Baseado nos conceitos de vigilância popular em saúde e de geração cidadã de dados, o projeto Cria Saúde foi lançado no sábado (26/4). A iniciativa, coordenada pela Fiocruz, visa fomentar agendas promotoras de territórios saudáveis e sustentáveis em seis localidades da cidade do Rio de Janeiro: Complexo do Alemão, Cidade de Deus, Jacarezinho, Manguinhos, Maré e Rio das Pedras. O evento ocorreu na Fiocruz e reuniu moradores e organizações dos territórios abrangidos pelo projeto, representantes da Fiocruz, da Rede de Geração Cidadã de Dados e do parlamento brasileiro.

O Cria Saúde vai formar 200 agentes populares promotores de territórios saudáveis e sustentáveis, ao mesmo tempo em que estimulará e apoiará a constituição de núcleos de vigilância popular em saúde (Foto: Cooperação Social da Fiocruz)
O diretor-executivo da Fiocruz, Juliano Lima, ressaltou a atuação da Fundação no desenvolvimento de atividades e ações no campo da saúde e tecnologia. “Nosso propósito é fortalecer e fazer avançar um sonho do povo brasileiro: construir um Brasil onde a saúde não é um privilégio daqueles que podem pagar. A saúde não é ausência de doença, é algo muito maior”, afirmou Juliano. “Como diz a Constituição em seu artigo 196, o direito à saúde deve ser garantido mediante políticas econômicas e sociais. Para construir um povo saudável nós precisamos de educação, habitação, saneamento, emprego e uma série de outras políticas que favorecem que a população seja saudável”, completou.
Estruturado sob um processo participativo, o projeto Cria Saúde pretende incidir na ampliação da consciência sanitária (ou letramento sanitário) de parte dos moradores dos territórios atendidos, no fortalecimento do capital social local, no estímulo do surgimento de novas redes intra e inter territórios e, ainda, na ampliação do capital de evidências científicas e do saber popular para tomadas de decisão e do advocacy por políticas públicas saudáveis e sustentáveis. Por isso o projeto se aproxima do arcabouço conceitual e metodológico da vigilância popular em saúde e da geração cidadã de dados.
“Partindo de uma perspectiva colaborativa e de cooperação social, o projeto se organizará por meio de um processo educativo dialógico, que se coloca para contribuir na luta pelo direito a existir com saúde nas favelas e periferias urbanas”, afirmou o coordenador do projeto, André Lima. O Cria Saúde vai formar 200 agentes populares promotores de territórios saudáveis e sustentáveis, ao mesmo tempo em que estimulará e apoiará a constituição de núcleos de vigilância popular em saúde de base territorial em diálogo com a geração cidadã de dados.
Para o diretor da Ensp/Fiocruz, Marco Menezes, o território é um espaço de integração das relações sociais fundamental para a construção de alternativas emancipatórias. “Quando falamos de formação crítica, ela só é possível com a integração dos territórios e da sociedade civil organizada. Este projeto valoriza ações institucionais importantes, como o fortalecimento da participação, educação e controle social popular nos termômetros de saúde”, destacou.
Financiado por emenda parlamentar, o projeto, liderado pela Cooperação Social da Fiocruz, integra o Programa Institucional de Territórios Sustentáveis e Saudáveis e está vinculado ao programa Favelas & Periferias pelo Direito à Vida. Conta com a parceria de outras instâncias da Fundação, como a Assessoria de Relações Institucionais, a Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde, a Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) e a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz).
Após a mesa de abertura foi ministrada uma aula inaugural sobre vigilância popular em saúde e geração cidadã de dados com a participação de Maurício Monken, professor e pesquisador da EPSJV, Wanessa Afonso de Andrade, integrante do Coletivo Martha Trindade, Polinho Mota, coordenador de dados do Data Labe e Diego Santos, gerente de Comunicação e Inovação do Instituto Fogo Cruzado. Durante o encontro, foi discutida a importância da participação popular ativa na proposição de ações e soluções em saúde nos territórios, a fim de reforçar a autonomia dos moradores e movimentos sociais.
Encerrando o evento, a cientista social e ex-deputada Mônica Francisco e o historiador e professor de departamento de Serviço Social da PUC-Rio Rafael Soares conduziram uma aula sobre memória e história das favelas. Os palestrantes debateram sobre o histórico de solidariedade nas favelas, destacando a importância da memória como um instrumento de luta contra preconceitos e no fortalecimento do sentimento de pertencimento coletivo.
Fonte: Agência Fio Cruz / Foto: Divulgação