Participaram do estudo 93 professores da cidade de São Paulo com indicação de psicoterapia. Pesquisa identificou 13 variáveis ligadas ao esgotamento profissional, entre elas, a violência física e psicológica, o ruído em sala de aula e o incômodo com alunos
por Bianca Camatta – Domingo, 12. de junho de 2022
Arte: Rebeca Fonseca
Pesquisa desenvolvida na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP buscou identificar as fontes de esgotamento entre professores da rede municipal de ensino na cidade de São Paulo. Foram entrevistados 93 profissionais que já tinham indicação de psicoterapia e procuraram o ambulatório de saúde mental no Hospital do Servidor Público Municipal (HSPM), entre os anos de 2013 e 2014. Dos professores que apresentaram esgotamento grave, 60% sofreram agressão física ou verbal na escola. “Isso chama atenção porque o problema da violência está muito disseminado”, aponta ao Jornal da USP a doutoranda em Saúde Pública, Elaine Cristina Simões, autora do estudo.
As violências sofridas eram físicas e verbais, sendo a segunda principalmente ameaças e constrangimentos no exercício das funções escolares. “As agressões que não são físicas são fatores importantes quando pensamos no cotidiano de convívio com alunos e pais que ameaçam e desrespeitam. O dia a dia fica muito angustiante e cansativo, levando ao desenvolvimento de defesas e afastamento emocional, característicos do esgotamento”, comenta.
Além da violência, foram identificadas outras 12 variáveis que estavam relacionadas ao esgotamento profissional. As que mais se destacaram foram: ruído em sala de aula, o incômodo com alunos e o sentimento de que não participam de decisões importantes tomadas na instituição em que trabalham. O problema de ruídos em sala de aula e o incômodo com alunos atingiram, respectivamente, cerca de 87% e 70% dos profissionais que apresentaram esgotamento.
As outras variáveis encontradas foram: incômodo com pais, falta de realização profissional, falta de apoio de colegas, ruídos na escola, excesso de burocracia, acústica não aceitável, sobrecarga, elevado número de alunos e falta de apoio da coordenação.
A pesquisa foi desenvolvida com orientação da professora Maria Regina Alves Cardoso, da FSP. Os dados foram publicados no artigo Violência contra professores da rede pública e esgotamento profissional.
“As agressões que não são físicas são fatores importantes quando pensamos no cotidiano de convívio com alunos e pais que ameaçam e desrespeitam. O dia a dia fica muito angustiante e cansativo, levando ao desenvolvimento de defesas e afastamento emocional, característicos do esgotamento”, comenta.
Variáveis do esgotamento profissional
Os participantes tinham idades entre 28 e 69 anos (média de 46,4) e atuavam no ensino básico, da pré-escola até o ensino médio, sendo a maioria do ensino fundamental. Eles foram questionados sobre questões ligadas ao trabalho, como a quantidade de horas trabalhadas na semana, como era o ambiente profissional e se sofreram violência dentro da escola no último ano.
Além disso, eles passaram por avaliações do esgotamento profissional, mais conhecido como síndrome de Burnout. O esgotamento profissional é um distúrbio emocional que tem como sintomas a exaustão extrema e o estresse. A síndrome é associada a pessoas que trabalham sob pressão, ou a quem tem poucas perspectivas de evolução no emprego.
Foram utilizados dois testes para essa avaliação: o MBI e o CESQT. “Não me pareceu que os testes poderiam ser excludentes entre si ou repetitivos. Além disso, na psicologia, existe a orientação no sentido de estabelecer mais de uma medida para avaliação psicológica, o que amplia a coleta de dados, permitindo mais segurança na análise e síntese diagnóstica”, explica Elaine ao Jornal da USP.
A pesquisadora conta que apenas quatro pessoas não acusaram o esgotamento profissional em nenhum dos dois testes. “A grande maioria teve ou por um, ou por outro, ou pelos dois; além disso, os testes permitem apurar a intensidade da síndrome em cada participante”, diz.
Com os testes e as entrevistas, o estudo identificou as 13 variáveis relacionadas ao diagnóstico de esgotamento profissional. Dos participantes que apresentaram esgotamento grave pelos dois testes, 60% relataram ter sofrido agressão nos últimos 12 meses na escola.
Soluções possíveis
Elaine acredita que a pesquisa pode tornar a relação entre o trabalho e o esgotamento mais objetiva, além de trazer uma colaboração para entender o que pode ser alvo de mudanças para lidar com a questão do esgotamento entre professores. “Mostrar quais são as fontes do esgotamento ajuda a reconhecer questões que precisam ser mais bem resolvidas pelas políticas públicas.”
Para a pesquisadora, por exemplo, a questão do ruído pode ser melhorada com um investimento na acústica das escolas. Sobre a dificuldade na relação entre professores, a criação de projetos dirigidos a essa questão poderia ajudar a lidar com esses entraves.
Mais informações: e-mail [email protected], com Elaine Simões
Fonte: Jornal da USP