Por Afa Neto – Sábado, 19 de junho de 2021
“Tem uma geladeira lá em casa que não usamos mais e vou doar para a igreja”, “Levei um monte de roupas para aquele abrigo”. A priori, não há nada de errado com esses gestos. O problema é que podem esconder uma espécie de bondade calculada. Somos generosos com as sobras, com coisas que não mais queremos, que não nos servem mais. No fundo, isso não é generosidade, é descarte.
É assim que temos levado a vida, tanto material, quanto relacional e também espiritual. Da mesma maneira que temos doado as sobras materiais para aqueles que achamos que precisam delas, temos dispensado as sobras afetivas para as pessoas que amamos e nos amam.
Da mesma maneira que doamos bens materiais que não mais nos servem para quem deles têm necessidade, estamos dispensando para o Sagrado as sobras do nosso tempo e da nossa dedicação.
O grande problema é que, enquanto as coisas materiais sobram para alguns, a afetividade e a abertura para o Sagrado nunca sobram em uma vida autocentrada. Então, nunca sobra carinho para quem amamos e que nos amam e nunca sobram tempo e dedicação para Deus.
A solução? Parece-me que já foi apontada e atende por vários nomes, mas o que mais gosto é aquele que o Texto Sagrado usa: Primazia.
Primazia é você começar pelo outro. Antes de pensar em mim, penso em você. Sabe aquelas instruções de segurança em voos? Aquela que manda colocar as máscaras de oxigênio primeiro em você e, só depois, em quem precisa de ajuda? Pois bem, essa lógica não serve para a vida altruísta. Esta, aliás, a única maneira de viver que pode tornar nossa convivência nesse planeta digna e prazeirosa.
Então, vai a sugestão: Troquemos a generosidade da sobra pela prática da primazia.