Estudo da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP pretende identificar demandas de uma das maiores parcelas da população brasileira
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a população idosa deve dobrar até 2042. Os números dessa parcela da sociedade são relevantes, ainda mais do ponto de vista da formulação de políticas públicas: “É uma realidade da sociedade, tem um envelhecimento populacional acelerado”, diz o professor Nivaldo Carneiro Júnior, do Departamento de Saúde Coletiva da Santa Casa de São Paulo.
Por isso, a Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP (EACH), em parceria com a Santa Casa, está fazendo um estudo sobre as pessoas idosas que moram sozinhas: “Tem determinantes pessoais, mas, em geral, não é uma opção. Geralmente, ou o filho abandonou ou teve um processo de ruptura de laços familiares. É uma questão que se coloca e precisa ver: que diferenças, que situações, que realidades se colocam para uma pessoa que mora sozinha e o que isso demanda para as políticas públicas”, explica Carneiro.
Objetivo
“Essa nossa pesquisa está dedicada a entender mais as questões relacionadas às pessoas idosas que moram sozinhas. Nenhum problema em morar só, mas o que nos chama atenção é o que precisamos em relação às políticas públicas: se as pessoas estão vivendo sozinhas por opção ou se é uma falta de opção, e de que maneira os serviços também enxergam essas demandas e fazem encaminhamentos quando necessários”, comenta a professora Marisa Accioly, do curso de graduação em Gerontologia da EACH.
Além disso, o estudo pretende analisar as várias vulnerabilidades nesse âmbito: “Não há uma, há várias vulnerabilidades sociais. Nosso objetivo é identificar, retificar ou ratificar essas questões, mas também encontrar outras. Na pesquisa, a gente vai buscar identificar, comprovar e ouvir pessoalmente os idosos”, acrescenta Carneiro.
Os dados iniciais serão recolhidos de diversas pesquisas brasileiras, mas a proposta do estudo é realizar entrevistas e recolher informações. “Na nossa primeira fase, nós vamos nos dedicar a fazer a entrevista com dados quantitativos e qualitativos de pessoas idosas que moram na região central da cidade de São Paulo. Então, selecionamos alguns locais da região central, onde esses idosos frequentam, e fazemos a aplicação do questionário”, coloca Marisa.
Impactos
“É para que realmente os gestores das políticas públicas tenham mais informações daquilo que é necessário em relação aos determinantes sociais, de saúde, para as pessoas idosas com relação à sensibilidade aos locais públicos, aos serviços que estão disponíveis, às questões de segurança. Vai ser algo extremamente necessário e oportuno para viabilizar um dos marcadores da Organização Mundial da Saúde, que é o envelhecer na comunidade”, pontua a professora sobre os impactos que a pesquisa deve gerar.
Carneiro acrescenta que as informações e a produção científica são fundamentais para a criação e aprimoramento na agenda de políticas públicas, sobretudo para uma população que deve se tornar ainda mais numerosa nos próximos anos: “Um dos impactos é na agenda pública, essa necessidade de ter políticas. Para isso, precisamos ter informações. A produção científica, a pesquisa, tem o papel de informar para possibilitar o gestor público saber pautar”.