Feira de Santana em 1977: Transformações urbanas, eventos culturais e dinâmica política em meio ao Regime Militar do Brasil

cidades

No ano de 1977, o Brasil vivia sob o regime militar, mas em Feira de Santana, os poderes locais mantinham suas atividades regulares. No executivo, o prefeito Colbert Martins da Silva (MDB) comandava a administração da cidade, enquanto o legislativo estava sob a liderança do vereador Rubem Carvalho. A Câmara Municipal, composta por quinze vereadores, dividia-se entre os dois partidos existentes: o MDB, que contava com oito membros, e a Arena, com sete. A extensão dos mandatos proporcionou oportunidades para que vários suplentes assumissem temporariamente suas funções, garantindo uma rotação de lideranças ao longo do período.

O judiciário local também desempenhava um papel importante na governança da cidade, com destaque para os juízes Hélio Vicente Lanza e Galileu Lima, que conduziam os principais processos judiciais. O aparato de segurança estava sob a supervisão do tenente-coronel Eugênio Vieira de Melo, que comandava o 35º Batalhão de Infantaria, refletindo a presença militar que marcava o país naquela época.

Debates Urbanos: Indústrias e Transporte Público

Uma das questões que mobilizava o legislativo municipal em 1977 era a situação das indústrias que operavam fora do centro industrial de Feira de Santana. Naquele ano, a câmara criou uma comissão para discutir soluções para o problema, que permanecia sem resolução definitiva, mesmo após anos de debates e propostas. Esse impasse refletia o crescimento desordenado da cidade e as dificuldades enfrentadas pelo poder público em conciliar desenvolvimento econômico com planejamento urbano.

Paralelamente, a prefeitura implementava melhorias no transporte público. Em janeiro daquele ano, a tradicional feira-livre foi transferida para o Centro de Abastecimento, o que motivou a criação da “Linha Circular” para atender às novas demandas de mobilidade urbana.

“A ideia partiu de uma sugestão do prefeito Colbert Martins e foi desenvolvida por técnicos do antigo EPI (Empresa Pública de Incorporação). O chefe da 3ª Ciretran, capitão Antônio Vital, e o secretário de Serviços Urbanos, Eduardo Leal, foram envolvidos nas discussões para adaptar o sistema de trânsito à nova realidade”, explica em artigo o jornalista Adilson Simas.

Expansão Cultural: A Semana da Cultura Italiana e Eventos Locais

Em meio às transformações urbanas, a cultura também ocupava um espaço de destaque em Feira de Santana. A Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) anunciou a realização da primeira Semana da Cultura Italiana, programada para o fim de agosto e início de setembro de 1977. O evento incluía uma série de atividades como a exibição de filmes italianos, palestras sobre literatura, artes plásticas e história, promovendo um rico intercâmbio cultural e valorizando as tradições italianas no contexto local.

Outro evento importante foi o anúncio do Festival de Teatro Amador, que integrava as comemorações do Dia do Fotógrafo, em agosto. O secretário de Turismo, Antônio Miranda, foi responsável pela organização dos eventos e, durante uma reunião com a imprensa, aproveitou para antecipar a presença do Trio Nordestino na Expofeira, um dos principais eventos festivos da cidade, que ocorreria em setembro. Esses eventos culturais reforçavam o caráter dinâmico de Feira de Santana, que se consolidava como um centro regional de cultura e entretenimento.

Cooperativismo e Desenvolvimento Econômico

O cooperativismo também desempenhava um papel fundamental na economia de Feira de Santana em 1977. A Cooperfeira, cooperativa local presidida pelo empresário e pecuarista Wilson Pereira, estava em processo de ampliação de suas operações. A cooperativa pleiteava um empréstimo de 2 milhões de cruzeiros junto ao Banco Nacional de Crédito Cooperativo para a aquisição de ferramentas e insumos, essenciais para o crescimento de suas atividades. A visita de técnicos do banco, liderados por Augusto Paim, refletia o esforço da cidade em buscar recursos para fortalecer a economia local, especialmente no setor agrícola.

Além disso, o rádio amadorismo tinha grande representatividade na cidade. Em agosto daquele ano, o radioamador feirense Márcio Queiroz Oliveira foi eleito para a diretoria seccional da Liga de Amadores Brasileiros de Rádio Emissão (Labre) na Bahia. Márcio, que já havia ocupado cargos públicos importantes, como relações públicas na gestão do prefeito Newton Falcão e no governo do então governador João Durval Carneiro, destacava-se também como filho do advogado e historiador Fernando Pinto de Queiroz. Sua eleição reafirmava a força do rádio amadorismo como ferramenta de comunicação e interação social na época.

Participação Política: Feira no Cenário Nacional

Feira de Santana também participava ativamente de discussões políticas no âmbito nacional. A cidade foi incluída na comissão responsável pela organização do XIV Encontro Nacional de Vereadores, realizado em Salvador, com a abertura no Teatro Castro Alves. A Câmara Municipal de Feira foi representada por Carlos Coelho e Beto Oliveira, que se juntaram a outros políticos de Salvador para debater temas de interesse do legislativo em nível nacional. A participação nesse encontro reafirmava o protagonismo político de Feira de Santana e a inserção da cidade nas principais discussões políticas do país.

Fonte: Jornal Grande Bahia / Foto: ASCOM/ JGB

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *