Condenado a 14 anos e 6 meses de reclusão por tráfico internacional de drogas, o ex-segundo-sargento Manoel Silva Rodrigues (foto em destaque) recebeu R$ 290,7 mil da Força Aérea Brasileira (FAB) desde que foi preso em junho de 2019, com 37 kg de cocaína, no aeroporto de Sevilha, na Espanha.
Rodrigues foi excluído definitivamente das fileiras da Aeronáutica apenas na última quinta-feira (12/5), quase três anos após ser detido em território espanhol, como mostrou o Metrópoles. Ele fazia parte da comitiva de 21 militares que acompanhava a viagem do presidente Jair Bolsonaro (PL) a Tóquio, no Japão, onde o mandatário participaria da reunião do G20.
Em todo esse tempo, o segundo-sargento seguiu recebendo seu salário normalmente, que variou de R$ 7.298 a R$ 8.109 no período, além de gratificações natalinas – que dobra a remuneração mensal dele uma vez ao ano.
Os dados foram levantados pelo Metrópoles no Portal da Transparência do governo federal. A reportagem considerou o período de julho de 2019 a abril de 2022 (hoje, a plataforma traz dados somente até fevereiro de 2022, mas, para calcular o período de março e abril deste ano, foi considerada a remuneração bruta mensal de R$ 8.109).
A assessoria da FAB tem sido procurada desde sábado (14/5) para esclarecer esses valores, mas não se manifestou. O espaço segue aberto.
Ao anunciar a expulsão de Rodrigues, a Força afirmou que tão logo comunicada a prisão do sargento em Sevilha, “foi instaurado processo administrativo para julgar a conduta praticada, sob o prisma da ética militar”.
“Ressalta-se que o tempo decorrido até a efetiva expulsão do sargento esteve condicionado ao cumprimento dos devidos trâmites administrativos de intimação do militar, que se encontra detido em outro país, desde a sua prisão em flagrante”, acrescentou a corporação, em comunicado.
Rodrigues foi condenado pela Justiça Militar da União, em fevereiro último, a 14 anos e 6 meses de reclusão. Ele também deverá arcar com 1,4 mil dias-multa, fixados em 1/3 do salário-mínimo por dia.
A promotoria militar afirmou que o sargento agiu com muita audácia ao embarcar com a droga na aeronave, sem passar pela pesagem, e pediu uma pena severa. “Não tenho a menor dúvida de que esse é um crime militar, mas praticado num contexto de tráfico internacional”, disse o juiz federal Frederico Magno de Melo Veras, presidente do Conselho Permanente de Justiça (CPJ) da 2ª Auditoria Militar de Brasília (11ª CJM).
Em fevereiro de 2020, o ex-segundo-sargento da FAB já havia sido condenado pela Justiça espanhola a 6 anos e 1 dia de prisão. Além disso, foi sentenciado a pagar multa de 2 milhões de euros.
Investigações
A prisão de Rodrigues desencadeou uma série de ações da Polícia Federal (PF) contra o tráfico internacional de drogas em aviões da FAB.
Em dezembro passado, a PF deflagrou a quinta fase da Operação Quinta Coluna, com o objetivo de aprofundar as investigações relativas à lavagem de dinheiro feita pelo chefe de uma associação criminosa responsável por remeter drogas para a Europa, a partir de aeronaves da Aeronáutica.
Os policiais federais cumprem cinco mandados de busca e apreensão em Brasília e Florianópolis (SC).
Na ocasião, a Justiça Federal também determinou o sequestro e bloqueio de cinco imóveis; uma academia de ginástica; R$ 2 milhões, referentes a um empréstimo realizado pelo investigado; dois veículos de luxo; R$ 1,6 milhão de contas do investigado; e empresas do suspeito.
Fonte: Metrópoles