A cotação do barril no mercado internacional já se aproxima de recordes históricos, ao testar o patamar de US$ 140, com risco de buscar níveis ainda mais elevados, como ameaça o governo russo, que sinaliza o produto chegando a US$ 300
(UOL/FOLHAPRESS) – O petróleo em patamares recordes vai bater no bolso dos brasileiros, dizem economistas. Pela política de preços da Petrobras, os preços dos combustíveis vendidos aqui no país devem acompanhar a média da cotação do barril no mercado internacional.
Se a regra estivesse sendo seguida, o litro da gasolina já deveria estar na casa de R$ 9, segundo especialistas. E poderia chegar a R$ 18,22, se o barril chegasse aos US$ 300, como ameaça o governo russo.
Mas especialistas ouvidos pelo UOL afirmam que o governo brasileiro deve buscar formas de absorver a maior parte dessa valorização do petróleo sobre os combustíveis no Brasil para evitar que a inflação ganhe novo impulso e provoque um maior impacto negativo sobre a economia brasileira. Mesmo que isso custe R$ 200 bilhões neste ano, conforme cálculos do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP).
O petróleo já vinha subindo de preço desde o ano passado por causa da retomada da atividade econômica. Agora acelerou a alta com a invasão da Ucrânia pela Rússia e reforçou o ímpeto de valorização após os Estados Unidos anunciarem a suspensão das importações do produto russo.
A cotação do barril no mercado internacional já se aproxima de recordes históricos, ao testar o patamar de US$ 140, com risco de buscar níveis ainda mais elevados, como ameaça o governo russo, que sinaliza o produto chegando a US$ 300.
Por causa da política de preços praticada pela Petrobras, os combustíveis no Brasil têm os custos definidos a partir da cotação do barril no mercado internacional. Assim, a valorização do petróleo lá fora acaba chegando às bombas de gasolina aqui no Brasil, explica o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), Adriano Pires, especialista nos mercados de energia e petróleo.
A política de preços da Petrobras determina os reajustes conforme uma média semanal de preços do barril no mercado internacional. Em tese, os preços mais elevados nas refinarias já deveriam estar valendo.
Mas a Petrobras não reajusta os preços há quase dois meses. Nas contas de economistas, os preços praticados nas refinarias brasileiras já estão entre 40% e 55% defasados ante os valores que deveriam estar valendo se a política de paridade estivesse sendo aplicada.
A pedido o UOL, o economista do Observatório Social da Petrobras (OSP) e do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps), Eric Gil Dantas, fez as contas de quanto um litro de gasolina poderia custar se o barril de petróleo atingir US$ 300 por algumas semanas.
O cálculo utilizou o dado mais atualizado da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), referente à semana encerrada em 4 de março, e considerou uma proporção na gasolina comum de 73% gasolina A + 27% de etanol anidro. Foi usada a média atual do litro de gasolina, vendido a R$ 6,59. Sem mais nada variar, inclusive o ICMS, a gasolina comum iria a R$ 12,13 com o barril a US$ 300.
Mas se o etanol anidro acompanhar o mesmo aumento do petróleo, a gasolina chegaria a R$ 18,22, se o ICMS seguir os reajustes, diz o economista.
“Eu acreditaria mais em um cenário intermediário, em que o etanol anidro não vá acompanhar exatamente o preço da gasolina, mas deve aumentar bastante também”, afirma Eric Gil Dantas,
O item transportes é o que mais pesa no IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), índice oficial de preços no Brasil. Os transportes respondem por 20,8% do indicador.
Segundo André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), a cada 1% de aumento do combustível, o IPCA sobe 0,04 ponto percentual. Se, por exemplo, o combustível aumentar de R$ 7 para R$ 9, o reajuste é de 28,6%, uma variação com potencial de acrescentar 1,14% na inflação.
Mas os impactos não parariam por aí porque o combustível está na base da maior parte das atividades econômicas do Brasil. Cerca de 60% dos transportes no país são rodoviários, em grande parte movidos por combustíveis fósseis.
Assim, quando a gasolina e o diesel sobem de preço, elevam os custos de tudo o que precisa ser transportado, dos alimentos que saem do campo aos produtos industrializados nas cidades.
Segundo André Braz, do Ibre/FGV, mesmo sem os repasses de preços do barril no mercado internacional para os combustíveis comercializados no Brasil, o petróleo mais caro vai impactar a indústria brasileira, como a petroquímica, por exemplo, que produz embalagens plásticas.
O agronegócio também é afetado porque muitos fertilizantes são da indústria petroquímica. É por causa desse cenário, mesmo considerando que a Petrobras segure os repasses da valorização do barril para os combustíveis, que economistas estão revendo para cima as projeções de inflação neste ano.
O economista-chefe do Banco BV, (Banco Votorantim), Roberto Padovani, por exemplo, diz que, se o barril ficar ao redor de US$ 130 e não houver política de subsídio do governo, a Petrobras iria reajustar os combustíveis em cerca de 30% ao longo dos próximos meses.
“Nas nossas contas, a defasagem de preços na Petrobras em relação ao valor do barril está hoje ao redor de 40%. Pelo padrão histórico, a Petrobras tolera trabalhar com uma defasem de 10%. Então, ela precisaria de uma correção de 30%. Só esse evento já eleva o IPCA em 0,8 ponto percentual em 2022. E tem ainda os choques nos preços agrícolas. Então, a gente pode estar falando de uma inflação de 1 a 1,5 ponto percentual maior neste ano, o que seria de cerca de 6,5%, em vez dos 5,3% que a gente estava esperando antes”, afirma Roberto.
Para economistas, faz sentido o governo buscar formas de absorver a maior parte da valorização recente do petróleo porque, do contrário, o impacto sobre a economia seria muito forte, por causa da inflação.
A disparada do preço internacional de petróleo com o aumento da tensão com a guerra da Rússia contra a Ucrânia levou o governo a discutir o congelamento temporário do preço de combustíveis pela Petrobras.
O presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP) e ex-diretor da Petrobras, Eberaldo de Almeida, calcula entre R$ 180 bilhões e R$ 200 bilhões o custo do congelamento de preços dos combustíveis, se a medida durar o ano todo de 2022.
Fonte: Notícias ao Minuto