A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira, de 1996, garante que o ensino é um dos deveres do Estado e deve ser aplicado com base em três princípios, sendo um deles, a “liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber”. Por meio desta liberdade, professores e alunos do Colégio Estadual Integração, em Itabatã, no município de Mucuri, descobriram um potencial artístico e de mobilização social por meio de um projeto educacional do Governo do Estado, o Face.
O Festival Anual da Canção Estudantil – Face é um projeto que promove a educação literária e artística entre professores e alunos e disponível em todas as escolas públicas da rede estadual de ensino. Por meio do festival, os alunos são estimulados a criar canções e apresentações musicais no ambiente escolar e foi assim que o professor de história Rodrigo Amorim e seus alunos Jancarlos e Kawã descobriram uma paixão em comum.
“O Face sempre foi um projeto que gostei muito de assistir. Eu nunca coordenei nas escolas que trabalhei, mas no ano passado pedi remoção para essa escola [Colégio Estadual Integração] e não tinha professor para coordenar. Falei: eu vou coordenar porque gosto muito de música, sempre foi muito envolvido com música, eu trabalho inclusive com rap nas minhas aulas também”, ressaltou Rodrigo.
Segundo o professor, apesar de não ter tido uma grande repercussão, por parte dos alunos, ele incentivou os estudantes na sala de aula e foi nesse momento que a parceria com os jovens começou: “Eu já comecei a ir nas salas falar com os meninos, eu falei vai ter um projeto, que é o Face, vocês precisam compor e precisam apresentar. E a primeira pessoa que veio falar comigo foi o Kawã. Ele falou ‘Eu faço o rap e tal’, ele me mostrou umas músicas, eu falei ‘Caramba, eu também, eu amo rap, minha vida e tal’”, detalhou.
Foi a partir da paixão pelo rap e hip-hop que o professor e os alunos não só avançaram na competição do Face, como se uniram para continuar os ensaios e treinos de canto. “A gente passava muito mais tempo se divertindo, compondo e ensaiando. Nesses ensaios a gente se aproximou muito por conta que ficávamos praticamente um dia inteiro na escola. Quando acabou o projeto, um desses alunos ficou em segundo lugar, e a outra menina, que tá com a gente agora, ganhou, mas não cantou rap. E quando acabou eu falei com eles, ‘Vamos continuar, a gente pode se reunir toda terça-feira aqui de novo. Escreve e fica aqui cantando aqui só para gente poder se divertir’. A ideia era essa”, explica.
Com o aval da direção da escola, o grupo teve acesso a uma sala para que pudessem praticar suas habilidades artísticas algumas vezes por semana no espaço escolar. A partir da vontade de continuar o projeto, o trio se uniu para formar uma produtora, a Mamão Papaia, em parceria com o artista e produtor, Diego Cardoso, o Medina, que concedeu os materiais técnicos para que pudessem produzir músicas em formato profissional. “Ele gostou para caramba e juntou com a gente tipo no primeiro dia”, disse.
Hoje, a produtora funciona apenas com cinco pessoas, incluindo a adição recente da ex-aluna, Ana Júlia. O grupo utiliza as redes sociais para publicar seus lançamentos e interagir com outros artistas locais. Essa interação despertou o interesse de expandir a Mamão Papaia para outras escolas do município. “Eu tive muitos alunos que me procuraram ‘eu quero gravar também’ e eu tenho buscado trazer outras pessoas também. Eu queria muito poder levar o projeto [para outras localidades], mas eu tenho ciência que a gente não tem possibilidade financeira de fazer isso”
Apesar dos empecilhos logísticos e financeiros, para Rodrigo, o crescimento da produtora é a realização de um sonho. Segundo ele, que se tornou professor com o propósito de impulsionar os alunos por meio da educação, a arte é uma forma de expressar e manifestar o potencial dos jovens.
“É uma oportunidade de fazer diferença na vida das pessoas. Tem feito inclusive muita diferença na minha vida e principalmente na vida dos alunos. Sempre busquei, além de ensinar um conteúdo especificamente, fazer diferença na vida dos meus alunos, que são pessoas que muitas vezes têm muitos problemas, muita dificuldade, talvez até maiores do que o normal. É muito surreal a realidade que muitos alunos nossos passam. Então eu acho que esse projeto é uma chama de esperança”, ressaltou.
Este ano, o professor e os alunos pretendem participar de mais uma edição do Face, que ainda não tem data prevista para começar. Para o grupo, o projeto estudantil pode trazer mais visibilidade para a Mamão Papaia, além de oportunizar a chegada de novos alunos na produtora e por meio da arte, desenvolver suas potencialidades.
Fonte: BN / Foto: Arquivo Pessoal