Pesquisadores compartilham trabalhos e perspectivas sobre a importância de metodologias avaliativas para a melhoria da qualidade da aprendizagem
A grande diversidade de inovações no campo da avaliação educacional foi evidenciada durante os três dias de programação da 13º Reunião da Associação Brasileira de Avaliação Educacional (Abave), da qual participaram pesquisadores da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira do Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto (IEA-RP) da USP. O congresso reuniu representantes da academia, do terceiro setor, gestores e equipes técnicas de Secretarias da Educação, buscando compartilhar estratégias avaliativas que contribuam com a promoção da equidade no sistema educacional brasileiro.

Pedro Sartori, bolsista de iniciação científica da Cátedra, realizou a apresentação oral Uma biblioteca em R para análise de dados educacionais e abordou as potencialidades de técnicas estatísticas combinadas com ferramentas de gráficos e mapas para permitir melhores visualizações de indicadores educacionais. A partir de estudos reais, realizados pela equipe da Cátedra em redes como o município de São Paulo e o Estado de Alagoas, o pesquisador mostrou como a tecnologia pode auxiliar na identificação de escolas com maiores variações de desempenho e quais os fatores associados a essas dinâmicas, que podem ensejar análises sobre boas práticas e troca de experiências entre pares.
No evento, Pedro ainda participou da sessão de pôsteres, ao lado do também bolsista de iniciação científica da Cátedra Carlos Eduardo dos Santos. Nos materiais, foram compartilhadas novidades do banco de dados educacionais desenvolvido pela equipe para centralizar e organizar informações das escolas brasileiras em um formato acessível e comparável. Embora existam diversos portais que disponibilizam dados educacionais públicos, a obtenção de tabelas personalizadas ainda é um processo complexo e pouco acessível. Por isso a Cátedra desenhou uma ferramenta que utiliza indicadores do Inep, Censo Escolar, QEdu, entre outros, em um formato que permite extrações simples e análises customizadas. Organizado por níveis de agregação (escolas, municípios, Estados, regiões e Brasil), o banco facilita estudos comparativos e aprofundados, apoiando políticas educacionais e pesquisas acadêmicas.
“Buscamos auxiliar a realização de consultas robustas de forma prática, eliminando a complexidade de lidar com múltiplas fontes de dados despadronizadas, acelerando levantamentos e análises. Estamos desenvolvendo uma plataforma on-line com acesso externo controlado, que permitirá às redes parceiras da Cátedra realizar consultas de forma prática e versátil aos dados estruturados e integrados”, relatou Carlos Eduardo.
Sessões discutem importância da avaliação
“É possível observar a consolidação de uma cultura de avaliação no Brasil, muitas pesquisas vêm sendo produzidas na área e há uma grande diversidade de inovações em pauta. Mas ainda é necessário avançar na teoria e nas metodologias para evidenciar as reais necessidades educacionais do País. Neste contexto, a 13ª Reunião da Abave representa um marco importante para o debate sobre os desafios e tendências da área”, afirmou Maria Helena Guimarães, que já foi presidente da Abave e atualmente é titular da Cátedra Instituto Ayrton Senna de Inovação em Avaliação Educacional, também sediada no IEA-RP.
Para Ernesto Faria, diretor-fundador do Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede), fazer monitoramento permite identificar melhor o que está acontecendo com os estudantes, localizar gargalos e saber se a rede está conseguindo combater defasagens e promover o desenvolvimento de crianças e adolescentes. “Mais do que saber qual o resultado adequado, o ponto principal é saber se estamos promovendo diagnósticos robustos que serão bem utilizados por gestores públicos como ponto de partida para ações concretas em busca do máximo possível para os estudantes”, afirmou. “Em geral, os padrões de hoje como o ICA [Indicador Criança Alfabetizada] exigem o mínimo para combater defasagens extremas, mas precisamos criar outros marcos com visão de futuro e altas expectativas sobre os estudantes, buscando avançar mais em todos os aspectos e desde a educação infantil.”
O coordenador do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Educação e Economia Social (Lepes) da USP, Luiz Scorzafave, reforçou que é preciso ter visão sobre aonde se quer chegar, e não se contentar em apenas ampliar a porcentagem de alunos com aprendizado adequado. “Mudanças nas avaliações geram alterações nas práticas das redes e às vezes não se tem clareza sobre os motivos. É preciso ampliar o diálogo para que todos compreendam as linhas de corte e saibam que a porcentagem de uma rede pode cair com determinadas atualizações, mas isso é resultado de uma busca constante por avanços”, analisou.
Em sessão sobre a avaliação na educação infantil, a diretora de avaliação da Educação Básica do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Hilda Linhares da Silva, destacou que as avaliações cumprem um papel importante para o regime de colaboração e para reverberar as diretrizes e definições teóricas em ações práticas. “Qualificar as avaliações e fortalecer as formas de comunicar os resultados para que os agentes saibam compreender e usar os indicadores é uma forma importante de identificar o que está interferindo no desenvolvimento dos alunos e como construir metodologias que nos permitam ter melhores resultados”, disse. Segundo ela, um grupo de trabalho do Inep está discutindo instrumentos formativos para a educação infantil, que podem auxiliar a busca por indicadores de qualidade para a etapa.
*Assessoria de Imprensa da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira. / Os bolsistas Pedro Sartori e Carlos Eduardo dos Santos, a jornalista Marília Rocha, o titular Mozart Neves Ramos e os pesquisadores Larissa Maciel e Leomar da Silva compuseram a equipe da Cátedra na 13ª Reunião da Abave