começar. Eu, nervoso, e ela muito carinhosa e educada, como sempre. Passou a gravação olhando para mim, e aquele olhar da Bethânia é muito expressivo, firme e forte. Levei uns bons minutos para me acalmar. Quando terminou, ela se virou para mim e perguntou: ‘Ficou bom, do jeito que você queria?’. Isso foi de uma grandeza… Então, não tem como não amar Bethânia”, derrete-se Jardim.
O resultado, o público de Salvador pode conferir no UCI Orient Shopping da Bahia e no circuito Saladearte.
Fonte: Alô alô Bahia