Por Ricardo Thomé *
Mostra fica em cartaz até 21 de junho na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP
Está em cartaz desde o dia 7, no Salão Caramelo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, a exposição Marcos Acayaba – Projetos Ecológicos. Até o dia 21 de junho, o visitante tem acesso a quatro projetos marcantes da carreira do arquiteto, urbanista e professor aposentado da FAU Marcos Acayaba, que no dia 8 passado completou 80 anos. A curadoria é de Eduardo Gasparelo e Tatiana Sakurai.
A exposição: arquitetura ecológica
Em Marcos Acayaba – Projetos Ecológicos, o visitante pode conferir os processos de planejamento e de construção de quatro casas do arquiteto: a Residência Hélio Olga (São Paulo, SP, 1987), a Residência Ricardo Baeta (Guarujá, SP, 1991), a Residência Osmar Valentim (Blumenau, SC, 1993) e a Residência Marcos Acayaba (Guarujá, SP, 1996). Plantas e maquetes se somam às descrições técnicas de cada um dos projetos a fim de traçar um panorama arquitetônico completo da obra de Acayaba. Muitos dos modelos tridimensionais presentes na exposição foram feitos por estudantes da disciplina de graduação Arquitetura e Indústria, que tem o professor como um dos arquitetos-referência para os estudantes, com um enfoque na madeira industrial. Mesmo aposentado, ele participa de algumas atividades nessa e em outras disciplinas da graduação em Arquitetura e Urbanismo da FAU.
O professor e arquiteto Marcos Acayaba – Foto: @marcosacayaba/Instagram
Curadora da exposição, Tatiana Sakurai destaca a engenhosidade de Marcos Acayaba ao conseguir projetar construções em ambientes bastante íngremes, como no caso da Residência Hélio Olga. “Ninguém em sã consciência construiria nesse terreno, tamanha a declividade dele. E aí a solução é tão engenhosa que conseguiu ser montada sem equipamentos especiais, por exemplo. Tudo é dimensionado para que consiga ser transportado e montado pela escala humana. E é muito rápido, porque vem tudo pré-fabricado”, diz Tatiana.
No projeto, Acayaba estruturou a casa de forma ortogonal, isto é, perpendicular. Isso mudou na casa seguinte: com um pouco menos de declive, a Residência Ricardo Baeta segue a lógica dos triângulos e hexágonos, que o arquiteto julgou mais adequada para o contexto. Ele explica que a ideia não veio de primeira: “Eu ensaiei colocar a casa da mesma forma que tinha feito na Residência Hélio Olga. Mas a planta faria com que fossem cortadas umas 20 árvores. Aí me ocorreu utilizar a malha triangular e eu resolvi a casa”. Além de evitar a derrubada das árvores, Acayaba ainda incluiu duas no projeto. “É tudo calculado. Isso foi bom porque permitiu que houvesse um pátio no meio, que é excelente para ventilação. E é ele que trava a casa. Tudo chega pronto para encaixar, não sobra nada e não fica nenhuma caçamba na frente.”
A curadora Tatiana Sakurai – Foto: Museu da Casa Brasileira/Governo do Estado de São Paulo
No que diz respeito à circulação de ar, Tatiana explica que o conforto térmico, aliado à economia de materiais e de energia, faz parte da forma como Acayaba projeta suas casas desde os anos 1980, quando a sustentabilidade não era tão debatida. “Você pode ver em outras casas que ele vai aprimorando o sistema. A casa se integra completamente à natureza, gerando um impacto praticamente nulo.”
Sobre isso, o professor ressalta a importância de se ater a todos os detalhes: “Às vezes não é tão difícil construir, mas tem a manutenção. Preciso pensar em quanto material preciso, de onde ele vem, na energia para a sua produção e para o seu transporte”. A ideia, para ele, é minimizar o consumo de energia levando em consideração a física, a eficiência da obra e a saúde dos operários, que não devem ser colocados em situações de risco: “E por energia podemos falar tanto para o transporte, para a manutenção e para o conforto, como a energia física do operário que vai trabalhar na obra e mesmo do morador, que precisa que a residência seja de fácil acesso”.
Essa concepção, levada como norte em todos os projetos de Marcos Acayaba, é chamada de arquitetura ecológica, e se vê presente, também, nas outras duas casas da exposição. Dentre os elementos presentes nas obras, pode-se destacar o apoio estrutural do protótipo, que serve de base para várias delas. “Nós podemos ver, na Residência Marcos Acayaba (pertencente ao arquiteto), que são pouquíssimos os pontos de contato direto com o solo. Isso também contribui para que não seja necessário derrubar árvores”, aponta Tatiana. O professor completa e revela que a sua casa só pôde ser construída no local onde está porque entre o ano em que ele comprou o terreno, 1986, e o ano de construção da casa, 1996, uma árvore grande caiu e abriu uma clareira na mata: “Foi sorte”.
O projeto como laboratório
Marcos Acayaba não se formou arquiteto com todas as soluções já em mente. Foi por meio do estudo e do aprimoramento de suas ideias que conseguiu estabelecer seu conceito de arquitetura ecológica e desenvolver sua forma de projetar. Para isso, ele admite que as “casas de fim de semana”, como as construídas no Guarujá, foram essenciais: “No geral, é mais simples fazer uma casa de fim de semana do que uma casa urbana porque ela pode ser mais despojada. Então esse projeto pode ser um lugar para o arquiteto experimentar coisas novas. E as melhores para mim são as casas menores, mais simples, em termos de área construída”.
O arquiteto lembra que o professor Luís Antônio Jorge, da FAU, definiu seu trabalho como “pedagógico”, pois aprende-se com as experiências e testam-se coisas novas de forma a desenvolver novos métodos. “Isso é uma coisa que eu aprendi como estudante da FAU: o projeto como pesquisa. Às vezes, experimentando uma coisa nova, você descobre uma coisa nova. É o projeto como laboratório.”
Marcos Acayaba em páginas
A exposição também serviu para promover o livro de Acayaba, Marcos Acayaba, cuja primeira edição foi publicada em 2007, pela Editora Cosac Naify, e a segunda mais recentemente, em 2021, pela Romano Guerra. Embora traga aspectos técnicos de alguns de seus principais projetos, a obra é centrada em crônicas, escritas pelo próprio arquiteto, a respeito de cada uma de suas experiências.
Na última terça-feira (11), ocorreu uma sessão de autógrafos com Marcos Acayaba no Salão Caramelo da FAU. O evento contou com a presença de quatro professores da faculdade que já escreveram sobre o trabalho do professor: Marta Vieira Bogéa, Guilherme Wisnik, Hugo Segawa e Luís Antônio Jorge.
Ao Jornal da USP, Acayaba adianta já ter mais dois livros em produção: o segundo volume de Marcos Acayaba e Arquitetura e Natureza: 23 Casas na Serra do Guararu. “O primeiro volume (de Marcos Acayaba) só vai até 2005. O segundo deve ter tudo o que não entrou no primeiro, como a Residência Valentim, e mais as obras de 2005 para cá”, explica. O segundo lançamento deve ser focado nas obras feitas na região da Serra do Guararu, no Guarujá, como a Residência Baeta e a Residência Marcos Acayaba.
A exposição Marcos Acayaba – Projetos Ecológicos, em homenagem ao professor aposentado Marcos Acayaba, está em cartaz até 21 de junho, no Salão Caramelo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, localizada na Rua do Lago, 876, na Cidade Universitária. Entrada grátis.
Fonte: Jornal da USP / Foto: Marcos Santos/USP Imagens