Pesquisa rompe estigma do senso comum em torno da imagem de pobreza do bioma e mostra a Caatinga como crucial para enfrentar as mudanças climáticas
Apesar do senso comum atribuir à Caatinga a imagem de pobreza e falta de vitalidade, estudos mostram que ela é crucial para enfrentar as mudanças climáticas, além de ter um papel importante para ampliar as possibilidades de novas atividades econômicas.
Conforme a revista Algomais, isto é o que mostra uma pesquisa coordenada por Aldrin Pérez, pesquisador titular do Instituto Nacional do Semiárido (Insa), órgão vinculado ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação. Segundo o estudo, a Caatinga é o bioma mais eficiente do Brasil no sequestro de carbono.
Na entrevista, Pérez destacou a importância da instalação de atividades econômicas que não afetem o meio ambiente no semiárido e alertou para a necessidade de evitar o desmatamento da vegetação local que contribui para a retenção do CO2 e preservação da água na região.
Segundo ele, se essas recomendações não forem atendidas, serão intensificadas ameaças como a desertificação, mudança do clima, perda de biodiversidade e a expulsão das pessoas do campo. “Elas vão ocupar as periferias e os morros nos grandes centros, onde também há outros problemas ambientais, como deslizamentos de terra, que acontecem porque as famílias chegam sem condições nenhuma”, avaliou o estudioso, lembrando que a pesquisa em questão é realizada há mais de uma década.
“Somos um grupo de pesquisa que desde 2010 busca entender o bioma e desenvolver modelos ambientais como suporte para políticas públicas, focando na conservação e no uso sustentável da Caatinga. Uma dessas pesquisas, foi compreender a dinâmica e a variação sazonal tanto do carbono, quanto da água, no processo contínuo de renovação da energia do bioma em seus três componentes principais: o solo, a vegetação e a atmosfera”, explicou, contanto que o trabalho envolveu o Insa, a Universidade Federal de Campina Grande, uma equipe da Embrapa Semiárido, um grupo da Universidade Federal Rural de Pernambuco, além de outro grupo da Universidade Federal Rural do Rio Grande do Norte.
Segundo Pérez, o trabalho surgiu para desenvolver uma pesquisa que tivesse mais solidez e fosse mais articulada em cima de objetivos e problemas comuns dos impactos das mudanças do clima, da desertificação e como isso afeta na biodiversidade.
Com o decorrer do trabalho, ele explica que foi possível mudar a visão do senso comum sobre o bioma. “Historicamente, a Caatinga já foi vista como um bioma pobre, tanto em espécie quanto em florística. Houve a necessidade de desmistificar essa visão. Montamos um grupo de biologia e, desde 2016, estudamos esse balanço do carbono, a dinâmica e a formação de energia ao longo desse período”, lembrou.
“Ao contrário do que se falava, que a Caatinga não contribuía para o sequestro do carbono, desde 2010 até o momento, ela se mostrou uma extraordinária solução para as mudanças climáticas. Não esperávamos esse resultado. Passamos a ter consistência nos dados. De 2010 para cá são 14 anos. Depois que acumulamos uma série de dados, começamos a publicar os resultados em revistas científicas internacionais desde 2020. Há alguns marcantes, como os que saíram na revista Nature (Scientific Reports) e na Science of the Total Environment, entre outras”, relevou o pesquisador, que junto com a equipe agora elabora um artigo em que confirmam que “no fluxo de carbono entre a atmosfera e a vegetação, mesmo nas áreas mais secas, há um robusto sequestro de carbono”.
“Mesmo aquela Caatinga localizada em regiões com menos chuva – em torno de 300 milímetros – ocorre o sequestro em torno de 1,5 a 2 toneladas de carbono por hectare por ano. Naquelas localidades mais úmidas, na transição do Agreste, que se chama ecótono do Agreste, a Caatinga sequestrou de forma mais consistente 5,5 toneladas de CO2”, frisou o estudioso, ressaltando ainda como o bioma se destaca em relação a outros no país.
“No Brasil é significativa a contribuição da Caatinga. Esse bioma está entre as maiores representações do mundo em floresta seca. Imagina o impacto para o clima global ter uma vegetação que está sequestrando carbono além de ter um papel importante para programas de conservação da vida silvestre! Dos 3.346 tipos de planta que temos na Caatinga, 526 são endêmicas, ou seja, só ocorrem dentro desse bioma. Isso transforma o espaço em algo extraordinário para a conservação da vida silvestre. Numa segunda etapa da pesquisa fomos tentar responder outra questão: qual é a eficiência desse sequestro de carbono? Será que é menor que o da Amazônia, do Cerrado e do Pantanal? Verificamos, para a nossa surpresa, que a Caatinga é o mais eficiente dos biomas brasileiros para sequestrar carbono”, relatou Aldrin Pérez.
Fonte: Bahia.ba / Foto: Agência Brasil