O estudo mapeou a atuação de coletivos literários em nove estados brasileiros e no Distrito Federal. A análise dos dados está no Caderno da Periferia Brasileira De Letras (Volume 2) , disponível no Portal Fiocruz e no site do MinC
Rede nacional de coletivos literários periféricos coordenada pela Cooperação Social da Presidência da Fiocruz, a Periferia Brasileira de Letras (PBL) lança, nesta quinta-feira (20/3), os resultados da segunda edição da Pesquisa PBL 2024: Coletivos Literários nas Periferias Brasileiras: um retrato. Fruto de parceria entre a Fiocruz e a Secretaria de Formação, Livro e Leitura do Ministério da Cultura (Sefli/MinC), o estudo mapeou a atuação de coletivos literários em nove estados brasileiros e no Distrito Federal. A análise dos dados está no Caderno da Periferia Brasileira De Letras (Volume 2) , disponível no Portal Fiocruz e no site do MinC .

A fase quantitativa da Pesquisa PBL 2024 contou com a participação de 292 coletivos literários dos estados do Amapá, Bahia , Ceará, Minas Gerais, Pará, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo, além do Distrito Federal. A pesquisa teve como objetivo traçar um panorama representativo da realidade dos grupos lítero-culturais no Brasil, especialmente daqueles situados em periferias e comunidades.
Em diferentes momentos de sua realização, o estudo abordou temas como as características desses grupos, o grau de formalização do trabalho realizado, suas áreas de atuação, acesso a recursos financeiros, a relação com o poder público, a atuação em espaços públicos e privados, o acesso às políticas públicas, além dos custos e das necessidades estruturais para a atuação dos coletivos. Os dados foram sistematizados em gráficos gerais e por estado, proporcionando uma visão aprofundada da realidade de coletivos literários periféricos no Brasil.
A pesquisa foi desenvolvida em duas etapas. A primeira etapa foi de natureza qualitativa, por meio de entrevistas, seguida de uma etapa quantitativa com a aplicação de questionários. Segundo o documento síntese, o estudo não se caracteriza como uma pesquisa representativa, ou seja, seus dados dizem respeito apenas aos seus respondentes, não a todo o território dos estados pesquisados.
Ao todo, foram realizadas 112 entrevistas, com base em um roteiro semiestruturado. Após a coleta, foram elaborados relatórios pelos integrantes da PBL para registrar os dados obtidos nesta etapa. Na etapa quantitativa, foi elaborado um questionário com 40 questões em colaboração com os membros da PBL, que foi divulgado entre pessoas e coletivos envolvidos com a literatura, saraus, slams , poesia, rap, rodas de leitura, entre outras vertentes literárias. O questionário online ficou disponível por dois meses, resultando em 292 respostas. Os relatórios da pesquisa qualitativa produzidos pelos coletivos literários e o resultado da pesquisa quantitativa por estado serão divulgados no segundo semestre de 2025.
Destaques da pesquisa
A maior representação foi da Região Nordeste, com 42% das respostas, seguida pelo Sudeste, com 34%. A Região Norte contribuiu com 13% dos preenchimentos, enquanto as regiões Sul e Centro-Oeste registraram 7% e 4%, respectivamente. Quanto ao gênero das iniciativas desenvolvidas, as bibliotecas comunitárias foram maioria (26% das respostas), recitais e saraus poéticos aparecem em segundo lugar (com 21%). Esses são os principais segmentos literários dos coletivos respondentes. Aproximadamente metade dos coletivos respondentes atuam nessas áreas, enquanto os demais apresentam ações heterogêneas, tais como clubes de leitura (9%) e rodas de rima e de slam (9%).
Outro assunto abordado pela pesquisa era sobre as violações que impactam o trabalho dos coletivos. A violação mais citada foi o racismo (32%), seguida da menção à violência urbana (26%) e desemprego (24%). Nas análises feitas pelo grupo, foi considerado que esse último dado pode ter relação com a questão racial no Brasil, uma vez que violência urbana e desemprego atingem majoritariamente a população negra, segundo informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Ministério da Saúde.
Quanto às pautas sociais, 96% dos grupos lítero-culturais se afirmaram engajados em lutas em seus territórios, favorecendo o entendimento de que são agentes de mudanças dentro de seus contextos. Diversas causas foram mapeadas, porém a luta antirracista se destaca na pesquisa, com 64% dos coletivos, salientando dados dos outros gráficos que mostram a centralidade da pauta étnico-racial por parte dos coletivos.
Cultura, cidadania e participação social nas periferias
A partir dos dados coletados, a coordenação do projeto teve o objetivo de ampliar o debate sobre a territorialização de políticas públicas saudáveis no campo do livro e da leitura. Coordenadora da Periferia Brasileira de Letras, Mariane Martins afirma que a nova pesquisa representa um passo importante na geração de dados sobre a produção cultural das favelas e periferias brasileiras. Com o levantamento, o grupo quis caracterizar essas formas de mobilização local e identificar seu papel na construção de territórios saudáveis.
“A nova edição expande o recorte para incluir coletivos literários da região Norte, ampliando a visibilidade do trabalho realizado por esses atores para além da Região Sudeste. Nós esperamos que os dados colaborem para a democratização da leitura e escrita em territórios periféricos, habilidades fundamentais para o exercício da cidadania e para a promoção da saúde”, pontuou Mariane.
Para o secretário de Formação, Livro e Leitura (Sefli) do MinC, Fabiano Piúba, a pesquisa materializa a compreensão de que a cultura, as artes e a literatura não só promovem saúde, mas também cidadania. “São coletivos que se expressam com distintas naturezas, como festivais literários, saraus, slams, rodas de leituras, editoras independentes, bibliotecas comunitárias, museus literários, residências literárias, formados por pessoas que compreendem a cultura e as artes – em especial a literatura – como elementos vitais de transformações de vidas e de realidades, de pessoas e lugares”.
Do ponto de vista da coordenação do projeto, o levantamento também pode servir como instrumento de diálogo das organizações populares com o poder público local, contribuindo para uma maior participação social nesses territórios.
A esse respeito, o também coordenador da PBL Felipe Eugênio esclarece: “A participação social é um dos pilares da Rede PBL, acreditamos que ela é fundamental para o controle social e a territorialização das políticas públicas. Entende-se por territorialização o esforço da sociedade civil de fazer as políticas públicas chegarem aonde é mais preciso: nos territórios socioambientalmente vulnerabilizados”. E finaliza: “com a participação crítica e cidadã da rede PBL, esperamos contribuir com debates e proposições que estimulem o diálogo com o poder público, a ampliação da cidadania e para a redução das desigualdades sociais brasileiras”.
PBL e Cooperação Social da Fiocruz
A Periferia Brasileira de Letras (PBL) é uma iniciativa da Cooperação Social da Presidência da Fiocruz, voltada à promoção de políticas públicas saudáveis em periferias e favelas brasileiras. Atualmente, a rede reúne 14 coletivos literários em 9 estados brasileiros e no Distrito Federal, fortalecendo a governança territorial e a democratização do acesso à cultura.
A Cooperação Social da Fiocruz atua no desenvolvimento de estratégias e programas para reduzir desigualdades e iniquidades sociais em saúde, promovendo articulações entre sociedade civil, academia e poder público.
Serviço
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