PIB israelense amarga uma das piores contrações de sua história em meio à perda de vidas dos dois lados. Na Palestina, onde número de mortos se aproxima de 30 mil, impacto econômico foi ainda pior
Por Bloomberg — Tel Aviv – Terça, 20 de fevereiro de 2024
Em guerra contra o Hamas, grupo terrorista que controla a Faixa de Gaza, Israel amarga um das piores contrações de sua economia. Desde que os atentados de outubro do ano passado desencadearam uma ofensiva militar israelense no território palestino vizinho, com residências evacuadas em áreas de fronteira e milhares de reservistas convocados, muitas empresas tiveram de parar suas atividades.
O resultado foi uma contração de 19,4% do Produto Interno Bruto (PIB), no índice anualizado e com ajuste sazonal relativo aos três últimos meses de 2023, de acordo com números preliminares divulgados hoje.
Foi um resultado pior que todas as estimativas de uma pesquisa da Bloomberg com analistas, cuja previsão média era de um declínio de 10,5%.
O shekel enfraqueceu ligeiramente com a notícia. A moeda israelense era negociada com queda de 0,4%, a 3,62 por dólar, às 15h53 em Tel Aviv, rumo à primeira queda em quatro dias. Na Bolsa, as ações de empresas do país interromperam uma sequência de valorização.
“O comunicado destaca o grau em que a economia israelense foi afetada pelo conflito, particularmente no lado da atividade privada”, afirmaram num relatório os economistas do banco americano Goldman Sachs Tadas Gedminas e Kevin Daly.
Embora a guerra tenha quebrado o dinamismo da economia de Israel no final de 2023, o PIB do país ainda cresceu 2% no ano passado, correspondendo à projeção do departamento de pesquisa do banco central israelense. A estimativa de crescimento do Banco de Israel para 2024 é a mesma, de 2%, enquanto o Ministério das Finanças do governo de Benjamin Netanyahu prevê 1,6%.
Os números divulgados hoje são os primeiros oficiais a demonstrar o impacto da guerra na economia de Israel, que vinha crescendo com o crescimento de segmentos como a indústria de tecnologia. Estima-se que cerca de 8% da força de trabalho do país foi convocada para reforçar as tropas militares engajadas nos ataques à Faixa de Gaza e na proteção de outras fronteiras, como as que separam o país do Líbano e da Síria.
Em alguns setores, o impacto econômico é comparado ao da pandemia de Covid-19, com paralisações repentinas na produção de manufaturados, a retração do consumo e a suspensão de atividades escolares e em escritórios por um certo período. Até mesmo a atividade de estaleiros e de construtoras foi afetada.
Medidas sem precedentes foram tomadas pelas autoridades econômicas de Israel para minimizar as consequências do conflito no mercado financeiro e na economia, como o compromisso do banco central de vender até US$ 30 bilhões de suas reservas para manter o valor de sua moeda.
O shekel recuperou-se fortemente desde o fim de outubro e agora está mais valorizado que no início do conflito. Ainda assim, Israel teve sua nota de crédito rebaixada pela primeira vez neste mês pela agência de classificação de risco Moody’s, justamente quando o governo de Netanyahu prepara o aumento da emissão de títulos para financiar os seus gastos militares na ofensiva.
Perda palestina é ainda maior
Mas, nos territórios palestinos, o impacto econômico foi ainda pior em meio a uma crise humanitária devastadora. O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que o enclave às margens do Mediterrâneo experimentou praticamente um “quase completo colapso da atividade econômica” no quarto trimestre de 2023. O PIB de Gaza e da Cisjordânia encolheu 6% no ano passado, segundo o FMI.
Nos dois lados é elevado o número de vidas perdidas. Em Israel, foram 1.200 mortos nos ataques do Hamas, que ainda sequestrou 250 pessoas. A retaliação israelense já deixou 29 mil mostos em Gaza, de acordo com autoridades de saúde do território controlado pela organização terrorista.
Críticas do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, à ofensiva israelense com alto número de vítimas entre os civis em Gaza provocou, no último fim de semana, uma nova crise diplomática entre o Brasil e Israel.
Fonte: Globo/ Foto: Mercado vazio em Jerusalém: economia israelense perdeu quase um quinto do PIB — Foto: Kobi Wolf/Bloomberg