O dólar subia frente ao real nas primeiras negociações desta segunda-feira (9), em linha com a força da divisa norte-americana no exterior, com os investidores na espera de dados cruciais de inflação nos Estados Unidos a fim de avaliar o tamanho do afrouxamento monetário do Fed (Federal Reserve) neste mês.
Às 9h06, o dólar à vista subia 0,4%, a R$ 5,6121 na venda. Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento tinha alta de 0,16%, a R$ 5,625.
Na sexta-feira (6), o dólar fechou em alta de 0,35%, a R$ 5,591, e a Bolsa teve forte queda de 1,41%, aos 134.572 pontos.
O dia foi pautado pela divulgação do relatório de emprego “payroll” (folha de pagamento, em inglês), que trouxe dados mais fracos do que o esperado pelo consenso do mercado.
A economia dos EUA abriu 142 mil vagas de emprego em agosto, ante 89 mil em julho, em dado revisado para baixo. Analistas consultados pela Reuters esperavam a criação de 160 mil vagas.
O relatório, divulgação mais aguardada da semana, não foi capaz de eliminar as incertezas em torno da magnitude do corte nos juros dos Estados Unidos, previsto para a próxima reunião de política monetária do Fed.
O comitê se reúne nos dias 17 e 18 de setembro para decidir sobre a taxa, na faixa de 5,25% e 5,50% desde junho do ano passado —o patamar mais restritivo em duas décadas.
Os números do mercado de trabalho norte-americano têm ditado as apostas sobre o tamanho da redução, dada como certa por agentes financeiros desde o final de julho.
O payroll mostrou que a taxa de desemprego recuou para 4,2%, ante 4,3% em julho. Já os salários aumentaram 3,8% em relação a 2023, depois de avançarem 3,6% em julho.
A leitura é que a divulgação mostrou uma desaceleração ordenada, sem grandes deteriorações nos índices de empregabilidade do país. Uma bateria de outros resultados do mercado de trabalho, também divulgados ao longo da semana passada, ajudou a pintar esse cenário para os operadores financeiros.
“O mercado de trabalho americano deu mais um indício de enfraquecimento, mas sem apontar para uma recessão. Os outros dados de emprego dessa semana vão na mesma linha”, diz André Valério, economista sênior do Inter.
Com os dados em mãos, agentes financeiros chegaram a precificar um corte mais agressivo nos juros no próximo encontro. As apostas de redução de 0,50 ponto percentual se tornaram majoritárias no início da tarde de sexta-feira, reunindo 59% dos investidores, ao passo que a de 0,25 ponto caiu para 41%.
No final do dia, porém, as proporções se inverteram. Agora, a redução menor é a aposta mais consolidada, com 71% de probabilidade, e a de 0,50 ponto caiu para 29%.
“Está claro que o mercado de trabalho está desacelerando, e o Fed precisa começar a se movimentar”, disse Eugenio Aleman, economista-chefe da Raymond James, que acredita que o primeiro corte será de 0,25 ponto.
“Mas o céu não está caindo, o chão não está tremendo… E fazer um corte de 0,50 ponto enviará um sinal incorreto ao mercado de que a economia está desmoronando. E eles não querem fazer isso.”
O dólar costuma se depreciar à medida que os juros dos EUA caem, já que a queda nos rendimentos da renda fixa americana estimula a busca por ativos de maior risco.
Para o real, há ainda outro fator de relevância: a discussão em torno da taxa básica de juros do país, a Selic, atualmente em 10,50% ao ano.
O Copom (Comitê de Política Monetária), desde a última reunião do BC (Banco Central), tem reforçado que um novo ciclo de altas está à mesa para levar a inflação de volta ao centro da meta, se os dados indicarem necessidade.
O comitê trabalha com a meta de inflação em 3%, definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional, órgão ligado ao Ministério da Fazenda) e com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. A taxa básica de juros é o principal instrumento do BC para controlar a alta de preços.
Novos dados divulgados na última semana acirraram hipóteses de que o Copom poderá elevar a Selic já no próximo encontro, também marcado para os dias 17 e 18 de setembro.
No segundo trimestre, o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro cresceu 1,4% em comparação aos três meses iniciais de 2024, ante expectativa de 0,9% de analistas consultados pela Bloomberg. Já os números de emprego medidos pela Pnad Contínua mostraram que a taxa de desocupação recuou a 6,8% —o menor patamar para o período desde o início da série histórica do indicador, de 2012.
As atenções se voltam agora aos dados do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), indicador oficial da inflação do país que será publicado na terça-feira, para calibrar as apostas sobre a Selic. Até sexta, a agência Reuters precificava probabilidade de 97% de aperto de 0,25 ponto percentual.
Folhapress / Foto: © Valter Campanato/Agência Brasil