Uma das maiores preocupações sanitárias para a avicultura global. Com impactos severos tanto na saúde animal quanto na economia do setor, a doença exige atenção redobrada em regiões como o Brasil, um dos maiores produtores e exportadores de carne de frango do mundo.
A Influenza Aviária (IA) é uma das maiores preocupações sanitárias para a avicultura global. Com impactos severos tanto na saúde animal quanto na economia do setor, a doença exige atenção redobrada em regiões como o Brasil, um dos maiores produtores e exportadores de carne de frango do mundo. Embora o país permaneça livre de surtos da doença na produção comercial, a proximidade com países onde o vírus já foi detectado na avicultura industrial aumenta a vulnerabilidade e reforça a necessidade de estratégias robustas de prevenção.

Neste cenário, a gestão de risco surge como uma ferramenta indispensável para garantir a sanidade das aves. Medidas de vigilância ativa, controle de fronteiras, tecnologias nas instalações e protocolos de resposta rápida são algumas das ações que compõem esse esforço coordenado. “Com uma cadeia produtiva altamente integrada e dependente do status sanitário, o Brasil trabalha para fortalecer barreiras contra a entrada do vírus, mitigar possíveis impactos e garantir a competitividade de seus produtos avícolas no exterior”, ressalta o médico-veterinário, doutor em Medicina Veterinária Preventiva e PhD em Avaliação de Risco e Epidemiologia de Doenças Transmitidas pelos Alimentos, Luís Gustavo Corbellini.
De acordo com o especialista, a vigilância ativa da doença requer a realização de ações estratégicas em diversas frentes, como monitoramento de aves silvestres, controle da criação de aves de quintal e principalmente o monitoramento constante das granjas comerciais. “Não há gestão de risco sem indicadores claros, por isso é importante monitorar constantemente a eficiência do programa de vigilância para identificar gargalos. Um dos focos principais deve ser aumentar a capacidade de resposta para evitar a propagação do vírus em caso de notificação”, salienta.
Durante sua participação na Conferência Brasil Sul da Indústria de Produção de Carne de Frango (Conbrasfran), realizada em meados de novembro na cidade de Gramado, na serra gaúcha, Corbellini destacou que a comunicação estratégica é peça-chave para fazer o gerenciamento de riscos no setor avícola. Ele enfatizou que a abordagem deve ser estruturada em três linhas de defesa, cada uma com funções específicas, porém interligadas para garantir a eficiência e a transparência no processo de gestão de riscos.
1ª linha de defesa: operacional
Conhecida como a “linha de frente”, esta etapa é composta por profissionais que lidam diretamente com a operacionalização dos procedimentos no dia a dia, como veterinários do Serviço Veterinário Oficial (SVO), produtores, auxiliares técnicos e veterinários que prestam assistência às granjas. Eles são responsáveis por aplicar medidas que minimizem os riscos nos estabelecimentos. “A gestão de riscos começa com a análise do ambiente e segue as etapas de identificação, avaliação, resposta e monitoramento, contudo é essencial que haja a comunicação em cada etapa, porque sem comunicação os riscos não podem ser geridos”, alerta o especialista, destacando que a execução das ações depende do alinhamento entre os atores envolvidos.
2ª linha de defesa: estratégica
A segunda etapa é focada na supervisão. Comissões formadas por profissionais de diversas áreas, gestores do SVO e coordenadores técnicos são responsáveis por garantir que os padrões sejam seguidos e que as medidas sejam tomadas para manter os riscos sob controle. “Esta linha garante que as atividades da linha operacional sejam conduzidas de forma estruturada e alinhada com as diretrizes determinantes”, explica o profissional.
3ª linha de defesa: auditoria do SVO
A última linha de defesa é voltada para a auditoria do SVO. O objetivo é avaliar a eficiência dos planos estaduais de saúde animal, identificar falhas no gerenciamento de riscos e proporcionar melhorias contínuas.
Além de garantir a sanidade animal e a sustentabilidade do setor, a gestão de riscos gera benefícios como maior produtividade, comprometimento das partes envolvidas, acesso à informação e tomadas de decisão mais assertivas. “Gerir riscos não é um custo, mas um investimento em saúde, resultados e transparência, que posiciona o setor avícola brasileiro como referência global na gestão de desafios”, exalta Corbellini.
Prevalência do vírus
Com casos confirmados da gripe aviária em aves silvestres, animais marinhos e aves de fundo de quintal no Brasil, o especialista reforça a necessidade de ampliar os estudos de prevalência. “Ainda não temos um panorama completo sobre a prevalência do vírus no País”, afirma.
Além disso, Corbellini destaca a importância de entender as dinâmicas de transmissão entre espécies e regiões. “Sem dados precisos sobre a prevalência e o comportamento do vírus, continuamos expostos a cenários incertos. Essas lacunas dificultam a projeção de planos e a formulação de estratégias mais assertivas”, evidencia, enfatizando: “Quando começamos a entender os riscos diminuímos as incertezas do que pode acontecer e passamos a traçar cenários para antever as possíveis causas, consequências e ameaças da Influenza aviária”.
Base robusta para garantir agilidade
Médico-veterinário, doutor em Medicina Veterinária Preventiva e PhD em Avaliação de Risco e Epidemiologia de Doenças Transmitidas pelos Alimentos, Luís Gustavo Corbellini: “Gerir riscos não é um custo, mas um investimento em saúde, resultados e transparência, que posiciona o setor avícola brasileiro como referência global na gestão de desafios” – Foto: Jaqueline Galvão/OP Rural
Para o PhD em Avaliação de Risco e Epidemiologia de Doenças Transmitidas pelos Alimentos, a adoção de normas como a ISO 31000 pode trazer benefícios expressivos para a gestão de risco no setor avícola. “Essa norma oferece diretrizes claras para identificar, avaliar, monitorar e tratar riscos de forma sistemática. Ela ajuda a estabelecer uma base sólida para a tomada de decisões e incentivar uma gestão proativa”, explica.
De acordo com o profissional, a ISO 31000 pode ser adaptada para atender às necessidades específicas da avicultura, como controle de qualidade, segurança sanitária e prevenção de surtos. “Essa abordagem é essencial para melhorar a eficiência operacional, reduzir vulnerabilidades e fortalecer a capacidade do Brasil de enfrentar ameaças como a Influenza Aviária”, enaltece.
E ainda o setor conta com o Programa Nacional de Sanidade Avícola (PNSA), que direciona as ações de prevenção e controle de doenças avícolas, além de garantir a biosseguridade nas granjas e plantas frigoríficas, além da Instrução Normativa (IN) nº 17/2006 que define as diretrizes para a vigilância da Influenza aviária no País; IN nº 56/2007 que estabelece os procedimentos para a prevenção, diagnóstico e controle da Influenza aviária e da Doença de Newcastle, além do Plano de Vigilância da Influenza aviária e Doença de Newcastle, o qual recomenda estratégias coordenadas para monitorar e mitigar os riscos dessas doenças em todo o território nacional. “Essas normas oferecem uma base sólida para a execução das atividades de vigilância e controle, mas o Serviço Veterinário Oficial consegue identificar quais incertezas podem comprometer a prevenção da IA? E quais granjas e regiões exigem mais atenção? O risco existe em todo lugar e se modifica constantemente, quanto mais claro estas informações estiveram mais rápido será a tomada de decisões em caso de uma notificação”, frisa.
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Fonte: O Presente Rural / Fotos: Shutterstock