Especialista avalia possível parceria para implantação de tecnologia via satélite de baixa altitude no País

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Roberto Onody fala sobre os objetivos da possível parceria entre o governo brasileiro e a Starlink e os custos relacionados à tecnologia

Por Walace de Jesus – quarta, 1 de dezembro de 2021

Radio USP

O ministro das Comunicações, Fábio Faria, anunciou, há pouco mais de duas semanas, que pretende trazer os serviços de internet da Starlink, empresa da SpaceX, para o Brasil, após visita ao bilionário Elon Musk, em Austin, no Texas. Faria disse que a possível parceria surge como um elemento essencial para levar internet a escolas e lugares remotos no Brasil, além de proporcionar “proteção” à Amazônia com a tecnologia de satélites de baixa altitude a partir da Starlink.

Internet via satélite no Brasil não é nenhuma novidade, mas as declarações de Faria despertam algumas críticas de especialistas. Roberto Onody, professor do Instituto de Física de São Carlos da USP, destaca que o uso da tecnologia para a suposta proteção à Amazônia, por exemplo, não faz sentido. “Os satélites da rede Starlink não têm câmeras. Então, seria melhor, se eles realmente querem monitorar o desmatamento da Amazônia, aplicar dinheiro no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em São José dos Campos, e na Agência Espacial Brasileira”, sugere Onody. Pensando na conectividade da Amazônia, a possível parceria surge como uma possibilidade.

Foto: Flickr

Ainda de acordo com Onody, essa possível colaboração entre a SpaceX e o governo brasileiro pode ter outro fator contraditório: o preço. A Starlink, que se aproxima da marca de 100 mil assinantes distribuídos por 12 países, tem seu serviço baseado em custo de instalação, de acordo com a cotação atual, de R$ 2.793 (US$ 499) e mensalidades R$ 554 (US$ 99), ou seja, seguindo a lógica dos valores pagos pelos assinantes atuais, um brasileiro em localidade remota deverá desembolsar mais de R$ 3 mil para usufruir da rede Starlink.

“Os preços podem cair porque a ideia do Musk é colocar 42 mil satélites em órbita, sendo que hoje tem por volta de  1,7 mil . Quanto mais satélite ele colocar, certamente o preço deve cair com o tempo”, complementa Onody

Se inserido dentro do programa Wi-Fi Brasil, que tem por objetivo levar conectividade a todas as localidades do País, principalmente para comunidades de vulnerabilidade social, através da instalação em praça pública de acesso livre e gratuito, por exemplo, a parceria com a Starlink representará uma conquista para essas populações, apesar de representar um grande custo para o governo na visão de Onody.

Ainda que não estabelecida, ele reforça que o anúncio do ministro sobre a parceria é precoce, tendo em vista que outras empresas, como a Amazon com o Project Kuiper, também estão desenvolvendo o mesmo serviço. “Eu acho que a coisa tá bem verde”, comenta.

No Brasil, a internet via satélite já é uma realidade, mas representa apenas 0,85% dos acessos à banda larga, de acordo com dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) de julho deste ano. Com a tecnologia atual, o serviço de internet é distribuído através de um satélite geoestacionário a mais de 32 mil quilômetros de distância da superfície da Terra, que acompanha seu movimento de rotação.

Já a partir dos satélites da Starlink, que devem ficar até 60 vezes mais próximos da Terra e orbitar o planeta de forma mais rápida, a SpaceX pretende trazer internet a lugares remotos, diminuindo tempo de transferência de dados e proporcionando serviços que o atual não suporta, como videoconferências e jogos on-line. Apesar disso, de acordo com Onody, alguns incidentes já foram detectados com a tecnologia da Starlink, como foi o caso dos rastros dos satélites que puderam ser vistos em imagens de telescópios terrestres no Chile, por exemplo.

“Isso prejudica a ciência básica que é a astronomia”, destaca

O problema foi parcialmente resolvido com o desenvolvimento do DarkSat e do VisorSat, com revestimento escuro e visores capazes de impedir a luz solar refletida pelos satélites, o que foi comprovado pelo Telescópio Murikabushi do Observatório Astronômico Ishigakijima, no Japão, após os resultados dos testes publicados no The Astrophysical Journal revelarem que a refletividade dos satélites foi reduzida pela metade. “Mas eu acho que isso não vai resolver muito, porque outra coisa que vai acontecer em breve é que vamos ter outro problema: o lixo espacial”, finaliza Onody.


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