Em uma das curvas do Rio Nilo, lugar onde os antigos crocodilos sagrados se banhavam e tomavam sol, ergue-se um dos tempos mais bonitos do Egito
O templo Kom Ombo é atípico. Tudo é perfeitamente simétrico ao longo do eixo principal. Com a sua planta dupla existiam salões, santuários e salas duplicadas para dois deuses distintos.
Podem ser observadas duas entradas gêmeas, dois salões de hipostilo ligados com esculturas dos dois deuses de cada lado, e santuários gêmeos. Assume-se que também existiam dois sacerdócios.
A metade sul do templo foi dedicada ao deus crocodilo Sobek (ou Sobeque), deus da fertilidade e criador do mundo com Hathor e Khonsu. Aliás, o local era um dos principais centros de culto no Antigo Egito a esta divindade.
Esse deus estava também ligado ao culto do rio Nilo, da divinização da água e o seu culto foi particularmente ativo e predominante durante as XII e XIII dinastias, ou seja, na transição do Império Médio para o Segundo Período Intermédio, por volta dos séculos XVIII e XVII a.C.
Crocodilos
Como em outros locais dedicados a esta divindade, Kom Ombo possuía, anexamente, poços para os crocodilos sagrados e muitos exemplos de mumificação dos mesmos. Ainda hoje é possível ver os poços e visitar um museu no local apena dedicado aos crocodilos.
Voltando ao tempo e à sua divisão, parte norte do templo foi dedicada ao deus falcão Hórus juntamente com Tasenetnofret (a Boa Irmã, uma forma especial de Hathor ou Tefnet/Tefnut) e Panebtawy (Senhor das Duas Terras).
Embora seja possível observar construções que nos remeta para um templo anterior, Kom Ombo, como o conhecemos, ganhou importância e fora erguido durante o reinado ptolemaico. Foi iniciado por Ptolomeu VI e alterado e acrescentado por outros regentes da dinastia. Muitas das alterações já se deram sob um período de influência romana.
A estrutura
Observando o pátio do templo, encontramos relevos divididos entre os dois deuses além de um altar duplo no centro para ambas as divindades. O local também conta com corredores interiores e exteriores comuns, cada um com 10 colunas.
Todo o templo é repleto de relevos incríveis, sendo que alguns ainda conservam as suas pinturas originais. Relevos no hall interior do hipostilo revelam Horús apresentando Ptolomeu VIII com uma arma curva, representando a espada da vitória. Atrás de Ptolomeu está a sua irmã-esposa Cleópatra II. Daí é possível aceder a três antecâmaras, cada uma com entradas duplas, conduzem aos santuários de Sobek e Horús.
Ao nível representativo, a cena na face interna da parede traseira do templo é de particular interesse, na qual se observa claramente um conjunto de instrumentos cirúrgicos. É um conjunto intrigante. É natural que templo fosse certamente um local de cura, a coisa mais próxima de um antigo hospital.
Joana Freitas é formada em história na vertente de arqueologia pela faculdade de letras da Universidade do Porto e tem por áreas de maior interesse a evolução humana e a pré-história. Fora do campo de formação tem como disciplinas preferidas a antropologia e a paleontologia que no fundo complementam a sua formação de base.
Gosta de conhecer outros lugares, principalmente as suas pessoas, ler e escrever. Embora tenha participado em diversas escavações de vários períodos históricos de diversos países, o local arqueológico que mais marcou o seu percurso e onde esteve presente em várias campanhas diferentes foi castanheiro do vento, um recinto pré-histórico em Vila Nova de foz Côa, em Portugal.
Fonte: Aventuras na História