Editorial: A Picada do Político-Barbeiro e a Doença Crônica da Nação

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Por Jorge Wellington ( Portal Ipirá City) – Quinta, 20 de novembro de 2025

A imagem é vívida e perturbadoramente adequada: o inseto barbeiro, vetor da doença de Chagas, aproxima-se sorrateiramente de sua vítima. Ele escolhe um local sensível, anestesia a pele com sua picada e se alimenta. No ato, porém, deposita suas fezes contaminadas próximas ao ferimento. A vítima, sentindo coceira, leva o parasita para dentro de si, iniciando silenciosamente um processo de infecção que pode levar anos para manifestar seus sintomas debilitantes e, muitas vezes, fatais.

Esta é uma metáfora crua e precisa da política brasileira para milhões de cidadãos. O político-barbeiro, com seu discurso anestesiante, aproxima-se do corpo eleitoral. Promete alívio, progresso e soluções. Sua “picada” é o contato inicial, a campanha eleitoral, o abraço em praça pública, o juramento solene de servir ao povo.

No entanto, no mesmo ato, ele deposita suas “fezes” – os acordos espúrios, a corrupção, o fisiologismo, a promessa vazia. A “coceira” que se segue é a necessidade imediata do cidadão: um emprego, um benefício social, uma obra na comunidade, a sensação de pertencimento. Ao ceder à coceira e esfregar o local – ou seja, ao aceitar a migalha em troca do silêncio, ao justificar o “rouba, mas faz” –, a sociedade inadvertidamente introduz o veneno na sua corrente sanguínea.

A infecção, então, se instala. É lenta e insidiosa. Seus sintomas são a carencia crônica de infraestrutura, as escolas públicas decadentes, o sistema de saúde colapsado, o desemprego estrutural, os salários aviltantes, a violência desmedida e a epidemia das drogas. A população, intoxicada pela promessa não cumprida, fica vulnerável, enfraquecida e doente. O parasita do poder se alimenta de seu hospedeiro, debilitando-o para garantir sua própria sobrevivência.

E o que vemos hoje é uma infecção generalizada. A recente enxurrada de escândalos que envolve o mercado financeiro, bilhões desviados, bilionários, políticos de diversas esferas, igrejas, membros do Judiciário e o apoio de parte da mídia não é um tumor isolado. É a fase sintomática da doença. É a prova de que o parasita se espalhou por todos os órgãos vitais do Estado, criando uma simbiose perversa entre o público e o privado, onde o interesse nacional é o último elo da cadeia.

Esta não é uma crise, mas um projeto. A cultura do caos é instrumental. Uma população assustada, desesperançada e lutando pela sobrevivência do dia a dia não tem tempo, energia ou recursos para questionar as estruturas de poder. A subserviência é cultivada pela necessidade. O modelo, como bem definido, é genocida, pois permite a morte lenta de sonhos, de oportunidades e de vidas, especialmente entre os mais pobres.

A pergunta que ecoa no final é a mais dolorosa: Será que um dia isso muda?

A mudança é, de fato, hercúlea. O ciclo da “picada e da coceira” é vicioso. O medo, a desinformação, a descrença e a pura exaustão paralisam a vontade popular. Muitos entendem o jogo, mas se veêm sem cartas para jogar, temendo o caos maior ou a represália do sistema.

Contudo, a história nos mostra que parasitas podem ser combatidos. O primeiro passo é o diagnóstico correto e a recusa em se coçar. É reconhecer a picada anestesiante e rejeitar a lógica imediatista da migalha. É exigir transparência, apoiar instituições de controle e, acima de tudo, cultivar uma educação política robusta e independente.

A cura não virá de um remédio milagroso ou de um novo messias político-barbeiro. Virá de um sistema imunológico social fortalecido, capaz de identificar e rejeitar o parasita antes que a infecção se torne irreversível. É um trabalho de formiga, de gerações, que começa na sala de aula, no debate comunitário e no voto consciente. O Brasil precisa de um despertar coletivo para interromper, finalmente, esse ciclo doente. A alternativa é continuar sendo, eternamente, a vítima anestesiada de seu próprio algoz.

Com tudo isso, ainda existem ainda os bons políticos, funcionários públicos, bilionários, religiosos, profissionais da mídia, etc, que salvam a lavoura em alto e bom estilo, mesmo que sejam em pouca quantidade, porém merecem aplausos por representar a população.

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