Por Rafaela Souza, da PEGN
Regina Soares produz as peças da Ecotilápia em ateliê montado em sua própria casa. Processo envolve congelamento, limpeza, curtimento e amaciamento do material
A pele de tilápia que antes era descartada por feirantes na cidade de Paulo Afonso, na Bahia, ganhou um novo destino nas mãos da artesã Regina Soares, de 58 anos. À frente do projeto Ecotilápia, ela transforma o material em peças artesanais no ateliê montado em sua própria casa. Entre os itens produzidos estão bolsas, chaveiros, bloquinhos e até artigos de decoração, que custam a partir de R$ 5.

Criado em 2012, o projeto nasceu após o contato da empreendedora com a prática em um curso realizado em Piranhas, no estado de Alagoas. Nesse período, Soares passou a investir no estudo sobre iniciativas que unissem a sustentabilidade à geração de renda dentro da sua realidade. Ela ainda ressalta a importância da iniciativa para lidar com seu diagnóstico de depressão e síndrome do pânico.
“Foram 10 dias de curso e oficinas. Lá conheci o couro da tilápia e até aprendi a fazer uma carteira. Além disso, a minha cidade também possui muitas pisciculturas e não havia essa preocupação com o reaproveitamento do material descartado. Muitas peles iam para o lixo mesmo”, diz.
Após o aprendizado adquirido no curso, a empreendedora retornou à Bahia decidida a investir no negócio. Inicialmente, ela recebia doações de uma fábrica especializada na distribuição dos pescados na região. No entanto, a parceria foi encerrada em 2015 e ela precisou buscar por outra alternativa.
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“A direção da empresa mudou e eu não poderia pegar mais as peles de tilápia. Nesse momento, um amigo indicou a parceria com os feirantes da cidade, que comercializavam as tilápias e descartavam as peles no lixo”, lembra.
A empreendedora explica que o processo começa com o congelamento da pele da tilápia, seguido da limpeza e retirada da gordura e das escamas. Ela chega a recolher entre 150 e 200 unidades de pele por mês. “Limpamos todo o material e levamos para um processo de cinza e cal durante seis dias. Depois disso, lavamos com água para tirar todo o excesso e colocamos numa solução com amônia por seis a doze horas”, relata.
Por fim, a pele é transformada em couro com o uso da casca e do tronco do angico, que é uma árvore rica em taninos. A substância é conhecida por oferecer durabilidade e resistência nas peças de couro animal. “Curtimos o material com a casca do angico, que é triturada e colocada na água do remolho. Nesse momento, a pele da tilápia se transforma em couro”, afirma.
De acordo com ela, o processo ainda envolve etapas de amaciamento com um tipo de óleo vegetal e uso de cilindro manual, além da secagem das peças na sombra. O processo completo de curtimento dura cerca de 15 dias. “Só depois disso que o couro pode ser moldado e transformado nas peças de artesanato”, afirma.
No processo de criação, ela conta que pesquisa referências em eventos e capacitações que participa ao longo do ano. Uma das técnicas adotadas pela artesã, por exemplo, é a produção de peças em macramê (tecelagem manual com uso de nós) com detalhes em couro de tilápia, como alças, bolsos e acabamentos. Ela relata que comercializa os itens de forma virtual por meio de pedidos no Instagram e WhatsApp e durante a exposição em feiras no estado.
Fonte: Um Só Planeta / Regina Soares, artesã e idealizadora do projeto Ecotilápia — Foto: Reprodução/Instagram