por Frank de Castro – Sexta, 14 de março de 2025
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) recusou o recurso do presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ednaldo Rodrigues, em um processo de calúnia e difamação que durou cerca de 16 anos contra o jornalista Oscar Paris. A informação foi confirmada, na última segunda-feira (10), pelo advogado Gileno Félix, que defende o profissional (veja entrevista completa abaixo).

Na época, Oscar atuava na TVE e no jornal A Tarde, veículos da capital baiana e realizou reportagens que mostravam uma suposta participação da Federação Baiana de Futebol (FBF), comandada por Ednaldo, na falsificação de documentos do jogador Liédson.
“Na verdade, esse é um processo que me surpreendeu, porque eu só fiz jornalismo, eu não apontei o dedo para ninguém, eu não acusei ninguém, eu não disse que ninguém foi culpado de nada. Eu apenas mostrei um documento que tinha informações equivocadas sobre o passado do jogador Liédson. Eu fiz essa reportagem para TVE e repliquei no jornal A Tarde, onde eu era colunista na época, exatamente, fazendo uma pergunta: quem é o responsável por inventar uma ficha de atleta com erros crassos e completamente irreal, coisas que não são verdadeiras?”, explicou o comunicador.
Em uma primeira reportagem na TVE, televisão pública do estado da Bahia, Oscar recebeu uma denúncia de uma funcionária da Federação Baiana de Futebol que acusou o presidente da FBF de ter ordenado que fizesse essa ficha com dados errados.
“Nessa primeira reportagem uma funcionária da Federação Baiana de Futebol acusa, nominalmente, o presidente da FBF de ter ordenado que fizesse essa ficha com todos esses dados errados, com todos esses dados inexistentes. Eu não acusei ninguém, eu apenas disse que havia um erro e que como jornalista, a minha obrigação de cidadão e jornalista é esclarecer a população, a sociedade, os ouvintes e telespectadores do que tá errado. Eu fiz apenas o meu trabalho, mas eu jamais apontei o dedo pra alguém”.
Em 2003, Liédson foi negociado pelo Corinthians com o Sporting Lisboa, de Portugal, e foi surpreendido com uma documentação emitida pela CBF que atestava sua suposta formação nas divisões de base de uma equipe baiana.
“O Liédson não teve formação, o Liédson jogou até os 20 anos na liga Valenciana de futebol, até 1999, mas a Federação Baiana de Futebol criou um documento dizendo que ele jogava no Poções, desde os 13 anos [de idade]. E aí, quando o Sporting Lisboa contratou Liédson, ele chegou lá pro Sporting e disse: você tem que pagar pro Poções que formou o atleta até ele ser profissional, durante 6 ou 8 anos…aí, Liédson fez uma carta, assinou dizendo que jamais tinha jogado nas divisões de base do Poções”, relatou Oscar Paris.
Na entrevista, o jornalista ainda afirma que sua imagem foi prejudicada, trabalhava em dois veículos e que na época saiu de duas emissoras. Depois do processo, ocorrido em 2009, ele nunca mais foi contratado por nenhum outro veículo de comunicação.
Em nota, a Associação Bahiana de Imprensa apresentou Moção de Aplausos ao jornalista, na manhã desta quarta-feira (12):
A Diretoria Executiva da Associação Bahiana de Imprensa, reunida na manhã de 12 de março de 2025, aprova a presente moção de aplausos ao jornalista, poeta e compositor Oscar Paris, pela determinação e irresoluta firmeza pessoal no enfrentamento a caso típico de assédio judicial, somente encerrado com decisão recente e unânime do Superior Tribunal de Justiça, 20 anos depois de iniciados os processos.
Acionado por calúnia e difamação em 10 diferentes instâncias do Judiciário pelo ex-presidente da Federação Baiana de Futebol e atual presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Ednaldo Rodrigues, Oscar Paris teve o Jornalismo, como principal argumento de defesa. A melhor prática da reportagem, no rigor técnico e ético possível a qualquer jornalista humanamente fiel aos preceitos fundamentais da profissão.
E publica a presente moção na expectativa ensejar reflexões sobre a importância da contribuição individual e cotidiana na consolidação dos acordos que nos garantem convivência pautada pelo respeito na relação com os fatos e com as fontes. Que a contribuição pessoal deste jornalista seja bem apreciada no contexto da luta contra mais uma tentativa de usar o sistema judiciário e o Direito para cercear o livre exercício do jornalismo.
Ao aplaudir o colega, a ABI estende as mesmas congratulações a todas as pessoas que com ele escrevem este caso vitorioso de resistência – familiares, defensores e amigos imprescindíveis, seus colegas de copo e de cruz.
Salvador, 12 de março de 2025

O Sindicato dos Jornalistas da Bahia (SINJORBA) também comemorou o triunfo, por unanimidade, do jornalista Oscar Paris, na 6ª turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
“É uma demonstração inequívoca de que o bom Jornalismo sempre vence. As reportagens feitas por Oscar, em 2003, e que mostram a participação da Federação Baiana de Futebol (FBF), dirigida na época por Ednaldo, na falsificação de documentos do ex-jogador Liedson, são verdadeiras, com a apuração rigorosa dos fatos e apresentação de documentos. Pode demorar, mas a Justiça não falha”, explanou Moacy Neves, presidente do SINJORBA.
Confira a entrevista completa:
Fonte: Frank de Castro /Band Bahia/Nba