Jack Nicas comentou o post do parlamentar cuja legenda dizia que ‘nem mesmo’ o jornal, que seria ‘identificado com a esquerda’, consegue ‘esconder os abusos’ de Moraes
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) foi contestado nas redes sociais após omitir críticas do “The New York Times” ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O chefe da sucursal do México do jornal americano, Jack Nicas, um dos autores do artigo, comentou uma postagem do parlamentar que trazia trechos do texto e dizia, na legenda, que “nem mesmo” o periódico “identificado com a esquerda” consegue “esconder os abusos” do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes no contexto do julgamento da trama golpista.
“Eu escrevi essa matéria e, infelizmente, o Eduardo omitiu várias partes nesta postagem”, escreveu Nicas, que compartilhou gratuitamente o texto completo, que traz críticas tanto ao ex-presidente quanto ao Judiciário brasileiro.
O trecho destacado por Eduardo mostra que o jornal americano aponta que “nos últimos seis anos, o tribunal (STF) concedeu a si própria poderes extraordinários para enfrentar o que considerava uma ameaça extraordinária representada por Bolsonaro e seus ataques às instituições”. “Pela primeira vez, o tribunal pôde lançar e liderar suas próprias investigações abrangentes, mesmo quando a vítima era o próprio tribunal”, completa o artigo.
Eduardo omite, no entanto, que o artigo afirma que, nos quatro anos em que esteve no Palácio do Planalto, Bolsonaro e seus apoiadores “ameaçaram juízes, questionaram eleições, sugeriram um golpe militar e desencadearam uma onda de falsidades disseminadas pela internet”.
“Muitos brasileiros — e muitos americanos assistindo de longe — veem este momento como um triunfo da democracia. O Brasil, que emergiu de uma ditadura brutal há apenas 40 anos, terá conseguido algo que os Estados Unidos não conseguiram: levar um ex-presidente a julgamento por acusações criminais de que ele tentou se agarrar ao poder após perder uma eleição”, afirma o artigo.
O texto do jornal americano diz que, em resposta às ações de Bolsonaro, Moraes “ordenou ações policiais, censurou contas online, bloqueou redes sociais e, em alguns casos, prendeu pessoas sem julgamento”. Para o New York Times, os esforços do ministro resultaram em uma “transferência de poder bem-sucedida, apesar da recusa de Bolsonaro em admitir que foi destituído”.
“Mas também levantou uma questão complexa: trata-se de uma reviravolta perigosa e autoritária para o Supremo Tribunal Federal (STF)? Ou seria uma democracia imperfeita se esforçando ao máximo para lidar com uma ameaça autoritária na era da internet?”, pondera o jornal.
Para o New York Times, a maneira como o Brasil vem lidando com o julgamento deixou a nação “lutando com perguntas desconfortáveis sobre a própria democracia que buscava proteger”. O texto aponta que Moraes não quis ser entrevistado para o artigo.
Fonte: Globo / Eduardo Bolsonaro (PL-SP) discursa durante a Conferência da Ação Política Conservadora (CPAC, na sigla em inglês) em Maryland, nos EUA, em fevereiro de 2025 — Foto: Saul Loeb/AFP