Empreendedora fatura R$ 57 mil com biojoias feitas à base de casca de ovo

Por Debora Leite, PEGN

Daniele Trugillo desenvolveu um material 100% biodegradável para criar peças leves e com propósito

Quando era adolescente, Daniele Trugillo jamais imaginava que as tardes fazendo bijuterias com uma amiga resultariam em um negócio de impacto socioambiental. Hoje, aos 40 anos, ela comanda a Remimo, uma marca de biojoias que usa resíduos como casca de ovo, spirulina, colorau e até casca de arroz carbonizada para criar acessórios.

A marca nasceu oficialmente em 2017, mas Trugillo atua no setor há mais de 25 anos. O grande pulo da empresa, no entanto, aconteceu recentemente, com o desenvolvimento de um biocompósito sustentável e biodegradável, criado por ela e por uma química parceira ao longo de dois anos. A base do material? Cascas de ovos, resíduo abundante e natural, que ela coleta em padarias e docerias próximas ao ateliê.

“O composto é tão leve que um brinco de tamanho médio pesa cerca de 4 gramas. E pode ser descartado em uma planta, sem prejuízo ao meio ambiente”, conta.

Com uma trajetória acadêmica que reflete sua inquietação criativa, ela é formada em Administração com ênfase em Marketing e tem pós-graduação em Engenharia de Produção. A empreendedora também passou por cursos como Criatividade e Inovação em Negócios na PUC-SP e Logística Reversa, onde teve o primeiro contato com o conceito de sustentabilidade. A paixão por materiais e processos a levou ainda a iniciar uma segunda graduação em Química, além de especializações em ESG e economia circular.

Um laboratório criativo e circular

Mais do que uma marca de acessórios, a Remimo se define como um laboratório criativo e circular. O termo faz jus à pesquisa contínua por novos materiais com baixo impacto ambiental, a exemplo de um novo biocompósito, ainda em fase de experimentação, feito com casca de maracujá, que pretende substituir polímeros plásticos usados em artesanato.

O nome Remimo também carrega significado: nasce da junção das palavras ressignificar e mimo. “A ideia é que cada peça seja um presente para quem usa, para o planeta e para a sociedade”, explica.

Além das criações, ela ministra oficinas de ecojoias e biocerâmica para empresas, escolas e ONGs. Os cursos ensinam a reaproveitar resíduos do dia a dia, como borra de café, tecidos, embalagens plásticas e até pó de madeira, transformando tudo em design.

“É um jeito leve e prático de ensinar educação ambiental. As pessoas se surpreendem com a beleza e o potencial dos resíduos”, diz ela.

Propósito com impacto

Trugillo faz questão de firmar parcerias femininas. A equipe que ajuda na comunicação, finanças e costura é formada quase inteiramente por mulheres — incluindo sua mãe, que produz embalagens com retalhos de tecidos descartados. A marca também tem uma rede de apoio com ONGs, como o Instituto Violeta e a ONG Arrastão, com quem desenvolve ações sociais e capacitações.

Os brincos, carro-chefe da marca, custam entre R$ 40 e R$ 142 e se destacam por serem extremamente leves e hipoalergênicos. A marca também oferece colares, anéis e outras peças que compõem a coleção “Natureza”, criada para ressignificar a beleza dos fenômenos naturais em acessórios com identidade e propósito. Cada item carrega um pouco da história dos materiais e da valorização da produção artesanal.

Com cerca de R$ 50 mil investidos desde o início da marca, todos do próprio bolso e conciliando o negócio com um trabalho CLT, a empreendedora já colhe os frutos: só em 2024, a Remimo faturou R$ 57 mil e segue crescendo. “Hoje, mais do que um complemento de renda, eu vivo esse propósito”, afirma.

Entre os planos para 2025 estão o lançamento de uma linha de decoração sustentável, a criação de uma plataforma de cursos online, e uma possível parceria com o Instituto Europeu de Design para novos projetos com biomateriais.

“Quero que a Remimo seja referência em pesquisa de materiais sustentáveis no Brasil. E, principalmente, quero continuar gerando impacto positivo, com beleza, consciência e afeto.” diz.

Fonte: Um só Planeta / Foto: Peças da Remimo se destacam por serem leves e hipoalergênicas. — Foto: Daniele Trugillo