F1: De fã de Senna a mito, como Lewis Hamilton venceu preconceito e se tornou uma lenda do esporte

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  • Gustavo Faldon – Sexta, 9 de outubro de 2020

Lewis Carl Davidson Hamilton já está na história do esporte como um dos maiores atletas de todos os tempos. Neste fim de semana, no GP de Eifel, em Nurburgring, na Alemanha, ele pode igualar o recorde de Michael Schumacher de 91 vitórias na Fórmula 1, algo que quando o alemão obteve, em 2006, parecia inatingível.

Mas ele não irá só igualar esta marca, é só questão de tempo para superá-la. Mais do que isto, o britânico de 35 anos também se aproxima do sétimo título na categoria máxima do automobilismo, o que o fará também igualar Schumacher, agora como maior campeão.

Quem vê nos últimos anos seu domínio com a Mercedes, tendo o melhor carro do grid disparado e ganhando a maioria das corridas com tranquilidade, pode pensar que é fácil. Mas e o caminho de Hamilton até aqui? Este, certamente, não foi fácil.

O pequeno Lewis

Na infância, Hamilton, nascido em Stevenage, a 30km de Londres, sofria com o bullying na escola. Ele entrou nas aulas de caratê para se defender. Com seis anos, a diversão dele e seu pai, Anthony, que empresariou a carreira do filho até 2010, era corridas de carro de controle remoto.

A paixão pela velocidade só aumentou. E Anthony Hamilton deu ao filho um kart quando ele tinha sete anos. Seu maior ídolo na época? Ayrton Senna.

No começo da carreira, o capacete do britânico tinha as mesmas cores do icônico casco do brasileiro, com a cor amarela predominante. Por diversas vezes, em especial no Grande Prêmio do Brasil, Hamilton colocou as cores do ídolo no seu próprio equipamento de proteção à cabeça.

Hamilton virou uma sensação no kart britânico. E seu pai, Anthony, cobrou apenas uma coisa do filho para que ele continuasse correndo: que se esforçasse nos estudos.

Anthony sacrificou cada gota de suor, tendo até três empregos de uma vez só para sustentar o início de carreira do filho, atuando como seu empresário e mecânico no kart.

E não foram só as corridas que os Hamiltons tiveram que vencer. Eles tiveram que vencer também o preconceito sendo negros em um esporte predominantemente branco.

“Eu já ouvi nomes racistas em direção a mim. A primeira vez que aconteceu, eu fiquei chateado. Eu contei a meus pais e senti que tinha que me vingar deles. Mas eu só ignoro e me vingo deles na pista”, disse um jovem Lewis Hamilton, aos 12 anos, em uma entrevista à BBC.

“Me ligue em nove anos…”

Hamilton começou a se destacar no kart e ganhou notoriedade no cenário britânico. Icônico chefe da McLaren desde os tempos de Senna, Ron Dennis esteve presente em uma corrida. O pequeno Lewis, aos 10 anos de idade, foi pedir um autógrafo.

Dennis deu o autógrafo e escreveu: “Me ligue em nove anos.”

Não foram necessários nove anos. Ron Dennis contratou Lewis Hamilton para o programa de jovens pilots da McLaren aos 13 anos de idade.

O início fulminante na McLaren

Hamilton foi campeão da GP2, categoria de acesso à Fórmula 1, em 2006. E no ano seguinte foi contratado para correr pela McLaren na Fórmula 1.

A estreia de Hamilton significava que a Fórmula 1 estava quebrando um tabu histórico: ele seria o primeiro piloto negro da história da categoria. Mas até hoje ele segue sendo o único.

Ao lado de Hamilton, estaria o então bicampeão Fernando Alonso. E o espanhol sentiu de imediato que o britânico poderia ser uma ameaça a seu talento.

A primeira vitória veio no Canadá, em junho. E o inglês de repente era um dos candidatos ao título. Incomodado com a falta de preferência da equipe, Alonso começou a minar Hamilton de todas as formas possíveis.

No treino classificatório para o GP da Hungria daquele ano, o espanhol ficou parado nos boxes mais tempo do que deveria para impedir mais uma tentativa de volta rápida de Hamilton.

Hamilton teve chances de ganhar o título em seu ano de estreia, algo inédito. Mas falhas individuais nas duas últimas corridas do ano (China e Brasil) tiraram a taça dele, mesmo com 12 pontos de vantagem para Alonso e 17 para Kimi Raikkonen, que se tornaria o campeão, a duas provas do fim.

Alonso não aguentou a relação e deixou a McLaren após apenas um ano, abrindo o caminho para o britânico ser o cara da equipe.

Campeão mais jovem da história

Em 2008, Lewis Hamilton não deixou a chance escapar, mas foi com emoção.

Na última corrida do ano, em Interlagos, em um dia tradicional de tempo paulistano de “chove-não chove”, Felipe Massa cruzou a linha de chegada como campeão do mundo, levando o autódromo ao delírio, mas atrás, na última curva, Hamilton passou Timo Glock e conseguiu o quinto lugar que lhe bastava para o título com um ponto a mais que o brasileiro.

Hamilton, aos 23 anos, se tornava o campeão mais jovem da história da Fórmula 1 na época, recorde que foi quebrado dois anos mais tarde por Sebastian Vettel.

Fim da ‘era McLaren’ e início do maior domínio da F1

Hamilton ficou na McLaren até 2012. Seguiu ganhando corridas e fazendo poles, mas a equipe britânica não conseguiu dar a ele um carro capaz de ser campeão. Em 2013, ele se mudou para a Mercedes, que havia voltado à categoria em 2010 tendo vencido uma corrida até então.

No ano de estreia pela equipe, apenas uma vitória. Mas em 2014, com a mudança de regra para os motores turbo híbridos, deu-se início à era mais dominante de Hamilton na categoria. Bem como a uma nova velha rivalidade.

Ao lado do seu rival desde os tempos de kart, Nico Rosberg, Hamilton e a Mercedes iniciaram uma parceria que segue até hoje como a mais dominante já vista no esporte a motor.

O britânico conseguiu, até hoje, 70 pole positions, 69 vitórias e caminha para seu sexto título pela Mercedes.

Em 2017, no GP do Canadá, quando superou as 65 poles de Ayrton Senna na carreira, ele ganhou uma réplica do capacete de seu ídolo de infância.

Enquanto a parceria com a montadora alemã existir, parece que os recordes de Lewis Hamilton não terão fim.

Mais que um piloto

Um dos maiores atletas da história, Lewis Hamilton nunca escondeu o seu ativismo nas questões sociais.

Mesmo que por vezes seja vetado por parte até da própria Fórmula 1, o piloto nunca deixou de mostrar seu protesto contra o racismo, seja se ajoelhando no hino nacional, erguendo o punho no pódio ou vestindo uma camisa em homenagem à Breonna Taylor.

Hamilton também se posiciona a favor de um futuro sustentável para o meio ambiente, inclusive se mostrado contra a destruição de uma floresta para a construção de um autódromo no Rio de Janeiro.

Seja nas pistas ou fora dela, mesmo os recordes talvez não sejam capazes de mostrar o impacto de Lewis Hamilton.

Fonte: ESPN Brasil

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