Por Tarcísio Marques ( Portal Ipirá City) – Segunda, 13/03/23
Nas últimas semanas algumas coisas levaram-me a refletir sobre o aspecto da profissão professor. Para refrescar a sua memória, querido leitor, não recuarei tanto no tempo – pelo menos não neste momento –, e me atentarei a três acontecimentos do último mês (fevereiro de 2023), que provavelmente você se recorde muito bem.
1º Por volta do dia 8 de fevereiro, durante uma inauguração de uma escola na cidade Presidente Dutra (BA), a então secretária de educação do Estado da Bahia, disse em seu discurso que em retribuição ao presente que a cidade estava ganhando com aquela escola, os professores deveriam ir para as salas de aula aos sábados de forma voluntária.
2º No dia 23 de fevereiro de 2023, por conta de atraso no reajuste salarial os professores da cidade de Ipirá (BA), fizeram uma manifestação durante a jornada pedagógica do município para cobrar ao prefeito da cidade os seus devidos direitos. 3º Por fim, no dia 7 de março de 2023, a Mc Pipokinha aprece em suas redes sociais debochando dos professores, chamando-os de “coitados” por receberem cerca de 5mil reais de salário enquanto ela – segundo suas palavras – ganharia 70mil reais por um show de 30min.
E o que todos esses exemplos têm em comum? A subvalorização da classe docente. Em um estudo da Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE), publicado no ano de 2021, o professor brasileiro era o que – entre os 40 países analisados – ganhava menos.
Com isso, recuando no tempo da nossa própria história, observamos que a educação sempre esteve em terceiro, quarto ou até mesmo quinto plano de governo. E o que contribui ainda mais para agravar essa situação, é a ainda presença colonial nas nossas memórias.
Por muito tempo os letrados do nosso país eram os clérigos. Sobre a igreja estava depositado a responsabilidade do letramento. Talvez por conta disso ainda trazemos em nosso inconsciente coletivo a ideia de que a educação, por ser um “dom” – como muitos acreditam – seja também uma prática sacerdotal, onde aqueles que ensinam o fazem por amor e devoção.
Porém, professores não são padres e a educação não é um sacerdócio. Amamos a educação, mas não vivemos de amor. Amor não enche barriga e nem paga conta. Falas com a da secretária de educação da Bahia ou da Mc Pipokinha refletem quão arcaicos somos ao pensarmos a educação e o educador. Já as manifestações dos docentes de Ipirá, mas também de diferentes localidade do Brasil, são mais que legitimas e necessárias.