Nathalie Jimenez
BBC News
Estamos a poucas semanas das eleições presidenciais nos Estados Unidos e um grupo fundamental vem recebendo muita atenção de republicanos e democratas: os eleitores jovens.
Mas o principal fator que pode levá-los às urnas, em um país onde o voto não é obrigatório, é a sua preocupação com a economia, desde a inflação até o custo da moradia.
Isabella Morris tem pela frente sua primeira eleição presidencial. Ela tem 21 anos de idade e mora em Rosenberg, no Estado do Texas.
Ela conta que tem ouvido com atenção o que os dois candidatos têm a dizer.
Morris se casou recentemente e tem um filho de dois anos de idade. Ela trabalha em meio período para suplementar a renda do marido, que tem um emprego em tempo integral. Morris cuida da criança em casa — a família aluga um pequeno apartamento de um dormitório.
Parece um plano estável: duas fontes de renda, sem hipoteca nem custos de creche. Mas, ainda assim, não é suficiente.
“Nossas contas estão pagas, mas não temos margem para erros”, segundo ela. “Não temos poupança, nem nada. Um emprego costumava ser suficiente para viver, mesmo com salário mínimo. Agora, parece que mal estamos sobrevivendo.”
Os receios econômicos sobre seu futuro a levarão para as urnas em novembro. Mas, quando conversou com a BBC, ela ainda não havia decidido em qual candidato irá votar.
“As eleições estão chegando e não consigo imaginar um candidato que não enfrente a crise econômica agora”, declarou ela.
Morris é uma dentre oito milhões de jovens que irão votar pela primeira vez em uma eleição presidencial nos Estados Unidos, em novembro. As pessoas com menos de 35 anos formam cerca de um terço do eleitorado norte-americano.
Os eleitores jovens são disputados pelos dois partidos e as pesquisas indicam que a economia é sua principal prioridade nesta campanha eleitoral.
É verdade que os direitos reprodutivos, a guerra na Faixa de Gaza e o porte de armas vêm dominando as manchetes. Mas, quando o assunto são as prioridades dos eleitores jovens, entre 18 e 26 anos de idade, o crescimento econômico, a desigualdade de renda e a pobreza são os problemas mais importantes enfrentados pelo país, segundo uma pesquisa realizada pelo projeto GenForward, da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, publicada em setembro.
Nas eleições de 2020, as principais questões que levaram os jovens às urnas foram a covid-19, o racismo e a assistência médica, superando os problemas econômicos, segundo a mesma pesquisa.
‘A situação piorou’
As preocupações de Isabella Morris refletem os principais desafios enfrentados pelos eleitores jovens. Eles estão entrando em um mundo de altos aluguéis, casas inacessíveis e lenta criação de empregos, sem falar na maior alta de preços de toda uma geração, segundo a TikToker de economia Kyla Scanlon.
Em setembro, o Federal Reserve (o Banco Central dos Estados Unidos) reduziu as taxas de juros pela primeira vez em mais de quatro anos. Esta decisão pode reduzir os custos do financiamento habitacional, dos cartões de crédito e os juros da poupança de milhões de pessoas.
Mas ainda é preciso observar se a mudança dos juros irá alterar a visão das pessoas sobre a economia.
“A situação em geral piorou”, declarou Scanlon à BBC. Ela destaca que os jovens hoje em dia enfrentam situações mais graves do que as gerações anteriores — até mesmo que os millennials, que entraram no mercado de trabalho após a crise financeira de 2008.
Com 27 anos de idade, Scanlon pertence à Geração Z. Ela recorre frequentemente ao TikTok, onde tem mais de 180 mil seguidores, para ensinar economia aos jovens.
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As pessoas que têm hoje 22 a 24 anos de idade possuem mais dívidas de todos os tipos — cartões de crédito, financiamento de automóveis e hipotecas residenciais — do que os millennials quando tinham a mesma idade, segundo a agência de crédito TransUnion. E suas dívidas crescem com mais rapidez que a sua renda.
“Não existe mais ‘modo iniciante'”, segundo Scanlon. “O primeiro degrau da escada parece ter simplesmente desaparecido, eu acho, para a maior parte da geração.”
Especialistas afirmam que o medo de ser deixado para trás pode fazer os eleitores comparecerem para votar.
A vice-diretora do Centro de Informação e Pesquisa sobre Aprendizado e Engajamento Cívico (Circle, na sigla em inglês), Abby Kiesa, declarou à BBC que espera que cerca da metade dos eleitores jovens compareçam a esta eleição. É uma proporção similar a 2020, que teve o maior comparecimento eleitoral em décadas e um aumento de 11% sobre a eleição presidencial americana de 2016.
Já as eleições de meio de mandato em 2018 tiveram recorde de participação entre os eleitores jovens, segundo o Circle. Mas eles ainda estão muito atrás do comparecimento dos eleitores de outras faixas etárias.
Em 2020, 69% dos eleitores americanos com 35 a 64 anos de idade compareceram às urnas, além de 74% dos eleitores com mais de 65 anos de idade, segundo o Escritório do Censo dos Estados Unidos.
Mas, em uma eleição que será decidida no fio da navalha, conquistar um percentual significativo dos novos eleitores pode fazer um candidato obter a diferença necessária para a vitória.
Para Kiesa, abordar as dificuldades econômicas será fundamental para os políticos que pretenderem incentivar o voto dos jovens da Geração Z, que se sentem dissociados da política.
“Nas três últimas eleições, o comparecimento dos eleitores jovens foi histórico”, destaca ela. “Precisamos de candidatos que compreendam, se envolvam e conversem com eles. É isso que precisa mudar.”
Dólares ganham votos?
Os dois candidatos presidenciais — Donald Trump e Kamala Harris — atualizaram suas mensagens sobre a economia nas últimas semanas e concentraram seus esforços no apelo aos eleitores jovens.
Harris pretende ampliar as iniciativas econômicas do governo Biden sobre o perdão das dívidas dos estudantes, os preços aos consumidores e os custos da moradia. Ela propôs um subsídio de US$ 25 mil (cerca de R$ 138,5 mil) para a compra da primeira residência e um crédito de impostos no valor de US$ 6 mil (cerca de R$ 33,2 mil) para as famílias com recém-nascidos.
Sua campanha dobrou a equipe voltada para os eleitores jovens e investiu pesado em anúncios digitais.
Harris recebeu o apoio de grandes celebridades, como Taylor Swift e Billie Eilish, e ganhou destaque ao adotar memes virais sobre a vice-presidente nas redes sociais. Ela também passou o último ano visitando faculdades em Estados decisivos.
Já Donald Trump buscou capitalizar a insatisfação econômica entre os jovens, atacando a política econômica de Biden e Harris e destacando os preços mais baixos verificados durante seu governo.
Ele e Harris prometeram eliminar os impostos sobre as gorjetas — uma medida destinada ao setor de serviços, que emprega milhões de jovens. Eles também se comprometeram a pôr fim às barreiras regulatórias sobre as criptomoedas.
O ex-presidente também procurou atrair os eleitores mais jovens pelas redes sociais, com podcasts e parcerias com influenciadores digitais. Ele postou vídeos no TikTok com influenciadores como Logan Paul e Adin Ross.
As pesquisas mostraram que Trump conquistou espaço entre os eleitores jovens enquanto competia com Joe Biden, que tem 81 anos de idade.
Quando ainda era candidato, Biden liderava por poucos pontos percentuais. E a pesquisa GenForward mostrou que os jovens acreditavam que Trump lidava melhor com a economia do que o governo Biden.
Mas a situação mudou com a chegada de Harris, de 59 anos, muito mais jovem que Biden. Ela tem 31 pontos de vantagem sobre Trump entre os eleitores de 18 a 29 anos, segundo a pesquisa do Instituto de Política de Harvard, publicada no final de setembro.
‘Precisamos de representação’
As preocupações com a economia não estão levando as pessoas apenas a votar. Elas estão despertando em alguns jovens o desejo de lançar suas próprias candidaturas.
Gabriel Sanchez tem 27 anos de idade e é um dos candidatos democratas ao legislativo do Estado da Geórgia. Ele conta que está concorrendo para ajudar a reduzir as pressões financeiras sobre os jovens da sua geração.
Sanchez trabalha como garçom em um bar esportivo. Ele afirma que o aumento dos aluguéis o forçou a se mudar de casa várias vezes.
Sua preocupação é que atributos essenciais, como a estabilidade da moradia, sejam cada vez mais raros entre muitos jovens americanos.
“A maioria de nós não consegue ter uma casa, pagar pela assistência médica ou comprar os itens básicos de que precisamos”, declarou Sanchez em um vídeo postado na conta de sua campanha no TikTok.
Em maio, Sanchez e outros três jovens candidatos conseguiram vencer as eleições primárias do Partido Democrata na Geórgia. O resultado ficou conhecido como a noite da Geração Z em Atlanta.
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Sanchez acredita que suas dificuldades econômicas trazem identificação entre os eleitores.
“Estamos trabalhando muito, mas não vemos nenhum resultado”, destaca ele. “Esta economia não está funcionando para nós.”
“Precisamos de representação — candidatos que entendam o que os jovens estão enfrentando.”
Mas não são só os democratas que estão atraindo candidatos jovens.
Wyatt Gable tem 21 anos e está no último ano do seu curso na Universidade East Carolina, em Greenville, no Estado americano da Carolina do Norte.
Ele venceu as primárias republicanas para o legislativo do seu Estado, derrotando George Cleveland, deputado de 85 anos que cumpre seu décimo mandato. Se for eleito em novembro, Gable será o mais jovem membro do legislativo estadual da Carolina do Norte em toda a sua história.
Enquanto se prepara para as eleições, ele espera que a economia seja a principal preocupação entre os jovens este ano.
“Minha geração sente esta questão”, destaca Gable. “Ela vê como a inflação cresceu e as taxas de juros dispararam.”
“Esta será a maior questão na mente dos jovens quando forem às urnas.”
Fonte: BBC Brasil / Foto: Isabella Morris