“Fazer samba é respeitar as nossas tradições”, afirma compositor e produtor musical Tiago da Bahia

Bahia Brasil cultura

Sábado, 07/12/2024 – 00h00

Por Bianca Andrade

O samba é o novo pop? Na terra do samba, o gênero nunca perdeu a majestade entre os admiradores fies do ritmo. Mas comercialmente é nítido que o samba voltou a ser atrativo para quem investe na música em busca do retorno financeiro. Afinal, não é à toa o surgimento novos eventos dedicados ao ritmo, além da mudança de estilo de alguns artistas que de repente passaram a se interessar pelo gênero musical.

Nos marcadores digitais, a exemplo do Spotify, o samba e o pagode já dão as caras nas playlists mais ouvidas do ano, porém, ainda é difícil barrar a hegemonia do sertanejo, que aparece na lista com o artista mais ouvido do ano e tem duas playlists mais executadas.

Mas nas ruas, onde o samba sempre foi consumido, longe da tecnologia e dos números em streams, é possível ver que o gênero tem feito sucesso entre a nova geração, que dita a tendência nas redes sociais, e que, também, nunca abandonou o favoritismo entre os mais velhos.

Herdeiro de um dos talentos do samba na Bahia, Tiago Carvalho da Cruz, assina com o Da Bahia, assim como o pai, Chocolate da Bahia. Em entrevista ao Bahia Notícias, o músico falou sobre a nova ascensão do ritmo, que apesar de nunca ter deixado de ser consumido na Bahia, passou a se tornar mais comercial, com a criação de novos eventos.

“Eu percebo um crescimento no interesse do público, principalmente no samba raiz e o samba da Bahia. É algo bom para a gente, que faz música, porque normalmente o pessoal costuma ouvir o samba do Rio, mas ver esse samba feito aqui, da nossa velha guarda, composta por Batatinha, Edil Pacheco, Gal do Beco, Waldir Lima, Nelson Rufino, Chocolate da Bahia, ser exaltado, é lindo demais. São canções que precisam ser resgatadas e passada de geração em geração.”

Foto: Divulgação/ Arquivo Pessoal/ @mochilab.co

A paixão pela música passou de pai para filho, assim como o talento para fazer canção. Especialmente por não ser para qualquer um herdar o dom de Raimundo Nonato da Cruz, ou para quem ouve na rádio e na TV com alguns dos jingles mais marcantes da publicidade baiana, simplesmente Chocolate da Bahia.

Tiago embarcou na área da música como produtor e compositor, e tem registrado no Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad) 67 obras musicais. Até o estilo escolhido para seguir foi o mesmo. 

Apesar de admirar a música como um todo, foi no samba que Tiago se encontrou. Não tinha como ser diferente, se dentro de casa a referência era Chocolate, Edil Pacheco, Batatinha, Nelson Rufino e outros grandes do samba, a fruta não cairia longe do pé.

Para o artista, é necessário que as pessoas deem continuidade ao legado deixado pelos grandes nomes, não só executando as músicas, mas também se inspirando para criar obras tão impactantes como as que já existem, sempre atentos as letras, as mensagens que devem ser passadas com as músicas e o poder social que o samba sempre teve.

Foto: Arquivo Pessoal

“Tenho visto novos nomes, muitas mulheres tendo espaço para finalmente cantar o samba e serem vistas e exaltadas pelos seus trabalhos. É um verdadeiro espetáculo e eu vejo um futuro bonito para esses artistas.”

O bom momento no samba é pontuado por outros artistas e produtores de eventos na capital baiana. Ao Bahia Notícias em novembro deste ano, Samora Lopes, idealizador do Banjo Novo, que também herdou a paixão pelo gênero da família, pontuou a alta nos marcadores digitais como um momento de reflexão e celebração para o ritmo.

“O samba sempre esteve presente da mesma forma de segunda a segunda em Salvador, porém agora, com as redes sociais, ele está tendo uma visibilidade que ele não tinha antes. A gente também está vivendo um bom momento do samba nos streams. O samba, acho que na última semana, bateu o top 1 nos streams, coisa que não tinha acontecido com a música pelo domínio de outros ritmos.”

Por outro lado, o interesse no samba gera uma preocupação. A de que o samba como “o novo pop” seja apenas para extrair financeiramente tudo que o gênero ancestral pode dar por estar na moda. 

Nas redes sociais, ao mesmo tempo, em que o boom no samba tem sido elogiado, tem ligado o alerta para reconhecer quem sempre esteve ali, na linha de frente de toda essa história, como diz o poeta, Jorge Aragão em ‘Moleque Atrevido’, “do tempo do samba sem grana, sem glória”. Tiago segue o mesmo discurso do “vovô”. 

“Eu acho que todo esse movimento é bom para o ritmo, para propagar, mas a gente precisa saber quem é que vai estar em destaque. Acho que tendo o devido respeito, dando o mérito a quem começou tudo isso, não se torna um grande problema. Eu digo o seguinte em uma canção ‘Fazer samba não é só ritmar num tamborim ou sincopar num pandeiro. Fazer samba é respeitar os terreiros e as nossas tradições. Oxalá, meu Deus, transmitir aos filhos teus, filhos meus, nossa verdade’.”

Para o produtor musical, é necessário entender o ritmo e respeitar as origens do samba ao decidir “se jogar” na história. Para se ter uma ideia, a velha guarda baiana sofreu nos últimos anos para manter a celebração ao Dia do Samba na capital, e é desse reconhecimento que quem fez o samba acontecer na Bahia que o gênero precisa para propagar a arte.

 “O samba não é somente a gente fazer aquela batucada, é você ter esse entendimento da origem do samba, dar esse devido valor e respeito. Porque muitas vezes a gente vê o samba agonizando, mas ele não morre, mantém a sua força. Espero que essa turma venha para somar e que o samba permaneça”.

Fonte: Bahia Notícias / Foto: Instagram

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