Exercício em intensidade moderada duas horas e meia por semana pode prevenir enxaqueca

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Pesquisa do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil) analisou o tempo de atividade física, no lazer e no deslocamento para o trabalho, e sua relação com ocorrência e frequência das crises de dor de cabeça

  por Júlio Bernardes – Domingo, 12 de junho de 2022

Aatividade física no lazer com exercícios em intensidade moderada, durante 150 minutos por semana, pode prevenir as dores de cabeça, principalmente a enxaqueca, a que mais prejudica o trabalho no dia a dia. A conclusão é de uma pesquisa feita com os participantes do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil) que, desde 2008, avalia a ocorrência e os riscos de doenças crônicas, como problemas cardiovasculares. Por meio de questionários, o trabalho verificou o tempo de atividade física dos integrantes do Elsa-Brasil e sua relação com a ocorrência e a frequência das crises de dor de cabeça. O estudo é descrito no artigo Physical inactivity and headache disorders: Cross-sectional analysis in the Brazilian Longitudinal Study of Adult Health (ELSA-Brasil) publicado na revista científica Cephalagia.

A dor de cabeça ou cefaleia é uma condição clínica muito frequente em todo o mundo e no Brasil, havendo uma grande prevalência das chamadas cefaleias primárias, que são a dor de cabeça tensional e a enxaqueca”, afirma a médica Alessandra Goulart, do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica do Hospital Universitário (HU) da USP, uma das pesquisadoras que assinam o artigo. “Desde o início do Elsa-Brasil são realizadas pesquisas sobre cefaleias, em especial a enxaqueca. Embora a dor de cabeça tensional ocorra com mais frequência, a enxaqueca, devido à sua maior intensidade, é mais incapacitante, porque prejudica o trabalho e outras ações diárias, seja durante ou depois das crises.”

A pesquisa aplicou o Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ), elaborado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) nos participantes do Elsa-Brasil que reportaram dores de cabeça na primeira onda do estudo, entre 2008 e 2010. Fazem parte do Elsa-Brasil cerca de 15 mil pessoas, 54,4% mulheres. “Nós queríamos saber qual a relação entre as cefaleias e a atividade física, se quem não faz tem mais dor de cabeça ou é o contrário”, aponta a médica. “O questionário permite quantificar a atividade física no tempo de lazer, ou seja, os exercícios programados, que têm maior impacto na saúde, também daquela realizada no deslocamento para o trabalho e em atividades domésticas e, por fim, o tempo que a pessoa passa sentada.”

Embora a dor de cabeça tensional aconteça com mais frequência, a enxaqueca, devido à sua maior intensidade, é mais incapacitante, por prejudicar o trabalho e outras ações diárias, seja durante ou depois das crises – Foto: Reprodução/Freepik

De acordo com Alessandra, as atividades físicas mais estudadas são aquelas realizadas no lazer e no deslocamento para o trabalho. “Na pesquisa, maiores níveis de atividade física apareceram associados a menor ocorrência tanto de cefaleia do tipo tensional quanto de enxaqueca, além de uma menor frequência de crises de dor de cabeça”, relata. “No entanto, o estudo também mostrou que a atividade física realizada no caminho para o trabalho está ligada à maior frequência de cefaleia, especificamente a enxaqueca, em mulheres. Nossa hipótese é de que os poluentes do ar, muito presentes em cidades como São Paulo, possam deflagrar essas dores de cabeça.”

Atividade física

A pesquisa verificou ainda a relação entre as cefaleias e o tempo de atividade física recomendado pela OMS para diminuição de risco cardiovascular, que é de 150 minutos semanais em intensidade moderada ou 75 minutos de forma mais vigorosa, no lazer ou no deslocamento para o trabalho. “Em casos de inatividade, quando a pessoa não se exercita ou não vai trabalhar a pé ou de bicicleta, há maior ocorrência de enxaqueca”, aponta. “Entre pessoas pouco ativas, que se movimentam menos tempo que o critério da OMS, há maior ocorrência tanto de dor de cabeça tensional quanto de enxaqueca.”

Quando o tempo de deslocamento foi avaliado separadamente, a inatividade esteve associada à maior ocorrência de cefaleia tensional em homens, porém à menor ocorrência em mulheres. “É possível que, nesses casos, a atividade física do deslocamento não seja tão benéfica quanto a do lazer”, observa. “Isso também pode ter relação com a hipótese da inadequação do ambiente motivada pela poluição do ar em grandes áreas urbanas.”

Em casos de inatividade, quando a pessoa não se exercita ou não vai para o trabalho a pé ou de bicicleta, há maior ocorrência de enxaqueca; em pessoas pouco ativas, que se movimentam menos tempo que o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), tanto a dor de cabeça tensional quanto a enxaqueca apresentam maior ocorrência – Foto: Reprodução/Freepik

No lazer, a atividade física vigorosa, porém abaixo do tempo recomendado, está relacionada à maior ocorrência de enxaqueca em mulheres. “Nesse caso, é possível que haja influência de fatores hormonais, como, por exemplo, tensão pré-menstrual”, diz. A inatividade esteve associada à maior frequência de ambas as formas de dor de cabeça. “A recomendação do estudo é a realização de exercícios no lazer, com intensidade moderada, 150 minutos por semana, para prevenir e diminuir a frequência e a intensidade das crises de cefaleia.”

O Elsa-Brasil é um estudo de acompanhamento de longo prazo (coorte) que tem o objetivo de investigar na população brasileira a incidência e fatores de risco para doenças crônicas, como as cardiovasculares, entre as quais acidente vascular cerebral (AVC), hipertensão, arteriosclerose, infarto e outras associadas. Iniciado em 2008, o estudo conta com cerca de 15 mil participantes, de várias regiões do Brasil, com idade entre 35 e 74 anos. Eles serão novamente convocados no próximo mês de agosto para entrevistas e exames que identifiquem uma possível evolução dos fatores de risco para essas doenças, consideradas a principal causa de mortalidade no Brasil e no mundo.

Veja, neste link, outras pesquisas realizadas pelo Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil).

Mais informações: email [email protected], com Alessandra Goulart

Fonte: Jornal USP

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